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Perdas

Pelo menos 7 mil corpos foram enterrados em vala comum; mortos podem chegar a 50 mil

Folhapress

Cerca de 7 mil mortos no Haiti já foram enterrados ontem em uma vala comum, de acordo com informações do próprio presidente do país, René Préval. A Cruz Vermelha já estima que entre 45 mil a 50 mil pessoas morreram no terremoto. É o primeiro número consolidado, desde a tragédia, a partir de observações de campo, realizadas por voluntários da organização em Porto Príncipe, ontem.

"Continua sendo só uma estimativa da Cruz Vermelha. Mas nós acreditamos que seja uma boa estimativa da situação até agora’’, disse Jean-Luc Martinage, porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e Crescente Vermelho. Martinage afirmou ainda que o número está sendo utilizado por autoridades haitianas.

A representante permanente do Programa de Desenvolvimento da ONU (Pnud) no Haiti, Kim Bolduc, disse que o processo de avaliação do estrago e do saldo de mortos está apenas começando. Mas, indagada sobre o número de 100 mil pessoas, base de uma estimativa feita pelo primeiro-ministro haitiano, Jean-Max Bellerive, na quarta-feira, ela garantiu ser uma estimativa coerente.

Desabrigados

A Cruz Vermelha manteve também a estimativa de cerca de 3 milhões de atingidos pelo sismo, entre feridos e desabrigados, ou um terço de toda a população do país. Esse é o número aproximado de pessoas que vivem na região de Porto Príncipe, a capital. A ONG britânica "Save the Children’’ alertou ainda para a possibilidade de até 2 milhões de crianças e adolescentes no país se encontrarem em condição de risco, órfãos e sozinhos.

      Um "pesadelo logístico". É as­­sim que Elisabeth Byrs, porta-voz das Nações Unidas, avalia as dificuldades enfrentadas nas ope­­rações de ajuda humanitária às vítimas do terremoto da última terça-feira no Haiti. Segundo a ONU, não faltam provisões nem efetivo para os trabalhos, vindos de todo o mundo. O problema é localizar as pessoas presas sob os escombros e levar água, comida e remédios aos so­­breviventes.

      Segundo o Programa Ali­­men­­tar Mundial (PAM), agência das Nações Unidas responsável pela ajuda alimentar, os danos à in­­fraestrutura portuária de Porto Príncipe dificultam as entregas por mar para a região da capital.

      O PAM informa que o aeroporto da capital está aberto, mas en­­frenta dificuldades em razão da grande quantidade de voos que chegam com doações e equipes de trabalho.

      O membro da Coordenação e Avaliação de Desastres das Na­­ções Unidas (Undac), Renato Li­­ma, de 47 anos, explica que as dificuldades logísticas são normais no atendimento a catástrofes naturais. "Nas situações desse tipo de desastre é sempre difícil fazer chegar, nos primeiros dias, a ajuda a quem necessita", afirma. "Caem edifícios, pontes e postes, bloqueando as estradas."

      Experiente em missões de atendimento a desastres, Lima afirma que é comum, no início dos trabalhos, a ajuda chegar aonde não precisa – e não chegar aonde é necessária. "Pessoas que precisam de água recebem remédio, quem precisa de remédio recebe comida e assim por diante", conta. "Nesse momento a ne­­cessidade maior é coordenar as informações, enviar (as provisões) a quem precisa daquele tipo específico de ajuda."

      Segundo o professor, o grande desafio é reunir conhecimento, experiência e capacidade operacional, o que exige itens como sistemas de comunicação – e pessoas para operá-los –, meios de transporte e mapamento.

      Caos

      Muitos dos desesperados sobreviventes, que temem novos tremores, ocupam as vias, dificultando o transporte de alimentos e remédios, por exemplo. A Or­­ganização Mundial de Saúde (OMS) informou que houve sé­­rios danos em pelo menos oito hospitais de Por­­to Príncipe, que atrasam o auxílio para milhares de feridos. Vários hospitais ficaram destruídos, mas a organização Médicos Sem Fron­­teiras en­­controu dois em boas condições, onde tem trabalhado.

      "Pela experiência que tenho, em uma situação de desastre extremo a população fica emocionalmente abalada", conta o professor. "As pessoas adquirem um comportamento agressivo pela perda de parentes e propriedades, e por falta de perspectivas de enfrentamento. Em muitas situações vi ser decretado toque de recolher e disputa por alimentos e água."

      Conflitos acirrados

      Para Lima, no Haiti, onde já ha­­via disputas internas, os conflitos podem ficar ainda mais acirrados. "Isso dificulta a ajuda ex­­terna na substituição dos sistemas nacionais de resposta ao desastre, porque os atores internacionais passam a se preocupar com a segurança do próprio pessoal", explica. "Se a segurança não é garantida em todo o país, as áreas inseguras ficam menos assistidas."

      O professor afirma ainda que os boatos e a desinformação causada pela inoperância dos meios de comunicação – televisão destruída, rádio sem bateria e falta de energia para o computador, por exemplo – geram um estresse adicional na sociedade.

      As Nações Unidas comprometeram US$ 10 milhões para ajuda emergencial – somados aos US$ 200 milhões de EUA e Banco Mun­­dial –, enquanto trabalhadores da entidade mundial e soldados da força de paz (os "capacetes azuis") enfrentavam suas próprias perdas. A sede central da ONU no Haiti foi destruída, dei­­xando pelo menos 36 mortos e dezenas de desaparecidos.

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