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O diretor executivo do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, aparece em vídeo transmitido no Palácio Elysee, em Paris, 26 de janeiro, enquanto aguarda uma videoconferência com o presidente da França
O diretor executivo do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, aparece em vídeo transmitido no Palácio Elysee, em Paris, 26 de janeiro, enquanto aguarda uma videoconferência com o presidente da França| Foto: Francois Mori / POOL / AFP

Os líderes do Fórum Econômico Mundial estão buscando implementar uma Grande Reinicialização [Great Reset] do capitalismo, por meio da qual os "grupos de interesse [stakeholders] globais" cooperem para atingir "objetivos comuns".

Com o verdadeiro espírito de não desperdiçar uma crise, eles veem a pandemia de Covid-19 como uma oportunidade única de impulsionar sua agenda.

"O nível de cooperação e ambição que isso implica não tem precedentes. Mas não é um sonho impossível", observou recentemente o presidente executivo do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab. "Na verdade, um aspecto positivo da pandemia é que ela mostrou a rapidez com que podemos fazer mudanças radicais em nosso estilo de vida."

Claro, quando eles dizem "nosso estilo de vida", eles se referem ao estilo de vida de vocês, não ao deles. Seu veículo preferido para atingir seus objetivos são os negócios de outras pessoas.

Em suma, o que eles desejam é que as empresas privadas atendam aos interesses de sua própria lista selecionada de interessados, em vez de (como veem eles) se concentrarem em retornar os lucros aos proprietários de negócios.

Eles querem que os governos aprovem leis e regimes fiscais para persuadir as empresas a atingir esses objetivos. Uma vez que este arranjo ainda envolve um mínimo de propriedade privada dos meios de produção, eles o chamam de "Capitalismo dos grupos de interesse".

É importante reconhecer o uso subversivo da linguagem aqui. Esse sistema trata de marginalizar os verdadeiros grupos de interesse e de minar o capitalismo. Esta é a Novilíngua Orwelliana no seu melhor, uma vez que usa indevidamente a palavra "grupo de interesse" e está na verdade mais próxima do fascismo econômico do que do capitalismo.

"Capitalismo de grupos de interesse" versus os verdadeiros grupos de interesse

Existe uma maneira confiável de saber se uma empresa está atendendo às necessidades das partes interessadas: lucros e prejuízos. Na ausência de qualquer salvamento governamental ou privilégios de monopólio, quanto maior o nível de lucro, maior o grau em que as necessidades das partes interessadas foram equilibradas e atendidas.

Lucro significa que valor foi criado para todas as partes interessadas, transformando recursos em produtos acabados que as pessoas valorizam mais do que os recursos usados para produzi-los. Prejuízos indicam que recursos escassos foram desperdiçados e o valor destruído, gerando produtos acabados que valem menos do que os recursos que foram utilizados neles.

Para agradar os clientes e gerar lucros em um mundo de incertezas, as empresas precisam de uma visão empreendedora para decidir o que produzir e em que quantidades e variedades. Eles também precisam atrair bons funcionários, fornecedores de materiais, uma equipe de gestão e recursos financeiros, tudo em condições favoráveis.

Qualquer falha resultará em prejuízos. Sob esse arranjo – que poderia ser chamado de capitalismo desimpedido – uma empresa não precisa ser informada por algum especialista externo quem são seus "interessados".

O sistema de ganhos e perdas oferece a eles as informações de que precisam e revela quaisquer erros. Como Ludwig von Mises explicou:

Os lucros transferem o controle dos fatores de produção para as mãos daqueles que os estão empregando para a melhor satisfação possível das necessidades mais urgentes dos consumidores, e os prejuízos os retiram do controle dos empresários ineficientes. Em uma economia de mercado não sabotada pelo governo, os donos das propriedades são mandatários [servos] dos consumidores. 

Quando aqueles que procuram modificar o capitalismo falam de "partes interessadas, ou grupos de interesse", frequentemente incluem clientes, funcionários, fornecedores e acionistas em sua lista, para pelo menos dar algum contexto. Mas, invariavelmente, o objetivo desses reformadores é estender a lista para incluir nebulosas entidades coletivas como "sociedades" e "comunidades" ou mesmo grupos de interesse "globais". Uma vez que esses coletivos não podem falar com uma só voz, esses reformadores sociais ficam muito felizes em falar em seu nome e expor as demandas.

Imagine uma pizzaria chamada Joe's Pizza. Ela existe numa sociedade que inclui:

  1. Pessoas que gostam de comer as pizzas do Joe.
  2. Pessoas responsáveis pelo fornecimento das pizzas (em todos os níveis da cadeia de abastecimento).
  3. Todo o resto.

É fácil ver quem são as partes interessadas. O Grupo 1 lucra com pizza, que a prefere ao dinheiro que oferece por ela; O Grupo 2 lucra com a remuneração que eles também preferem. O empresário, sendo o reclamante residual, só lucra se o fizer. Enquanto isso, o Grupo 3 não é afetado, sendo deixado sozinho para fazer outras coisas que ele prefere, em vez de comer ou produzir pizza pelos preços oferecidos.

É possível que exista um quarto grupo:

4. Aqueles que sofrem de efeitos colaterais, como vizinhos que toleram cheiros ruins ou ratos vindos das lixeiras da pizzaria.

Este quarto grupo deve ter o direito legal de obrigar a pizzaria a lidar adequadamente com seus resíduos. Supondo que esse grupo tenha seus direitos de propriedade protegidos (ingressando assim no grupo 3), "a sociedade como um todo" está definitivamente melhor nessa empreitada, já que todas as ações envolvidas foram voluntárias.

As pessoas ou se beneficiaram com a Joe's Pizza ou não ficaram em situação pior. É tarefa dos empreendedores coordenar esse processo socialmente benéfico, e lucros ou prejuízos indicam sucesso ou fracasso.

Ninguém serve "todos os membros da sociedade" diretamente. Ainda assim, todos os membros da sociedade, incluindo o grupo 3, são indiretamente beneficiados por esse processo, mesmo aqueles que não podem pagar pelos produtos da empresa.

Uma atividade altamente lucrativa indica uma necessidade urgente de consumidores que está sendo mal atendida. O processo empreendedor impele outros empreendedores que veem esse sinalizador de lucro a mover recursos adicionais para essa área.

Alternativamente, o relato de prejuízos torna-se um sinalizador para evitar mais destruição de valor, liberando recursos para uma necessidade mais urgente.

Por meio desse processo, os bens de consumo se tornam cada vez mais acessíveis, exaurindo menos recursos no processo, e os esforços produtivos das pessoas se tornam cada vez mais valorizados.

Por que o capitalismo de grupos de interesse é socialmente destrutivo

Quando os reinicializadores globais insistem que "todos" os interessados devem ser representados, o que eles realmente querem dizer é "Eu não como pizza nem ajudo a produzir pizza ... mas O QUE A LOJA DE PIZZA ESTÁ FAZENDO POR MIM?!"

É uma tentativa ousada de substituir os interesses das partes interessadas pelos interesses das partes não interessadas, usando linguagem oculta para confundir os limites.

"A sociedade como um todo" não tem um objetivo unificado e, se tivesse, não haveria maneira de determinar qual ele seria. Portanto, quem tenta colocar a "sociedade" como parte interessada nas atividades das corporações está ansioso por inserir seus próprios objetivos e interesses.

Murray Rothbard expõe bem:

Sempre que alguém começa a falar sobre a "sociedade" sobre os "interesses da sociedade" antes de "meros indivíduos e seus interesses", uma boa regra operacional é: guarde sua carteira. E se proteja! Porque por trás da fachada da "sociedade", há sempre um grupo de exploradores e doutrinários sedentos de poder, prontos para pegar seu dinheiro e ordenar suas ações e sua vida. Pois, de alguma forma, eles "são" a sociedade! 

Uma maneira melhor de entender a sociedade é a soma total de todas as interações voluntárias entre as pessoas individualmente. A atividade voluntária é pró-social, enquanto o uso da força coercitiva é antissocial. Aqueles que querem hifenizar o capitalismo, invariavelmente, preferem o uso da força do governo à interação voluntária.

É importante entender como aqueles que afirmam representar os interesses das partes não interessadas (estendendo a mão para uma parte da ação) estão realmente causando dano social. Se as empresas acabam mascarando seu nível de lucratividade para parecer mais "éticas" e acalmar a multidão, o processo de alinhamento de mercado que indiretamente beneficia a todos é prejudicado. Os recursos que deveriam ser movidos para uma área mal servida de produção não são, pois o "sinal de lucro" foi obscurecido. Em outros lugares, mais recursos são desperdiçados, pois o "sinal de perda" é encoberto por resgates.

"Os críticos podem considerar a eliminação do motivo do lucro o equivalente a dar um coração ao Homem de Lata de Oz; na verdade, é muito mais como se Édipo arrancando os próprios olhos", como disse o professor Steve Horwitz de maneira bastante brilhante.

Como explica um artigo do Wall Street Journal, os lucros e os prejuízos mantêm os líderes corporativos honestos, enquanto a chamada visão dos grupos de interesse permite que eles sejam opacos ou mesmo corruptos. Assim, nossos "grandes reinicializadores", a fim de substituir seus próprios interesses pelos interesses de outros, precisam destruir o sistema de lucros e prejuízos, deixando apenas sua própria vontade respaldada pela força para orientar os esforços produtivos.

Capitalismo de grupos de interesse como fascismo ultramoderno 

Vamos agora voltar nossa atenção para a segunda palavra evasiva em "capitalismo de grupos de interesse". Se você está confuso sobre se o nacional-socialismo (conhecido como nazismo) é realmente uma forma de socialismo, você deve ler este artigo e este e este aqui.

Socialismo significa a abolição da propriedade privada dos meios de produção em favor da mítica "propriedade coletiva", mas a realidade brutal é que se trata de um sistema de controle centralizado e poderoso.

Na mesma linha, "para o fascismo o Estado é absoluto, os indivíduos e as corporações [são] relativos", disse Mussolini. De qualquer forma, os detentores do poder centralizado, controlando a produção, controlam a vida de todos. Eles se tornam a "parte de interesse" solitária em todas as decisões que envolvem recursos materiais.

Como Ludwig von Mises mostrou, sem propriedade privada real não há compra e venda e, portanto, nenhum sistema de preços de mercado, portanto, os planejadores não têm como saber o que as pessoas valorizam. Eles estão voando às cegas, criando o caos no lugar da coordenação econômica. Por seus insights mordazes, mas inevitáveis, Mises teve a honra de ser o inimigo intelectual número um tanto dos nazistas quanto dos soviéticos.

No que Mises chamou de socialismo ao estilo russo, o dono da fábrica de ferramentas levava um tiro ou era mandado ao gulag, para ser substituído por um apparatchik do partido, geralmente sem nenhum histórico na produção de ferramentas. Não apenas não haveria como saber se as ferramentas eram socialmente benéficas, mas você não obteria ferramentas muito boas de qualquer maneira.

Sob o que Mises chamou de socialismo de estilo alemão, o ex-proprietário da fábrica de ferramentas seria deixado nominalmente no comando, mas transformado em um apparatchik do partido, usando tanta pressão coercitiva quanto necessária para forçá-lo a servir aos interesses do Estado. Essa propriedade apenas no nome é por que as pessoas às vezes confundem o nacional-socialismo com o capitalismo, em vez de identificá-lo corretamente como outro caminho para o socialismo. Os recursos são nacionalizados de fato por diferentes meios.

Sob esse sistema, também não há como saber se a produção de ferramentas é socialmente benéfica, uma vez que a fábrica de ferramentas segue ordens do Estado em vez de responder aos consumidores. No entanto, ao reter o conhecimento do passado, as coisas ainda seriam produzidas.

É por isso que a Alemanha foi capaz de produzir aviões em abundância e outras máquinas de guerra na Segunda Guerra Mundial – aproveitando a expertise privada para fins estatais; pela "fusão do poder estatal e corporativo".

Sob o estilo do socialismo alemão, explicou Mises, mesmo antes da eclosão da guerra, os então capitalistas foram reduzidos ao status de "gerentes de loja", e:

Nenhum capitalista alemão ou empresário (gerente de loja) ou qualquer outra pessoa é livre para gastar dinheiro em seu consumo do que o governo considere adequado para sua posição e posição a serviço da nação...Ninguém está livre para comprar mais comida e roupas do que a cota alocada. Os aluguéis estão congelados; mobília e todos os outros bens são inatingíveis… Viagens ao exterior são permitidas apenas para tarefas do governo... As empresas alemãs não são livres para distribuir seus lucros aos acionistas. O montante dos dividendos é estritamente limitado de acordo com uma técnica jurídica altamente complicada... Por muitos anos, as empresas alemãs não conseguiram substituir seu equipamento… A Alemanha em guerra vive de seu estoque de capital, ou seja, do capital nominal e aparentemente possuído por seus capitalistas.

Esta é uma imagem manifesta do "capitalismo dos grupos de interesse". Em graus variados, todos os governos adotam esse tipo de política durante guerras ou pandemias usando o que Robert Higgs chama de efeito catraca. É por isso que grupos como o Fórum Econômico Mundial veem a crise da Covid-19 como uma grande oportunidade.

Não estou sugerindo que Klaus Schwab e sua equipe visem produzir Messerschmitts e gás mostarda. Mas sejam quais forem seus objetivos, se eles fossem socialmente benéficos, então nenhuma força e nenhuma "grande reinicialização" seria necessária para alcançá-los – as pessoas cooperariam voluntariamente para esses fins.

Em contraste, a aparente necessidade de derrubar a cooperação de mercado usando a coerção governamental indica que sua agenda é adequada à elite, em detrimento da sociedade livre.

Um sistema que substitui os objetivos dos verdadeiros interessados pela vontade de ferro das elites dominantes, que mantém a propriedade privada nominal, mas usa a força do governo para pressionar as empresas a servir a objetivos determinados de maneira central, que parece e cheira muito a fascismo econômico.

Mark Hornshaw é professor de Economia, Empreendedorismo e Gestão na Universidade de Notre Dame, Austrália.

©2021 Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês

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