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As ruas de Vientiane são cheias de sinais do consumo excessivo: Hummers, Mercedes e outros carros de luxo | Alexander Steffler/Creative Commons
As ruas de Vientiane são cheias de sinais do consumo excessivo: Hummers, Mercedes e outros carros de luxo| Foto: Alexander Steffler/Creative Commons

Vientiane - Bandeiras com foice e martelo sobre gabinetes do governo no centro de Vientiane. A entrada para o museu nacional é decorada com enormes esculturas glorificando a luta revolucionária dos trabalhadores. Oficialmente, este país pouco povoado, que já foi o foco de uma guerra secreta americana, ainda é comunista – e tem sido assim desde 1975. Porém, hoje em dia, isso depende de a quem você pergunta.

Em junho, o governo de Obama declarou que o Laos, o país que os Estados Unidos tentaram ao máximo evitar que tombasse pelo comunismo durante a Guerra do Vietnã, "deixou de ser um país marxista-leninista". Após declarações similares nas últimas décadas em relação à China e o Vietnã, a Casa Branca fez a afirmação sem alarde, em um memorando que cancelou a proibição de financiamentos a empresas laosianas por parte do Banco de Exportação-Importação dos Estados Unidos.

As ruas de Vientiane são cheias de sinais do consumo excessivo: Hummers, Mercedes e outros carros de luxo. Com a riqueza, veio também o desejo por liberdades ocidentais. Em uma academia no centro da cidade, um grupo de garotas adolescentes passa suas tardes praticando passos de dança que podem envergonhar adolescentes em Los Angeles, quanto mais os membros do Lao Politburo.

O capitalismo está realizando incursões no Laos, mas dominar a ideologia pode exigir certa re-educação. O país deve abrir sua primeira bolsa de valores no próximo ano, um plano que levou jornais locais a publicar uma série de artigos apresentando um glossário de termos capitalistas ("Um mercado de ações é como qualquer outro mercado", dizia um artigo esclarecedor. "Tudo tem um preço").

O discurso oficial do governo é que o Laos é uma democracia de partido único – somente membros do Partido Comunista Revolucionário Popular do Laos podem concorrer às eleições.

"A teoria marxista-leninista é prática e casa perfeitamente com a situação atual no Laos", disse o presidente Choummali Saignason em um discurso para veteranos militares este ano, relatado no jornal Vientiane Times, de língua inglesa. Mesmo assim, alguns representantes do governo são entusiasmadamente empreendedores. Autoridades provinciais motivaram a construção de cassinos lucrativos que satisfazem os desejos de apostadores chineses e tailandeses (cidadãos do Laos não são permitidos). Em Vientiane, o Ministério de Relações Exteriores cobra um milhão de kip, cerca de US$ 129, por uma "taxa de registro" para a visita de jornalistas, e US$ 24 para cada dia de permanência no Laos – quantias altas para este país pobre.

Embora as cidades mostrem sinais de nova riqueza, o Laos é, no geral, muito pobre para ter um governo comunista tradicional capaz de sustentar todo o seu povo. O governo é tão esquelético que os gastos públicos correspondem a apenas 11% da economia do país, segundo dados do Banco Mundial, em comparação a mais que o dobro disso na sede mundial do capitalismo, os Estados Unidos.

Politicamente, o Laos permanece autoritário, e dissidências da linha do partido são proibidas. No entanto, tem havido sinais de uma glasnost, a abertura que Mikhail Gorbachev realizou nos últimos dias da União Soviética.

A Assembleia Nacional, o poder legislativo do país, inaugurou um serviço telefônico há dois anos, motivando cidadãos a ligar para reclamar. Em alguns casos, as queixas eram pesquisadas e veiculadas publicamente. Este ano, o governo aprovou uma lei permitindo que cidadãos formem organizações sem fins lucrativos, uma atitude que destrói o monopólio do Partido Comunista sobre a vida política. "A sociedade civil no Laos ainda é muito imatura no momento, mas está crescendo", disse Viengsamay Srithirath, responsável pela comunicação do escritório do Banco Mundial em Vientiane. "Estamos vendo várias organizações populares emergindo".

Para os Estados Unidos, a decisão de mudar a situação marxista-leninista do Laos pode ser vista como uma coda tardia da Guerra Fria, o esforço do governo americano, há quatro décadas, de evitar que o Laos se tornasse comunista e interditar linhas vietnamitas de abastecimento através do Ho Chi Minh – grande parte dele passa pelo Laos. A guerra, conduzida pela Agência Central de Inteligência e mantida em segredo porque violava a neutralidade do Laos, teve dezenas de milhares de mercenários tribais na folha de pagamentos americana e uma devastadora campanha de bombardeamento.

Os bombardeios acabaram não fechando o Ho Chi Minh, e as forças comunistas do Laos, respaldadas pelo Vietnã e pela China, saíram vitoriosas em 1975.

Ravic Huso, embaixador americano no Laos, afirma que a decisão de mudar o status de marxista-leninista do Laos não era uma afirmação sobre o sistema político do país. "Eles ainda são um estado de um único partido? Sim", disse Huso durante entrevista em seu gabinete. "A legislação não pretendia se referir a isso, mas como a economia era administrada".

O memorando do governo de Obama inclui uma referência à definição do Banco de Exportação-Importação sobre economias marxistas. Ela diz: "Um país ‘marxista-leninista’ significa qualquer país que mantenha uma economia planificada de forma central, com base nos princípios do marxismo-leninismo, ou seja economicamente e militarmente dependente de qualquer país desse tipo". A mudança na política estava sendo preparada há anos, disse Huso. O Camboja foi removido da lista na mesma época. Apenas a Coreia do Norte e a China permanecem, disse ele.

Então, o Laos é comunista?

Southanom Inthavong, chefe do comitê olímpico do país, pós-graduado pelas universidades de Moscou e Minnesota, responde à pergunta com outra pergunta. "A China é o que hoje?"

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