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Henrique Capriles | AFP
Henrique Capriles| Foto: AFP

Em sua primeira entrevista à imprensa escrita na Venezuela após ser escolhido, na semana passada, para enfrentar Hugo Chávez nas eleições presidenciais de outubro, Henrique Capriles enfatizou neste sábado (18) suas diferenças em relação ao atual líder. Ao jornal "El Universal", Capriles definiu o pleito como uma disputa entre passado e futuro; "Davi contra Golias". E reagiu com humor aos desaforos de Chávez. Chamado de "porco", limitou-se a rir e assegurar que "toma banho".

Para analistas políticos, o presidente enfrenta um momento sensível. Foi obrigado a negar uma possível metástase de seu câncer - doença sobre a qual pouco se pronunciou publicamente - e viu Capriles emergir em uma votação que superou todas as expectativas da oposição. Quase 3 milhões de pessoas foram às urnas no último dia 12 eleger seu rival, desde então já apelidado por Chávez de "burguês" e "apátrida", e acusado de representar "o imperialismo e o capitalismo".

"Os insultos são o recurso típico do boxeador esgotado, grande, peso pesado, que está vendo de onde sairá o golpe, para tombar ante um oponente mais ágil e enérgico. É Davi contra Golias", comparou Capriles.

Com 39 anos, o governador de Miranda, segundo estado mais rico e populoso do país, ressaltou que 18 anos - "é uma geração" - separam-no de Chávez, e admitiu ter projetos sociais em comum com o presidente. Mas os programas que fizeram Chávez atingir 80% de aprovação em 2003 teriam sido largados em prol de seu apego ao cargo. Para Capriles, "o único emprego com que o chefe de Estado se preocupa é o dele mesmo", e, por isso, o governo desfrutaria hoje de apenas 48% de popularidade.

Na entrevista, Capriles assegurou que seu estado tem melhor desempenho em programas de saúde, educação, habitação, emprego e segurança do que o governo federal e tentou desvincular sua imagem dos partidos políticos - menos importantes do que a defesa dos interesses do país. E defendeu o uso da palavra "progresso", motor de sua campanha, em vez do "socialismo", bandeira hasteada por Chávez.

"Eles (o governo) usam o termo "socialismo" para transmitir uma imagem de identificação com os pobres, mas o fazem em condutas absolutamente fascistas", acusou. "Podem ser de esquerda, mas de uma esquerda retrógrada, de atraso, de confiscações, de um Estado todo-poderoso. Defendo um caminho de progresso, no qual o Estado é um orientador, um promotor onde a iniciativa privada tem seu espaço e está chamada para contribuir com o progresso".

Para analista, Chávez busca "radicalização"

Mestre em Ciências Políticas da Universidade Central da Venezuela, Carlos Raúl Hernández avaliou, em artigo no jornal "La Verdad", que a tática adotada pelo presidente não o levará a um terceiro mandato: "Buscar o conflito, a divisão e a radicalização o levará à derrota (...) Chávez está em um pântano onde, se confrontado, se afunda. A população cansou dos enfrentamentos".

Capriles, por sua vez, "não fugiu do confronto, mas não deu os termos que desejaria o quadro chavista: lugares comuns, clichês ideológicos, desrespeito, vulgaridade, insulto e violência", segundo o especialista em comunicação política Paul Antillano, também consultado pelo jornal.

O presidente do Instituto Datanálisis, Luís Vicente León, ressaltou que a oposição não buscou um discurso diametralmente oposto ao de Chávez. Em seu lugar, triunfou, nas primárias, uma opção propositiva.

"A proposta radical antichavista teve menos de 5% dos votos", lembrou. "A oposição finalmente tem uma estratégia que se conecta àqueles não alinhados politicamente, que são a maioria e não aceitam as teses de Chávez".

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