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Pequenas manifestações contra o presidente Nicolás Maduro bloquearam ontem as principais avenidas de vários bairros nobres de Caracas, locais em que se concentram os protestos | Jorge Silva/Reuters
Pequenas manifestações contra o presidente Nicolás Maduro bloquearam ontem as principais avenidas de vários bairros nobres de Caracas, locais em que se concentram os protestos| Foto: Jorge Silva/Reuters

Artigo

Maduro deverá esgotar o apoio que ainda tem

Eduardo Saldanha, professor de Direito Internacional da FAE

É bem possível que tenhamos de renomear a revolução bolivariana. Ela está prestes a se consolidar como o período que começou a acabou com o governo Chávez.

O governo de Chávez e o de Maduro têm características em comum, como a concentração de poder e as ações autoritárias. As diferenças entre um e outro são pequenas, mas centrais.

A falta evidente de carisma do sucessor de Chávez e a descrença gerada pela crise econômica aumenta a cada minuto e desvela a incapacidade de Maduro de virar o jogo, mesmo utilizando as mesmas premissas revolucionárias do antecessor.

Nesse momento, o presidente venezuelano ou apela para uma improvável aliança com a oposição – o que seria sua salvação –, ou dá continuidade à conhecida predisposição política repressiva e de cerceamento de liberdades. Caso opte pela segunda, fatalmente pavimentará um caminho para que o povo venezuelano se aproxime cada vez mais dos movimentos de oposição.

A tendência é de que Maduro utilize ao máximo a máquina estatal e o apoio político que ainda tem, até que não lhe reste mais nada e seja obrigado a ceder às pressões da oposição, abrindo caminho para o fim da revolução bolivariana – que ficará conhecida como a breve revolução chavista.

Com base no passado que conhecemos e no presente que percebemos, resta torcer para que Maduro não escolha o caminho da resistência violenta.

Quê?

Os EUA afirmaram ontem não ter recebido nenhuma "notificação oficial" sobre a expulsão dos diplomatas americanos e asseguraram que as acusações do presidente Nicolás Maduro são "infundadas e falsas".

Milímetro

Os estudantes envolvidos nos protestos prometem permanecer nas ruas até a renúncia de Maduro, embora o presidente, de 51 anos, ex-motorista de ônibus, tenha afirmado que não vai ceder sequer "um milímetro" de poder.

Limites

As manifestações em Caracas se limitam às regiões mais ricas da cidade, e não há nenhuma indicação de que os venezuelanos irão unir-se em massa aos protestos, nem que Maduro possa ser forçado a deixar o poder.

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Quarteirões e avenidas cercados, motos com duplas de policiais armados e protegidos por escudos antibalas. Pelas vias, estudantes caminhavam em pequenos grupos, usando camisetas brancas e levando bandeiras da Venezuela. O trânsito no resto da cidade, caótico, como numa segunda-feira normal em Caracas.

"Amanhã [hoje] vai ser um dia decisivo, o governo terá as provas de que não fomos os artífices da confusão e da tragédia", disse Rosana Mendizábal, de 19 anos, moradora do município de Chacao.

A estudante se refere ao conjunto de documentos e evidências que o dirigente opositor Leopoldo López, do partido Vontade Popular, promete levar hoje até o Ministério do Interior, comandando uma passeata.

López é acusado pelo presidente Nicolás Maduro de incitar os atos violentos que levaram à morte de três pessoas (e mais de 20 feridos), na semana passada, durante a série de manifestações de que tem sido palco a capital venezuelana.

Há uma ordem de prisão para López, que o governo acusa de "fascista". Maduro afirmou que, se realmente der as caras diante da manifestação, o opositor será preso diante de todas as câmeras.

A posição confrontadora de López contrasta com a de outro líder da oposição, Henrique Capriles, segundo colocado nas últimas eleições presidenciais. Capriles disse ontem que foi um erro "criar a falsa expectativa" de que as marchas podem derrubar Maduro. Há aí, também, uma disputa de poder entre os principais opositores.

Se a convocação da oposição ganha força no boca a boca, com ares de provocação nas redes sociais, o governo contra-ataca, convocando os "trabalhadores" a prestarem solidariedade. A mensagem é a de que saiam às ruas pacificamente, a partir das 10h (11h30 de Brasília).

A chuva fina que caía sobre Caracas no final do dia, ontem, dispersava os grupos de jovens, que eram vistos caminhando e se abrigando com a bandeira do país.

Presidente venezuelano expulsa diplomatas americanos do país

Folhapress

Maduro oficializou ontem a expulsão de três diplomatas norte-americanos, que estariam envolvidos nos episódios de violência, "infiltrados entre os estudantes". O presidente venezuelano disse que os três vinham sendo observados havia algum tempo. O chanceler, Elías Jaua, deu 48 horas para os americanos deixarem a Venezuela.

Em nota, o Departamento de Estado dos EUA disse que as alegações "são falsas e sem fundamento". Informou, ainda, que não recebera notificação formal da decisão.

"Maduro quer forçar essa ideia de que queremos um golpe de Estado. Só queremos mais segurança, Caracas está cada vez mais perigosa", diz Ignacio Ortega, comerciante, que seguia um dos grupos de estudantes.

A economia venezuelana deteriorou-se muito; a inflação chegou a 56%, e faltam alimentos nos supermercados. Enquanto isso, os países do Mercosul emitiram ontem uma nota respaldando Maduro e condenando "os atos recentes de violência", além das "tentativas de desestabilizar a ordem democrática".

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