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O ditador da China, Xi Jinping
O ditador da China, Xi Jinping| Foto: Wikimedia Commons

Nos últimos anos, a China intensificou sua repressão contra dissidentes políticos, críticos do regime comunista e até mesmo religiosos.

O regime chinês tem colocado em prática também um purgo dentro do próprio Partido Comunista da China (PCCh), onde o ditador Xi Jinping tem fortalecido cada vez mais o seu poder.

A perseguição contra dissidentes e críticos, no entanto, não ocorre somente dentro das fronteiras do país asiático. O regime de Xi tem recorrido também a métodos clandestinos para manter os seus opositores sob controle no exterior.

Segundo a especialista em segurança Vanda Felbab-Brown, a China tem contado com a colaboração dos cartéis mexicanos para silenciar e coletar informações de dissidentes que residem fora do país.

Conforme explicou Felbab-Brown em uma audiência do subcomitê de Segurança Nacional do Congresso dos EUA, as ligações entre as organizações criminosas mexicanas e grupos chineses influentes se tornaram cada vez mais próximas e significativas nos últimos anos.

Felbab-Brown afirma que as negociações e a aproximação entre grupos influentes dentro da política do gigante asiático e os cartéis mexicanos têm ocorrido por meio de empresas de fachada e pelo tráfico de fentanil.

Essas negociações também recebem o apoio de grupos criminosos chineses, que muitas vezes contam com a anuência do regime comunista, para acertar com os cartéis mexicanos serviços que visam facilitar negócios chineses no exterior, como a construção de redes de influência política para a China em território estrangeiro e a coleta informal de informações dos opositores e dissidentes políticos que estão exilados.

Segundo a Administração de Repressão às Drogas dos EUA (DEA, na sigla em inglês), China e México são atualmente as principais fontes do fentanil que é traficado diretamente para os EUA por meio dos cartéis de Sinaloa e Jalisco Nova Geração.

Por causa disso, autoridades dos Estados Unidos anunciaram nesta terça-feira (3) acusações e sanções contra empresas e 12 executivos chineses, alegando o envolvimento deles no fornecimento de produtos químicos utilizados pelos cartéis mexicanos na produção de fentanil.

As medidas foram apresentadas pelo Departamento de Justiça dos EUA, em meio à crise de opioides do país. As sanções e acusações visam dezenas de empresas e indivíduos chineses, acusados de participar do comércio ilegal da droga altamente viciante.

O procurador-geral dos EUA, Merrick Garland, afirmou que as autoridades norte-americanas têm conhecimento da cadeia de abastecimento global de fentanil, apontando empresas químicas na China como ponto de partida dos insumos para a fabricação da droga.

As sanções atingem empresas e executivos chineses envolvidos na publicidade, fabricação e distribuição de precursores químicos de opiáceos sintéticos da China. Tais medidas são consideradas como o mais recente esforço dos EUA para tentar conter a crise de overdose por fentanil no país, que é descrita como a mais mortal da história americana.

A situação reflete a complexidade das relações internacionais no combate ao tráfico de substâncias ilícitas e destaca os esforços dos EUA para responsabilizar os envolvidos na cadeia de produção e distribuição do fentanil.

A resposta da China às acusações norte-americanas foi de forte condenação. O porta-voz da embaixada chinesa em Washington, Liu Pengyu, afirmou que o regime chinês mantém uma posição firme no combate às drogas e acusou os EUA de "fazerem de bode expiatório" a China, minando a “cooperação antidrogas que existe entre os dois países”.

Outros métodos

Os métodos chineses de perseguição a dissidentes em outros países vão além dos serviços prestados pelos cartéis mexicanos. Segundo informações do cartunista e ativista chinês Badiucao, os chineses também utilizam perfis falsos para vigiar e coletar informações de dissidentes que vivem no exterior.

Em março deste ano, Badiucao, que vive exilado na Austrália, revelou que impostores estavam se passando por jornalistas da Agência Reuters para conseguir ter acesso a opositores do regime chinês que participaram de manifestações contra o ditador Xi Jinping.

Os impostores assumiram as identidades das jornalistas Brenda Goh e Jessie Pang, e utilizavam o aplicativo de mensagens Telegram e a rede social Instagram para se comunicar e coletar informações dos dissidentes que eram alvos da perseguição do regime chinês.

Segundo Badiucao, ele e outros indivíduos próximos receberam mensagens em suas redes sociais de contas que afirmavam pertencer a Jessie Pang, correspondente da Reuters em Hong Kong, solicitando informações sobre o Citizens Daily, um veículo de comunicação independente que foi amplamente utilizado por manifestantes chineses.

Para dar credibilidade ao esquema, o perfil falso de Jessie Pang, por exemplo, compartilhava informações sobre a formação da jornalista, publicações recentes e até mesmo a foto de sua credencial, a qual já havia expirado, conforme informações de Badiucao.

A descoberta da farsa ocorreu quando o cartunista pediu para que a suposta jornalista realizasse alguma forma de verificação através de sua conta oficial no Twitter, solicitação que foi negada pelo impostor no comando do perfil com a justificativa de que o mesmo era “administrado pela Reuters”. Um procedimento semelhante foi realizado com a jornalista Brenda Goh para poder confirmar a suspeita. O regime chinês nunca comentou o caso.

Sob anonimato, um administrador do Citizens Daily afirmou que suspeitava que autoridades do regime comunista da China estavam envolvidos na iniciativa.

Em 2022, o Departamento de Justiça dos EUA indiciou um ex-agente do país e um outro homem que ainda fazia parte do Departamento de Segurança Interna americano por seus envolvimentos em um complô do regime chinês para silenciar críticos da China que estavam exilados em território americano.

Segundo as autoridades, os agentes estavam colaborando em um esquema de "repressão transnacional”, “visando intimidar, desacreditar e espionar” residentes chineses e norte-americanos que exerciam sua liberdade de expressão para criticar o regime de Xi Jinping.

As vítimas desse esquema abrangem desde um escultor chinês que vive atualmente na Califórnia até um veterano sino-americano do Exército que concorria a um cargo no Congresso por Nova York. Essa foi a primeira vez que a China teria recrutado agentes federais dos EUA para apoiar seus esforços de repressão contra dissidentes que vivem fora do país, sinalizando uma audácia crescente de Pequim em interferir nos assuntos internos de outros países.

O termo "repressão transnacional” refere-se aos esforços de regimes autoritários, como o da China, para atingir críticos além de suas fronteiras. Isso engloba desde assédio online, como denunciado pelo cartunista Badiucao, intimidações e até agressões físicas. Nos casos mais extremos, as perseguições terminam em assassinatos.

Segundo um relatório divulgado em 2022 pela ONG Freedom House, de 2014 a 2021 foram documentados cerca de 735 casos de repressão transnacional em todo o mundo, sendo a China responsável por mais de 30% desses casos, o que qualifica o regime comunista chinês como o principal perpetrador global de ações desse tipo.

De acordo com informações da Al Jazeera, no final de 2022, a ONG Safeguard Defenders, sediada na Espanha, expôs a existência de mais de 100 delegacias chinesas de polícia estabelecidas fora do país asiático.

Essas delegacias, conforme a ONG, estão dispersas por diversos países ao redor do mundo, operando em sua maioria de maneira clandestina e à margem do conhecimento público. A Safeguard Defenders destaca que tais instalações foram criadas com o claro propósito de perseguir dissidentes chineses, ativistas de Hong Kong, tibetanos e até mesmo os uigures.

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