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Chávez convocou seus eleitores no microblog Twitter, dizendo: “Ataquem!” | Jorge Silva / Reuters
Chávez convocou seus eleitores no microblog Twitter, dizendo: “Ataquem!”| Foto: Jorge Silva / Reuters

Vizinhança

"Bons ventos" sopram no Brasil, diz líder venezuelano

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou ontem que "sopram bons ventos" no Brasil, a uma semana das eleições presidenciais no país. "Vai bem a coisa no Brasil", afirmou o líder venezuelano. "Bons ventos sopram no Brasil e faltam apenas alguns dias", prosseguiu Chávez em resposta dada a pergunta de um jornalista sobre a situação política brasileira.

"Aqui na América do Sul acenderam-se as luzes da esperança e não vamos permitir que se apaguem, por mais impérios, por mais ameaças e por mais lacaios que existam em todos esses povos", declarou.

Chávez comentou ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem popularidade em torno dos 80% e disse que "quem vai chegar igualzinho, com 80%, continuará governando o Brasil pelo mesmo caminho, o da libertação de nosso povo".

Criminalidade em alta

Para a maioria dos venezuelanos, a disputa entre socialismo e democracia diz muito pouco. A principal preocupação é com índices crescentes de violência, principalmente nas grandes cidades. Mais de 60% da população do país, segundo pesquisas, considera a segurança pública como o maior desafio a ser enfrentado pelos novos deputados, eleitos ontem.

Dados oficiais mostram um paradoxo na capital, Caracas: enquanto a taxa de pobreza caiu, em dez anos, de 60% para 23%, o índice de violência atingiu 127 homicídios por 100 mil habitantes.

Em todo o país foram mais de 19 mil assassinatos em 2009, o que transforma a Venezuela no país mais violento da região. "As estatísticas não mentem. Na Venezuela se assassina uma pessoa a cada 30 minutos, e se sequestra cinco a cada dia. Mais de 5 milhões de armas de fogo são ilegais. O que mais preocupa é que 92% dos delitos no país ficam impunes", diz Fermín Mármol, participante do fórum "Venezuela 2010: alternativa frente a insegurança".

Alguns meios de comunicação exageram ao tratar do tema, o que abre caminho para contestações do governo. "Caracas é uma cidade sangrenta. De seus imóveis correm rios de sangue, de suas montanhas correm rios de sangue, de suas casas correm rios de sangue", publicou o El País, principal jornal da Espanha.

Exageros à parte, a realidade é que o tema segurança pública dominou parte dos debates da campanha eleitoral. Todos os candidatos apresentaram em suas plataformas o combate à violência como foco. "Há que reconhecer que temos um problema sério", admite Tulio Jiménez, presidente da comissão de política interior da Assembleia Nacional.

Passado o embate eleitoral, o desafio na nova Assembleia é propor e aprovar soluções de controle da criminalidade. A fórmula do governo, com missões, a polícia bolivariana e a atuação de líderes comunitários, tem conseguido avanços pontuais. Em alguns bairros com altos índices de delinquência, como o 23 de Enero, em Caracas, menos pessoas estão morrendo ultimamente. Mas a política chavista já demonstrou que está longe de resolver problema. A sensação de insegurança em Caracas pode ser comparada à do Rio de Janeiro e São Paulo.

Caracas - Em meio ao comparecimento massivo dos venezuelanos para votar nas eleições legislativas de ontem, governo e oposição procuraram desfazer boatos de que havia movimentação, dos dois lados, no sentido de não reconhecer o resultado do pleito.

O presidente Hugo Chávez fez um discurso de cerca de meia hora após votar no bairro 23 de Enero, reduto governista na periferia de Caracas. "O sistema eleitoral da Venezuela é o mais eficiente e transparente do mundo", disse o presidente ao alegar que no passado partidos de direita "ganhavam e roubavam indiscriminadamente o voto da esquerda".

Um dos principais líderes da Mesa da Unidade Democrática (MUD), Ismael García, candidato a uma vaga na Assembleia Nacional, disse que jamais a oposição cogitou em não reconhecer as eleições. "Pedimos respeito ao pleito. Pedimos o fim do uso de aviões do governo, de recursos da PDVSA (a petroleira estatal) e das agressões e violências", criticou o oposicionista. Segundo García, vários líderes da oposição foram agredidos por chavistas quando foram votar.

Tanto os líderes do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) como representantes da MUD, que reúne a oposição, fizeram convocações durante todo o dia para que os eleitores saíssem de casa para votar.

"Que todos venham votar que seu voto vai ser respeitado", disse Chávez, alegando que o convite valia também para os opositores.

"Conclamamos a todos a sair de casa e participar desse momento de reafirmação da democracia na Venezuela", apelou María Corina, uma das candidatas da oposição com maiores chances de eleição em Caracas.

As previsões mais otimistas estimavam em 70% o comparecimento às urnas. É um porcentual elevado, considerando que o voto não é obrigatório no país. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) estimou em 65%. Aproxima­damente 17,5 milhões de venezuelanos estavam aptos a votar.

Até o fechamento desta edição, os resultados ainda não eram conhecidos. Muitas sessões de votação ficaram abertas após as 18 horas para atender aos eleitores que aguardavam nas filas.

Durante todo o domingo os eleitores enfrentaram o calor e as filas para votar em Caracas e outras cidades. Falhas na instalação de mesas de votações causaram atrasos de até três horas em alguns centros, mas foram corrigidas. A Justiça Eleitoral e os órgãos de segurança não registraram incidentes graves no processo eleitoral.

Nas eleições de ontem seriam escolhidos 165 deputados da Assembleia Nacional. Os eleitos assumirão em janeiro de 2012 e terão um mandato de cinco anos. Também seriam eleitos 12 representantes do país no Parlamento Latino-americano (Parlatino).

Pesquisas independentes davam como certo que o PSUV perderia a maioria qualificada da Assembleia. A previsão dos institutos era de 50% a 54% dos votos para o governo, o que seria uma vitória apertada. Na quinta-feira, no encerramento da campanha eleitoral, Chávez pediu vitória por nocaute. "Pelo menos 3 por 1", disparou o socialista.

A oposição almeja eleger 70 parlamentares, o suficiente para barrar projetos do governo no Legislativo. Para o diretor do instituto de pesquisa Datanálisis, Luis Vicente León, a decisão estava nas mãos dos 37% de indecisos, que poderiam mudar a balança eleitoral.

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