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O presidente Hugo Chávez em campanha pelo "sim": para ele e para seus apoiadores, não  há ninguém que possa substituí-lo | Jorge Silva/Reuters
O presidente Hugo Chávez em campanha pelo "sim": para ele e para seus apoiadores, não há ninguém que possa substituí-lo| Foto: Jorge Silva/Reuters
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O que faz um militar de 54 anos ser indispensável para um país? Para a maioria dos venezuelanos, a permanência de Hugo Rafael Chávez Frías no cargo que ocupa há dez anos, o de presidente, simboliza uma vida melhor. E por isso pode dar-lhe vitória neste domingo no referendo popular que permite reeleição ilimitada.

O segredo pode estar no que ele representa. O "Comandante" é um ex-campeão de beisebol que já escreveu contos e peças de teatro. Também encarna o ideal de amante latino. Livre e aventureiro, foi casado duas vezes. Hoje se declara interessado somente na pátria, mas faz o tipo conquistador. Em muitas das 300 edições do programa de rádio "Alô, presidente!", cantou rancheiras e boleros românticos, para o encanto da vasta audiência feminina.

Nos programas ele também fala muito dos quatro filhos – a quem, de acordo com a ex-mulher Marisabel Rodríguez, não paga a devida pensão.

O porta-voz autodeclarado da América Latina tem ainda ações de encantamento global. Em sua determinação de destacar a Venezuela no mapa-múndi com o vermelho brilhante, Chávez provocou vários governantes, de George W. Bush, que chamou de diabo em conferência da ONU, ao rei da Espanha, que lhe respondeu com o agora famoso "por que não te calas?".

O estilo fez escola na América Latina. Os presidentes da Bolívia e do Equador pagaram o apoio chavista nas suas eleições internas seguindo à risca a cartilha caudilhista. Mandaram embora o embaixador dos EUA, nacionalizaram empresas e se aproximaram do Irã após este ter sido incluído no "eixo do mal" pelos norte-americanos.

A pose de militar de Chávez foi obtida com a graduação em Ciências e Artes Militares, ramo em que ele chegou ao posto de tenente-coronel antes de uma frustrada tentativa de golpe de estado em 1992. Passou dois anos preso, se fortaleceu e voltou pelo caminho das urnas.

Logo que chegou ao poder, instaurou uma Constituição que introduziu maior participação dos cidadãos. Criou referendos populares e introduziu a ideia de lideranças microrregionais, com a criação de comitês de saúde, terra e água.

Quando Chávez completou dez anos no poder, no início do mês, analistas destacaram a transformação social ocorrida na Venezuela, já que índices como distribuição de renda e desenvolvimento humano foram melhorados, e caiu o desemprego e a pobreza extrema.

"A Venezuela mudou muito nos últimos dez anos, mas os maiores avanços se fizeram durante a primeira metade do governo de Chávez", diz a historiadora venezuelana da Universidade Central da Venezuela Margarita López-Maya. Foi nesse período que o líder invocou a "bênção" do herói da independência latino-americana Simón Bolivar. Criou-se então o termo "socialismo do século 21". Chávez ainda mudou o nome do país para República Bolivariana da Venezuela.

"Vínhamos de governos ineficientes e insensíveis, implementando políticas que empobreciam a população. O primeiro governo de Chávez realmente enfocou a questão da injustiça social para corrigir desigualdades", diz López-Maya.

Isso até o golpe de estado que o tirou do poder por dois dias, em 2002. A traição de setores antes ligados ao presidente tem o efeito de um divisor de águas no governo de Chávez.

"Quando chega o momento em que o movimento chavista vê a necessidade de preparar um sucessor, Chávez age como um Titã sobre os deuses do Olimpo. Ele come seus filhos", diz o historiador da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Daniel Santiago Chaves. "Ele não permite que ninguém chegue perto do poder, não confia em ninguém."

O autoritarismo foi aprovado nas urnas por duas vezes, em referendo revogatório vencido em 2004 e nas novas eleições de 2006. Mas perdeu o referendo constitucional de 2007, sua primeira tentativa de instituir a reeleição ilimitada.

As pesquisas indicam que o encantador da Venezuela vencerá, o que dificultaria bastante a situação da oposição para as eleições de 2012. "A oposição ainda se mostra bastante fragmentada, sem candidatos de qualidade ao chavismo, que controla a máquina de poder e até poderia ter algum nome que não Chávez", diz o professor de Relações Internacionais da USP, o venezuelano Rafael Villa.

Chávez não concorda: "Não há espaço para nenhum projeto na Venezuela que não o bolivariano", disse durante campanha. Seus aliados poderiam complementar: e não cabe nenhum outro líder que não seja Hugo Chávez.

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