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Em desastres os processos naturais são responsáveis por metade das consequências. A outra me­­tade depende de como nos preparamos antes e de como enfrentamos o problema quando ocorre.

Eventos naturais não são comparáveis diretamente, pois envolvem situações geológicas distintas com características particulares. Entretanto, é possível comentar similaridades e diferenças relativas entre episódios que afetaram realidades sócio-econômico-ambientais bastante distintas como Haiti e Chile.

As similaridades são óbvias: os dois países foram afetados pelo mesmo tipo de processo pe­­rigoso, sismos poderosos que alcançaram a superfície com elevado poder destrutivo. O sismo chileno liberou muito mais ener­­gia com magnitude 8,5 ou 8,8 na escala Richter, enquanto no Hai­­ti a magnitude foi 7,0. No Haiti, a profundidade do centro foi menor, e no Chile a extensão da ruptura na falha foi maior. As avaliações preliminares são de que os efeitos na superfície fo­­ram igualmente poderosos, al­­cançando intensidade na escala Mercalli igual ou superior a X (a escala vai de I a XII, em algarismos romanos).

Os efeitos para a sociedade não são comparáveis. No Haiti o número de vítimas fatais foi estabelecido como 217.366, enquanto no Chile provavelmente será quarenta vezes menor. No Chile muitas construções são planejadas para resistir a sismos, en­­quanto no Haiti não foram construídas para enfrentar terremotos, sendo mais adequadas para resistir a furacões.

Outra diferença está na defesa civil, que no Chile é um sistema robusto, com liderança preparada e instrumentos para gestão de grandes desastres, além de buscar o envolvimento da população em treinamento. No Haiti o sistema é frágil e tem pouco en­­volvimento da população na preparação.

Por último, acredito que a sociedade chilena vá sentir mais impacto com o evento, talvez porque os nascidos no Haiti já es­­tão acostumados a dificuldades para sobreviver. Por seu lado, os chilenos falam na reconstrução com muita ênfase e como tarefa sua, sem esperar que o seu destino seja discutido por outros.

Resumindo, em desastres os processos naturais são responsáveis por metade das consequências. A outra metade depende de como nos preparamos antes e de como enfrentamos o problema quando ocorre.

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Renato Lima é geólogo e diretor do Centrode Apoio Científico em Desastres da UFPR.

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