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Grace Hongwei conversa co jornalistas sobre o desaparecimento de seu marido. Meg Hongwei | JEFF PACHOUDAFP
Grace Hongwei conversa co jornalistas sobre o desaparecimento de seu marido. Meg Hongwei| Foto: JEFF PACHOUDAFP

O governo chinês está investigando o ex-presidente da Interpol Meng Hongwei, que foi tido como desaparecido, por suborno e outros crimes, informou Pequim nesta segunda-feira, em nota. O ex-chefe da organização renunciou ao cargo no domingo, depois que o governo anunciou a investigação, disse a Interpol. Meng, de 64 anos, também foi vice-ministro de Segurança Pública e pode estar em apuros não só por corrupção, mas também por transgressões políticas. 

Poucos detalhes foram fornecidos sobre as alegações feitas contra ele ou se os supostos crimes envolveriam sua atuação na Interpol. 

Meng foi detido por uma agência anticorrupção do Partido Comunista Chinês (PCC), pouco depois de desembarcar em Pequim, vindo da cidade francesa de Lyon, onde fica a sede da Interpol. Seu desaparecimento foi noticiado na sexta-feira quando sua mulher, Grace Meng, informou que não tinha notícias do marido desde o dia 28. 

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No domingo, Grace pediu ajuda para trazer seu marido de volta à França em segurança. Ela disse ter achado que Meng havia enviado a imagem de uma faca antes de desaparecer na China, como uma forma de avisar que estava em perigo. 

Jornalista mostra celular de Grace Hongwei mostrando a última mensagem enviada a ela por seu marido, o ex-presidente da InterpolJEFF PACHOUD/AFP

"De agora em diante, eu passei da tristeza e do medo para a busca da verdade, justiça e responsabilidade. Pelo marido que amo profundamente, pelos meus filhos pequenos, pelas pessoas da minha terra natal, por todas as esposas e filhos, para que seus maridos e pais não desapareçam mais" acrescentou. 

O caso de Meng é apenas o mais recente de uma série de detenções e repressão a funcionários de alto escalão realizada pelo PCC, sob a justificativa de combate à corrupção e deslealdade ao partido. 

Combate à corrupção 

Na coletiva regular do Ministério das Relações Exteriores da China nesta segunda, o caso de Meng dominou as perguntas dos repórteres. O porta-voz do ministério, Lu Kang, rejeitou a sugestão de que a ação da China ao processar Meng prejudicaria a imagem do país no exterior. 

Para Lu, o caso demonstra o compromisso de Pequim no combate ao suborno. "Isso mostrou a firme determinação do governo chinês para reprimir a corrupção e o crime", declarou. 

O porta-voz reiterou a luta do PCC contra a corrupção, ressaltando que qualquer um será punido caso viole a lei. No entanto, Lu não respondeu diretamente se Meng será preso formalmente, autorizado a contratar um advogado ou ainda receber uma visita de sua mulher. 

A declaração do governo chinês nesta segunda não forneceu detalhes sobre os subornos que Meng teria recebido ou sobre os outros crimes dos quais é acusado, mas o texto sugeriu que ele também é investigado por questões políticas. 

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O comunicado indicou que Meng, um membro do Partido Comunista, pode ter sido influenciado pelo ex-chefe de segurança e ex-membro do comitê permanente do Politburo Zhou Yongkang, que atualmente cumpre uma sentença de prisão perpétua por corrupção. 

"Devemos nos opor resolutamente à corrupção e eliminar resolutamente a influência perniciosa de Zhou Yongkang", disse o comunicado. Os vários empregos de Meng provavelmente o colocaram em contato próximo com Zhou e outros líderes chineses no setor de segurança, área que é sinônimo de corrupção, opacidade e abusos de direitos humanos há tempos. 

Zhou e outras figuras seniores processadas na política de repressão de Xi foram, em sua maioria, condenados por corrupção, mas autoridades disseram, desde então, que os réus também foram acusados de "conspiração aberta para usurpar a liderança do partido". Na reunião desta segunda, autoridades do ministério e do PCC foram informadas que "devem sempre manter a qualidade política de serem absolutamente leais ao partido". 

 Detenções secretas e extralegais na China 

A questão também coloca em destaque o aumento das detenções secretas e extralegais na China de dissidentes do partido ou funcionários supostamente corruptos sob o governo do presidente do país, Xi Jinping. 

Além disso, a questão chama a atenção para o sistema chinês de detenções obscuras e, muitas vezes, arbitrárias, demonstrando que a ação de Pequim pode afetar até mesmo um funcionário de segurança pública de importância internacional. A prisão de Meng mancha a imagem que a China busca cultivar, de um país moderno onde impera o Estado de direito. 

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A queda de Meng é a última prova de que ninguém está a salvo da campanha anticorrupção do presidente chinês Xi Jinping, que afetou mais de 1,5 milhão de funcionários nos últimos seis anos. Ele foi uma dos principais funcionários responsáveis pelo rastreamento dos fugitivos da repressão, 

A eleição de Meng como presidente da Interpol, durante uma votação fechada em 2016, foi vista como um grande golpe para os esforços do Partido Comunista para se estabelecer como um ator responsável nos assuntos globais. Neste momento, os grupos de direitos humanos criticaram a nomeação por preocupações de que a China poderia usar essa brecha para facilitar o uso de práticas extrajudiciais, como a detenção sem acusação, que tem sido empregada amplamente como parte da campanha anti-repressão. 

Preocupação internacional 

“O caso do presidente da Interpol revelou que a China não vem seguindo, durante algum temo, o devido processo legal ao lidar com funcionários corruptos”, disse Gu Su, professor de filosofia e direito da Universidade de Nanjing. “ A reação internacional deveria servir como uma chamada de atenção ao partido, já que há falhas óbvias na abordagem da China para lidar com o caso de Ming.”Nesta segunda, o ministro da Segurança Pública da China, Zhao Lehzi, presidiu uma reunião com funcionários seniores do ministério que também são membros do PCC, para discutir o caso de Meng, segundo informou o comunicado do governo. 

"Devemos reconhecer profundamente o dano sério que a tomada de subornos e supostas violações da lei de Meng Hongwei causaram ao partido e à causa da segurança pública, e aprendermos profundamente com essa lição", disse a declaração governamental. 

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O desaparecimento inexplicável de Meng no fim do mês passado obrigou o governo francês e a Interpol a tornarem públicas suas preocupações com sua segurança. O presidente interino da Interpol, Kim Jong-yang, disse que não foi informado sobre a investigação de seu chefe. 

"Acho lamentável que o principal líder da organização tenha saído desse jeito, e que não nos notificaram especificamente sobre o que estava acontecendo com antecedência", disse Kim. "Ainda não temos informações suficientes sobre o que está acontecendo (com Meng) ou se tem algo a ver com a política doméstica chinesa", acrescentou.

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