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O Chifre da África tornou-se um ponto estratégico para os Estados Unidos. O fato de a China ter aumentado dramaticamente seu envolvimento ali apresenta um desafio assustador para os formuladores de políticas dos EUA. Em nenhum lugar isso é mais evidente do que no pequeno Djibuti, onde Pequim está expandindo agressivamente sua influência.

Quando a China abriu sua primeira base militar no exterior no Djibuti no ano passado, Washington adotou uma abordagem de pagar para ver. Estados Unidos, o Japão, a França e a Itália têm bases na área, de modo que a presença militar chinesa foi um teste para determinar se a expansão militar de Pequim na África seria uma oportunidade de cooperação ou uma fonte de conflito potencial. Um ano depois, o veredicto é cada vez mais claro. 

A base militar chinesa é apenas uma parte de uma invasão constante no Djibuti, que agora ameaça os interesses diplomáticos e de segurança nacional dos Estados Unidos e seus aliados. 

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No início deste ano, o governo de Djibuti, que tem grande dívidas com Pequim, tomou o controle de um terminal de contêineres pertencente a uma empresa de Dubai. O presidente do Djibuti, Ismail Omar Guelleh, invocou medidas de "emergência" para ignorar decisões legais no Reino Unido, tomadas com o objetivo de impedir a apreensão do porto. 

Espera-se que o governo de Djibuti entregue as operações do terminal de contêineres a empresas chinesas ligadas ao estado. Em julho, anunciou uma parceria com uma delas para estabelecer uma zona de livre comércio no país. Situado ao longo de uma das mais movimentadas rotas marítimas comerciais do mundo, os interesses econômicos chineses em Djibuti são claros. O país se destaca como um nó chave na estratégia de "colar de pérolas" da China, que liga os principais portos à sua maior iniciativa, a Nova Rota da Seda 

Enquanto isso, as atividades militares de Pequim no Djibuti são cada vez mais preocupantes. Na base norte-americana, há uma plataforma de lançamento fundamental para operações antiterrorismo e de inteligência contra o Estado Islâmico, a Al Qaeda, o Al-Shabab e o Boko Haram. Em maio, os Estados Unidos acusaram publicamente a China de usar lasers de amplo espectro para atacar repetidamente os pilotos norte-americanos que operam a partir desta base. 

Isto levou o Congresso a aprovar uma legislação, no mês passado, que exige que o Pentágono forneça uma avaliação formal da presença militar da China no Djibuti e da ameaça que representa para o pessoal militar dos EUA. Os parlamentares também estão preocupados com o fato de Pequim estar usando sua presença no Djibuti para facilitar uma rede ilícita de comércio de armas que canaliza dinheiro para o regime de Guelleh. 

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"O reinado ditatorial de Guelleh foi em grande parte alimentado por um fluxo constante de dinheiro, palácios e presentes chineses", escreveu o deputado Mo Brooks em uma carta de 24 de setembro à embaixador americana na ONU, Nikki Haley. 

"Com novos relatórios indicando que seu governo está lucrando com o florescente comércio de armas que abastece rebeldes houthi no Iêmen e grupos terroristas que os EUA estão combatendo em todo o continente africano, é hora de seu comportamento imprudente e inescrupuloso ser firmemente tratado pelos Estados Unidos." 

Nos últimos cinco anos, as vendas oficiais de armas da China à África aumentaram 55% e a participação no mercado africano de armas dobrou para 17%, superando os Estados Unidos, segundo o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo. Há também evidências crescentes de que o Djibuti está emergindo como um ponto estratégico para o tráfico de armas ilegais contrabandeadas entre o Iêmen e lugares como a Somália. 

O governo chinês tem uma longa história de alimentar a instabilidade na África ao comercializar armas com regimes desonestos. A China enviou enormes quantidades de armas ao regime de Mugabe no Zimbábue em 2008, enquanto este estava proibido de comprar armas na União Europeia. Pequim forneceu por muito tempo armas ao ditador sudanês Omar Omar al-Bashir, que contribuiu para o genocídio no sul do Sudão. 

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O que há de novo é que, no governo do presidente Xi Jinping, Pequim tem agora o poder, a influência e a intenção de combinar sua interferência econômica, diplomática e militar na África com um amplo efeito. 

"A estratégia da China no continente é abrangente, incluindo elementos econômicos, políticos e de segurança", disse Joshua Eisenman, professor assistente da Escola Lyndon B. Johnson de Assuntos Públicos da Universidade do Texas, em Austin. 

"Durante anos, olhamos principalmente para o lado econômico, mas agora, como as relações da China com o Djibuti demonstram, os elementos políticos e de segurança tornaram-se uma parte cada vez mais importante das relações da China com os países africanos". 

O governo dos EUA, até agora, parece pouco disposto ou incapaz de enfrentar o problema. Um porta-voz do departamento de África do Departamento de Estado disse-me que a política dos EUA não é restringir o envolvimento construtivo de qualquer outro ator em África, mas encorajá-los na medida em que a sua influência apoia positivamente a boa governança, o estado de direito e os esforços anticorrupção. 

O governo Trump precisa mudar para uma abordagem que coloque pressão sobre a China para se comportar melhor no Djibuti e encoraje o governo Guelleh a rejeitar o esquema de Pequim de transformar aquele país em um vassalo chinês, antes que a instabilidade agrave ainda mais os interesses americanos e africanos.

* Josh Rogin é colunista de política internacional do Washington Post e analista político da CNN

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