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Multidão de chineses participa de uma feira de empregos realizada para estudantes universitários em Yantai, na província de Shandong | Stringer/Reuters
Multidão de chineses participa de uma feira de empregos realizada para estudantes universitários em Yantai, na província de Shandong| Foto: Stringer/Reuters

Mais meninos

Desequilíbrio entre gêneros é dos maiores no mundo

The New York Times

Estudiosos ficam consternados com o desequilíbrio de gênero que se seguiu à política do filho único. Quando ela entrou em vigor, em 1980, a China estava próxima do padrão para a maioria das sociedades: 103 a 107 meninos para cada 100 meninas.

Vinte e cinco anos depois, 119 meninos chineses nasceram para cada 100 meninas, uma das proporções mais distorcidas do mundo, de acordo com um estudo de 2009 do The British Medical Journal. Em 2005, a China teve 32 milhões de homens com menos de 20 anos a mais do que mulheres na mesma faixa etária, uma disparidade que, segundo pesquisadores, só irá piorar nas próximas duas décadas e pode levar a uma instabilidade social.

Wang e outros estudiosos atribuem grande parte desse desequilíbrio à regra que permite que muitos casais rurais tenham um segundo filho se o primeiro for uma menina. As regiões cobertas por essa exceção, segundo estudiosos, têm em média quase 130 nascimentos de meninos para cada 100 nascimentos de meninas. Há suspeitas de que grande parte dessa disparidade vem de casais que usam exames de ultrassom para identificar e abortar fetos do sexo feminino.

Demógrafos afirmam que a mudança mais provável para a China hoje seria permitir aos casais de algumas províncias ter um segundo filho se o marido ou a esposa forem filhos únicos. Atualmente, essa regra já vale para áreas urbanas.

Autoridades chinesas seguem adaptando o que ainda é a iniciativa mais ousada do mundo para controlar o instinto de propagação da população. Pelo menos 22 exceções foram criadas para se enquadrar no cenário econômico de mudanças.

Os demógrafos também sustentam que a China superestimou a taxa de fertilidade real para ajudar a justificar as restrições do filho único. No início da década de 1990, a taxa de fertilidade da China foi abaixo do que os demógrafos chamam de nível de reposição, ou o número de nascimentos necessário para que uma geração se substitua.

Oficialmente, a China estima a atual taxa de fertilidade em 1,8 criança por mulher. Mas Cai Yong, da Universidade da Carolina do Norte, e outros demógrafos estimam que a taxa atual seja de apenas 1,5 criança.

Economistas sustentam que a baixa taxa de natalidade da China, que antes já foi uma vantagem econômica, agora está destinada a reduzir o crescimento econômico do país.

A ascensão da China dependeu, em parte, de um aumento no número de trabalhadores em proporção à população. Esse aumento produziu uma força de trabalho barata e produtiva para suas fábricas, minas e construções.

Agora, o tamanho da força de trabalho está se equilibrando. Demógrafos afirmam que ela começará a encolher lentamente em apenas cinco anos.

Há ainda o fato de o número de idosos estar aumentando com velocidade. Projeções mostram que a média de idade dos chineses até 2040 será maior que a dos norte-americanos, mas os chineses só terão um terço da renda per capita dos EUA. Especialistas afirmam que isso fará com que a China seja o primeiro grande país a envelhecer antes de se desenvolver economicamente de forma completa. "Há enormes crises demográficas pendentes, inéditas na demografia chinesa", disse em entrevista Wang Feng, líder do Centro Tsinghua de Políticas Pú­­blicas de Pequim, um braço da Brookings Institution, sediada em Washington. "Poucas pessoas ainda defendem essa política".

Porém, à medida que se intensificam pedidos para um afrouxamento dessa política e à medida que aumentam sinais oficiais de alívio das restrições, aumentam também temores de que a cultura do filho único esteja incrustada entre os chineses a ponto de as autoridades não serem capazes de incentivar mais nascimentos, mesmo que tentem.

Um número crescente de pesquisas sugere que grande parte do declínio da fertilidade chinesa ao longo das últimas três décadas não é resultado da política do fi­­lho único e suas várias permutações, mas da queda típica nas ta­­xas de natalidade que ocorrem quando as sociedades se modernizam.

Menos que um

Em Xangai, muitos casais elegíveis decidiram não ter um segundo filho, tanto que em 2009 agentes sociais começaram a fazer visitas aos lares chineses para tentar persuadi-los. Cai Yong, demógrafo da Universidade da Carolina do Norte, disse que a taxa de natalidade de Xangai e Pequim está estimada em 0,7 – menos que um filho por casal, e metade do que muitos demógrafos estimam ser a taxa nacional de natalidade.

Tudo isso sugere que a China pode não ter muito a fazer para manipular o número de nascimentos. Parece que, quanto mais a força de trabalho encolhe, maior a necessidade de afrouxar as restrições governamentais.

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