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Transmissão do júri de ex-líder do Partido Comunista chinês teria sido encenação | Jinan/EFE
Transmissão do júri de ex-líder do Partido Comunista chinês teria sido encenação| Foto: Jinan/EFE

Chefe de polícia foi o delator de crimes do ex-líder

Durante o julgamento a que foi submetido o ex-líder do Partido Comunista chinês Bo Xilai, ele teria dito à promotoria que sua vida e a de sua esposa, Gu Kailai, foram uma tragédia, de acordo com o jornal South China Morning Post (SCMP), de Hong Kong.

A desgraça, segundo ele, teria começado quando Wang Lijun, então seu chefe de polícia, tentou refugiar-se em um consulado dos Estados Unidos em fevereiro de 2012. Lá ele teria delatado os crimes do ex-líder em Chongqing e incriminado Gu pela morte do empresário britânico Neil Heywood.

"Espero que vocês possam interromper esta investigação e, assim, deixar o último pedaço que fica vivo da minha família", implorava um Bo muito mais "humano" que o que supostamente ficou chamando a esposa de "louca" dias antes. À espera da sentença, cuja data é desconhecida, há poucos detalhes espontâneos em um julgamento com uma melodramática "trama que nem a pior telenovela poderia ter", segundo supostas palavras de Bo durante sua alegação final.

Apesar de ter sido algo inédito, a transmissão on-line do julgamento do ex-líder do Partido Comunista chinês Bo Xilai, com duração de cinco dias, teria sido parcial e ocultado muitos detalhes importantes do processo. Antes que começasse, em 22 de agosto, o julgamento do protagonista do maior escândalo político da China em décadas, as autoridades comunistas garantiram que ele seria "público". Essa informação deixou muitas dúvidas sobre a divulgação do caso, já que esse não foi o modus operandi do julgamento dos outros dois principais atores do melodrama, a esposa de Bo, Gu Kailai, e seu ex-braço direito, Wang Lijun, há quase um ano.

A imprensa oficial se vangloriou pela "transparência" do sistema – "o público considera as transcrições do julgamento em tempo real uma amostra dos esforços do Partido Comunista para combater a corrupção", dizia a agência oficial "Xinhua" –, mas vários indícios sugerem que o método não foi nada além de uma encenação grosseira. Primeiro porque é quase impossível contrastar o que foi emitido com o julgamento em si, já que apenas 19 jornalistas da imprensa oficial chinesa puderam entrar na sala, enquanto os mais de 200 repórteres credenciados se resignavam a cobri-lo diante das portas do tribunal por meio de seus smartphones. Segundo porque também não houve nenhuma confirmação oficial sobre a informação publicada no jornal South China Morning Post (SCMP), de Hong Kong, de que Wang Lijun foi testemunhar em uma cadeira de rodas depois de sofrer um acidente vascular cerebral há dois meses. Além disso, o ritmo das publicações das atas foi diminuindo ao longo dos dias, e algumas – com temas presumivelmente "delicados" – foram postadas em uma rede social chinesa e apagadas minutos depois.

Outra particularidade suspeita é que, apesar de a conta do tribunal ser trending topic – o tema mais comentado – no Twitter desde que começou o julgamento e ter mais de 500 mil seguidores, há apenas cerca de 70 comentários, predominantemente negativos, em relação a Bo. Seria estranho, por outro lado, que uma rede controlada pelo rígido aparelho censor do país asiático, não tenha "filtrado" as publicações de um tema tão delicado para o governo.

O SCMP divulgou durante a semana – citando três fontes da corte – que as transcrições deixaram de fora comentários que colocavam o regime em alguma saia justa ou aqueles positivos feitos por Bo sobre Gu (esposa dele), que está presa pelo assassinato do empresário britânico Neil Heywood.

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