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Pequim – Os três irmãos da família Li chegaram há duas semanas a Pequim, depois de oito horas de uma viagem de trem da cidade de Shuozhou, na província de Shanxi. O motorista Yinxuan, 24 anos, e o estudante Jiaxuan, 20, ajudam a carregar o caçula Hanxuan,16 anos, com fortes dores no joelho. Foram ao Hospital Xie He, um dos três maiores da capital, e ouviram que, para comprar a senha de atendimento, teriam de chegar de madrugada e entrar na fila.

Os irmãos decidiram procurar o Hospital Geral do Exército de Libertação do Povo, o segundo maior de Pequim, porque lhes disseram que as filas são menores e o atendimento, mais rápido. Na semana passada, Yunxuan conseguiu comprar a senha, pagando 5 yuans (US$ 0,66), para uma consulta com um clínico geral dois dias depois. Pagou mais 300 yuans (US$ 40) pelos exames. O médico recomendou um ortopedista, que ninguém sabe quanto custará.

A saga dos irmãos Li nos hospitais públicos de Pequim mostra com clareza as falhas do sistema de saúde pública implementado na China a partir das reformas econômicas na década de 1980, substituto do sistema de atendimento médico da época comunista, que se pretendia universal e gratuito.

Por conta dessas falhas, o governo acaba de anunciar a segunda etapa da reforma do sistema de saúde urbano, criando um plano subsidiado para que uma faixa da população – entre outros, jovens em idade pré-escolar e idosos sem renda acima de 50 anos – tenha acesso a hospitais a baixo custo. Em Pequim, no caso dos jovens, a família paga apenas 50 yuans (US$ 6,6) por ano e os idosos, 300 yuans (US$ 40).

O problema, no entanto, vem de longe. "Os chineses reclamam com razão do sistema atual, que ainda tem várias falhas, mas o tratamento médico no tempo do planejamento estatal também era sobrecarregado e atrasado tecnologicamente. Só ia ao médico quem tinha doença grave ou em caso de emergência. Era gratuito, mas poucos tinham acesso", diz o professor da Academia Chinesa de Ciências Sociais Tang Jun, um dos maiores pesquisadores do sistema de saúde da China e um dos consultores do governo para a reforma do sistema de saúde.

Atualmente, cidadãos e empresas pagam de forma compartilhada por um plano de saúde que oferece serviços médicos com descontos. Cerca de 120 milhões de chineses estão cobertos e o sistema é restrito às metrópoles da costa leste.

Despesa

Segundo estudo da para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, mais da metade da população da China – 650 milhões de pessoas – hoje tem que pagar do próprio bolso os tratamentos de saúde, especialmente a maioria ainda no campo, sendo que as despesas médicas são altas e consomem em média 40% da renda mensal dos chineses com doença na família. Nos hospitais estatais, uma consulta varia de 50 yuans (US$ 6,6) a 200 yuans (US$ 26,6). Não há hospitais gratuitos.

Mas foi o próprio vice-ministro da Saúde, Chen Xiaohong, que fez a denúncia há algumas semanas: os tratamentos médicos estão ficando mais caros nas grandes cidades. Primeiro, porque alguns médicos se deixam corromper por laboratórios farmacêuticos que pagam propinas para seus medicamentos serem indicados nas receitas, embora mais caros. E com a ordem dada pelo governo para que os hospitais estatais visem ao lucro, os médicos estão obrigando os pacientes a fazer exames desnecessários.

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