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Washington – Um narcisista consumado que cultivou uma auto-imagem de proporções messiânicas e tem tendências paranóicas. Mas, ao mesmo tempo, um virtuoso manipulador político, dono de uma habilidade maquiavélica. Um jogador magistral que, convencido de que se tornou salvador da pátria, está preparado para fazer de tudo para se tornar presidente por toda a sua vida. Esses são alguns dos traços que definem Hugo Chávez, o presidente da Venezuela, num perfil psicológico que vem circulando nos principais gabinetes do governo dos Estados Unidos, que anda ávido por encontrar maneiras de lidar com esse personagem incômodo.

O estudo foi encomendado a um especialista do ramo, o psiquiatra Jerrold M. Post, que passou 21 anos na CIA, a Agência Central de Inteligência, produzindo perfis de líderes estrangeiros. Hoje, como diretor do Programa de Psicologia Política, da Universidade George Washington, ele continua aceitando encomendas do governo. O retrato de Chávez, que Post acaba de produzir, foi solicitado pelo Centro de Contra-Proliferação da Força Aérea, que se encarregou de sua distribuição para outras áreas do governo.

Visto como louco por muitos, Chávez é descrito por Post como um homem capaz "de sustentar um delicado equilíbrio" entre os seus arroubos espalhafatosos, além do seu "atrevido arrojo populista", e uma aguda consciência do que a sua figura representa. "Chávez é um homem altamente inteligente que, apesar de sua retórica inflamatória, está em grande parte bem sintonizado com a realidade política", concluiu Post.

O estudo que ocupa 62 páginas e foi intitulado pelo psiquiatra como O Fenômeno Chávez: o Bolívar dos Dias Modernos diz que o principal vício de Chávez "parece ser café expresso, tomando 26 xícaras por dia e dormindo de duas a três horas por noite". O trabalho arrisca uma previsão: "Chávez provavelmente tentará dar um golpe constitucional, reescrevendo a Constituição para prolongar a sua permanência no poder, e não deixará a presidência voluntariamente se esse golpe falhar."

"Há motivos de sobra para acreditar que ele seguirá, de maneira acelerada, o caminho de seu modelo, Fidel Castro, à medida que procura consolidar o seu autodesignado papel como sucessor de Castro", disse o autor do perfil. Post examinou a caminhada de Chávez desde a sua infância, filho de um casal de professores, o que, para o psicólogo, assegurou uma sólida educação aos seus seis filhos. Segundo o psiquiatra, em declarações públicas Chávez exibe uma falsa imagem de sua própria identidade, ao se apresentar como um legítimo representante dos pobres por ter sido um deles. "A imagem cuidadosamente sustentada por ele de um passado pessoal de extrema pobreza é mais mito do que realidade", escreveu Post.

Mas, em seguida, acrescentou um aspecto que molda aquela imagem: "Como um mestiço, ele absorveu a psicologia da classe baixa: o ressentimento do subalterno à estrutura da elite". A aparência de homem forte seria, segundo Post, apenas uma fachada. Ele afirma que por trás dela há um homem inseguro: "Chávez é um líder narcisista, autoritário, que tem sonhos de glória, e que pode ser excessivamente sensível a críticas. A arrogante certeza exibida em seus pronunciamentos públicos é muito chamativa para os seus seguidores. Mas sob essa grandiosa fachada, como é típico de personalidades narcisistas, está uma extrema insegurança. Sob estresse, o seu atrevimento se torna mais pronunciado, assim como a sua tendência de culpar os outros por suas próprias deficiências", diz outro trecho do perfil.

Segundo Post, há duas circunstâncias "em que a personalidade messiânica" de Chávez afeta de forma adversa as suas decisões, provocando falhas em seu juízo: quando ele obtém um grande êxito, e quando percebe que cometeu uma falha: "Quando está tendo sucesso, Chávez pode ser tornar impetuoso, sentindo-se invulnerável. Quando falha ao enfrentar crises, ou quando a sua liderança é colocada em risco, a sua retórica e suas ações se tornam mais ousadas e mais antagônicas. Em consequência, à medida em que aumenta a instabilidade na Venezuela, também aumenta a sua retórica antiamericana e antielite", diagnosticou Post. Em sua opinião, quanto mais o poder de Chávez se torna absoluto é fortalecida a visão que ele tem de si mesmo como o salvador da Venezuela. E por isso Chávez deverá fazer "o que for necessário para se manter no poder a fim de garantir o seu lugar na História". "O seu autoconceito não se limita ao território venezuelano. Ele parece ser ver como o principal defensor internacional dos pobres e dos fracos contra os poderosos", disse Post. "Chávez está agindo como se já tivesse superado Fidel Castro, seu mentor e modelo, como líder do Terceiro Mundo. Esse comportamento vai se intensificar quando Fidel finalmente sair de cena", diz ainda o perfil.

O estudo contém um claro alerta: "É interessante notar que o seu outro herói, Simón Bolívar, entre 1810 e 1824 empunhou a espada para libertar do controle espanhol a Venezuela, a Bolívia, o Panamá, a Colômbia, o Equador e o Peru. E, então, Bolívar se tornou ditador dessas áreas. Se Chávez seguir os modelos Bolívar, Castro e Guevara nos assuntos internacionais, ele estará propenso a apoiar a violência como um meio de alcançar o seu objetivo revolucionário".

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