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O cineasta iraniano Keywan Karimi, de 30 anos, é internacionalmente renomado e premiado, mas, no seu país, o trabalho o levou a ser condenado a seis anos de prisão e 223 chibatadas.

O último filme do diretor, “Escritos na Cidade”, retrata grafites espalhados por Teerã desde a Revolução de 1979 até as contestadas eleições presidenciais de 2009, mostrando a arte como uma forma de mensagem social através do tempo. No entanto, o Irã acusou Karimi de fazer propaganda contra o governo e de “insultar o Islã”.

Enquanto aguarda uma corte que vai determinar a sentença final em seu caso, prevista para novembro, ele falou por telefone com o jornal O GLOBO.

“Eu tenho esperanças, porque não posso acreditar que o governo que vá me mandar para a prisão por seis anos ou me condenar a tantas chibatadas. Tenho que ter esperanças”, disse Karimi.

O governo alega que o diretor não poderia ter utilizado imagens dos protestos de seis anos atrás contra o pleito que reelegeu Mahmoud Ahmadinejad e também quer condená-lo, segundo ele, por apertar a mão de sua namorada e beijar amigos no rosto durante um encontro.

O cineasta se defende, dizendo que tinha autorização de usar o material que ilustra o filme, que inclusive passou por autorização do governo, e ressalta que a pena é uma injustiça. “Eu não mereço nenhum chibatada, nenhum um dia na prisão”, disse ele, mas se mostrou disponível para negociar com governo e até a cortar algumas partes do longa.

Karimi acredita que, na verdade, as autoridades iranianas ficaram irritadas com o filme porque a obra faz uma reflexão sobre os métodos usados pelo povo para se rebelar contra a realidade opressora em seu país.

“Os muros são locais de crítica, elas surgem com as cidades e têm rostos, nomes, mensagem, poemas e hinos. Nós lemos as paredes e descobrimos os sonhos dos moradores”, diz o início do trailer do longa que gerou polêmica ao contar a história escrita nos pela cidade.

A sentença mobilizou a comunidade internacional, com diretores de todo o mundo e grupos de Direitos Humanos pedindo que Karimi não seja condenado e com jornais internacionais publicando a notícia de sua sentença. Só no seu país, nem o governo nem os cineastas se manifestaram.

“Essa sentença é só para mim, mas eles (a Comunidade Iraniana de Cinema) têm que pensar que podem ser as próximas vítimas do governo”, ressalta Karimi.

Essa não é a primeira vez que ele enfrenta retaliações do governo. Logo após publicar seu primeiro filme, ele passou dois dias na prisão. Após a estreia do curta documental “Fronteira Fechada”, que aborda a questão do contrabando da gasolina na fronteira com o Iraque, ele foi detido mais uma vez.

Mas a detenção mais séria até agora foi no fim de 2013, quando a polícia foi até a casa do cineasta e recolheu o disco rígido de seu computador, documentos e fotografias. Em seguida, ele foi preso e detido em uma prisão de Teerã por duas semanas, antes de ser libertado sob fiança.

Mesmo assim, ele diz que a realidade hoje no país é muito melhor em relação a décadas atrás e descarta a possibilidade de deixar o Irã. “Depois de oito duros anos que passamos com Almadinejad, Hassan Rouhani para nós é como uma esperança. A sociedade iraniana gosta dele, mas seu poder tem limites”, diz.

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