
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) estão mais fracas do que nunca. A observação é feita por analistas ouvidos pela Gazeta do Povo.
E é esse enfraquecimento, resultado também da ofensiva do governo anterior, comandado por Álvaro Uribe, a principal diferença entre a negociação de paz atual e as anteriores que fracassaram.
Em quase meio século de conflitos entre a guerrilha e o governo colombiano, hoje é o mais próximo que os dois lados estão de colocar um fim no embate.
Há razões políticas do presidente Juan Manuel Santos, disposto a tirar seu governo da sombra do mandatário anterior, Álvaro Uribe. Santos foi ministro de Defesa de Uribe, mas mudou drasticamente a maneira de lidar com as Farc, largando as armas para contemplar uma saída política uma postura criticada com veemência por Uribe.
Dimas Floriani, coordenador acadêmico da Casa Latino-americana (Casla), analisa que Santos busca "colher frutos políticos" com a negociação atual. "A diferença maior, em relação aos momentos anteriores, é o contexto sócio-político atual, mais favorável a esse tipo de iniciativa, por parte do governo", diz.
"Hoje, nos últimos 30 anos, é o momento em que a guerrilha está mais fraca", diz Marco Antônio Villa, professor da Universidade Federal de São Carlos. "A Colômbia tem uma cultura política marcada pela guerra. Romper com este passado é fundamental. Não é tarefa fácil. E tem atores políticos que não aceitam a convivência democrática. Continuam pensando a política como guerra."
A oportunidade que se delineia hoje, na Colômbia, é histórica, nas palavras de Floriani, e a primeira com chances efetivas de acontecer. "Não por virtudes governamentais ou por motivações puramente éticas, nem pelo desejo da guerrilha de selar um acordo de paz", diz o coordenador da Casla, e sim "pelo cansaço e pela falta de alternativa".
"Em política, nada é definitivo", diz Floriani sobre o rompimento de Santos e Uribe. O que move o atual presidente é um cálculo político em defesa de seu projeto pessoal para se distanciar do antecessor, seu ex-aliado.
Política
Especula-se que um acordo para o fim das Farc pode significar a entrada dos guerrilheiros na política, a exemplo do que aconteceu em outros países latino-americanos. No Brasil, um caso notório é o da presidente Dilma Rousseff.
"Não será nada fácil, pois para isso é necessário que o Estado garanta espaços efetivos, com salvaguardas adequadas", diz Floriani.
Villa também considera o ingresso na política algo difícil de acontecer. "O fracasso eleitoral (inevitável) pode abrir caminho para voltar à guerrilha", diz.



