Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
América Latina

Colômbia e Farc têm chance sólida de chegar à paz

Presidente Juan Manuel Santos vive momento favorável e histórico para encerrar conflito com a guerrilha, mas isso é só parte da solução

Comandante Ancizar “Monazo”, das Farc: guerrilha perdeu vários líderes, mortos no conflito | Carlos Villalon/AFP
Comandante Ancizar “Monazo”, das Farc: guerrilha perdeu vários líderes, mortos no conflito (Foto: Carlos Villalon/AFP)

As Forças Armadas Revolu­­cionárias da Colômbia (Farc) estão mais fracas do que nunca. A observação é feita por analistas ouvidos pela Gazeta do Povo.

E é esse enfraquecimento, resultado também da ofensiva do governo anterior, comandado por Álvaro Uribe, a principal diferença entre a negociação de paz atual e as anteriores que fracassaram.

Em quase meio século de conflitos entre a guerrilha e o governo colombiano, hoje é o mais próximo que os dois lados estão de colocar um fim no embate.

Há razões políticas do presidente Juan Manuel Santos, disposto a tirar seu governo da sombra do mandatário anterior, Álvaro Uribe. Santos foi ministro de Defesa de Uribe, mas mudou drasticamente a maneira de lidar com as Farc, largando as armas para contemplar uma saída política – uma postura criticada com veemência por Uribe.

Dimas Floriani, coordenador acadêmico da Casa Latino-americana (Casla), analisa que Santos busca­­ "colher frutos políticos" com a negociação atual. "A diferença maior, em relação aos momentos anteriores, é o contexto sócio-político atual, mais favorável a esse tipo de iniciativa, por parte do governo", diz.

"Hoje, nos últimos 30 anos, é o momento em que a guerrilha está mais fraca", diz Marco Antônio Villa, professor da Universidade Federal de São Carlos. "A Co­­lômbia tem uma cultura política marcada pela guerra. Romper com este passado é fundamental. Não é tarefa fácil. E tem atores políticos que não aceitam a convivência democrática. Continuam pensando a política como guerra."

A oportunidade que se delineia hoje, na Colômbia, é histórica, nas palavras de Floriani, e a primeira com chances efetivas de acontecer. "Não por virtudes governamentais ou por motivações puramente éticas, nem pelo desejo da guerrilha de selar um acordo de paz", diz o coordenador da Casla, e sim "pelo cansaço e pela falta de alternativa".

"Em política, nada é definitivo", diz Floriani sobre o rompimento de Santos e Uribe. O que move o atual presidente é um cálculo político em defesa de seu projeto pessoal para se distanciar do antecessor, seu ex-aliado.

Política

Especula-se que um acordo para o fim das Farc pode significar a entrada dos guerrilheiros na política, a exemplo do que aconteceu em outros países latino-americanos. No Brasil, um caso notório é o da presidente Dilma Rousseff.

"Não será nada fácil, pois para isso é necessário que o Estado garanta espaços efetivos, com salvaguardas adequadas", diz Floriani.

Villa também considera o ingresso na política algo difícil de acontecer. "O fracasso eleitoral (inevitável) pode abrir caminho para voltar à guerrilha", diz.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.