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A blogueira Yoani Sanchéz,  crítica do regime cubano, em sua casa, em Havana, em foto de 2008 | AFP
A blogueira Yoani Sanchéz, crítica do regime cubano, em sua casa, em Havana, em foto de 2008| Foto: AFP

Uma semana depois de o governo cubano ter iniciado a libertação de 52 presos políticos, como parte de um acordo costurado pela Igreja Católica e a Espanha, a premiada blogueira cubana Yoani Sanchéz ainda espera autorização para vir ao Brasil para participar da pré-estreia de um documentário no qual é personagem central.

"Estou agora mesmo cuidando dos trâmites, embora ainda não tenha recebido nenhuma resposta. Mas estou otimista. Recebi alguns sinais de que este é um problema que estão tentando solucionar. Se recebo uma negativa, será a sexta em três anos", contou por telefone ao site G1, de Havana.

Em março, a cubana mandou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedindo que interviesse junto aos irmãos Castro para que autorizassem sua vinda ao país. Desde que criou o blog "Generación Y", há três anos, Yoani já teve outros cinco pedidos negados para deixar Cuba, um deles para vir lançar no Brasil "De Cuba com carinho" (Editora Contexto).

"Do governo brasileiro não tive resposta, mas, como disse um amigo, a melhor diplomacia é a que se faz em silêncio. Pode ser que esteja acontecendo alguma negociação direta com o governo cubano que eu não esteja informada", afirma. Pelas leis de Cuba, só sai do país quem obtém a autorização do governo.

Agora, Yoani quer ir a Jequié, na Bahia, para a primeira exibição, nesta sexta-feira (23), do documentário "Conexão Cuba Honduras", feito pelo baiano Dado Galvão sobre a repressão nos dois países – o segundo, após o golpe de 2009.

Ativista social e documentarista em Jequié, Galvão, de 29 anos, colheu entrevistas e imagens dos conflitos nos dois países com uma câmera emprestada da Secretaria Municipal de Cultura. Ele viajou a Havana e Tegucigalpa com apoio das pastorais da Igreja Católica – às quais é ligado –, e após uma campanha para arrecadar fundos pelo comércio da cidade baiana de 150 mil habitantes.

Ao G1, o diretor disse que pode adiar a estreia caso haja garantias de que a cubana possa vir ao país. "A prioridade do momento é que ela venha. Não estamos preocupados com data, será um grande mérito do documentário se ela puder visitar o Brasil. Acho que já é um Oscar pra gente."

Uma segunda carta pedindo que o governo brasileiro interceda pela vinda de Yoani foi enviada pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP) ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, no dia 7 de julho. Suplicy disse ter conversado também com o embaixador de Cuba no Brasil, Carlos Zamora Rodriguez, de quem também espera uma resposta.

"Estou com uma expectativa positiva. A autorização de parte das autoridades cubanas para que Yoani possa estar presente na apresentação do documentário seria mais um sinal que se somaria à libertação de presos cubanos que foram para a Espanha, inclusive do ponto de vista do presidente Barack Obama poder tomar a decisão de levantar o embargo [econômico] contra Cuba [imposto pelos EUA desde 1962]", disse.

Procurada, a assessoria de imprensa do Itamaraty informou que não comentaria o caso. A assessoria de imprensa da Presidência ainda não deu resposta.

Pressão

A blogueira cubana descreve a libertação dos primeiros 11 presos políticos em Cuba como "um pequeno passo em um grande caminho". Para ela, o governo cubano agiu sob a pressão dos cidadãos e do movimento das Damas de Branco (integrado por mulheres e mães de dissidentes presos), além da repercussão negativa após a morte na prisão de Orlando Zapata Tamayo, em fevereiro, seguida da greve de fome de Guillermo Fariñas, encerrada após 135 dias.

"Tudo isso pressionou o governo, mas ainda falta muito. Enquanto no Código Penal cubano ainda existirem artigos que penalizam a opinião, a livre expressão, todos somos potencialmente prisioneiros políticos. Temos que arrancar do governo o compromisso público de que ninguém será levado à prisão nessa ilha por motivos ideológicos ou de opinião", disse Yoani.

Lula

Diferentemente dos primeiros presos libertados, que criticaram Lula em entrevista na Espanha por, segundo eles, ficar do lado do governo cubano, a blogueira acredita que o presidente agiu "mais por desinformação que por má intenção". Em março, o presidente colecionou críticas por condenar a greve de fome de dissidentes cubanos e compará-los a presos comuns de São Paulo.

"Luiz Inácio Lula da Silva sempre foi um homem que respeito. Creio, no entanto, que essa imagem falsa do processo cubano esteja em sua mente, de maneira que quando fez essa declaração, estava pensando mais nos informes, comentários e informações que havia recebido das autoridades cubanas que informando-se verdadeiramente sobre o tema", afirma.

Fidel

Já as recentes aparições do líder cubano Fidel Castro, após quatro anos de convalescência, são, para Yoani, uma tentativa de desviar a atenção sobre o que está ocorrendo no interior da ilha.

"Lembremos que ele apareceu a primeira vez há duas semanas e seu tema principal foi uma possível guerra nuclear entre Estados Unidos e Irã, de maneira que está sacudindo diante de nossos olhos o fantasma de uma conflagração mundial para escapar do verdadeiro conflito interno e, sobretudo, da opinião pública internacional para libertar esses homens injustamente encarcerados."

A reforma que vem sendo anunciada pelo governo de Raúl Castro em Cuba para o próximo dia 26, diz Yoani, só terá sentido se permitir não apenas o retorno dos dissidentes ao país, mas também a liberdade para que os cubanos possam deixar a ilha sempre que quiserem.

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