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Apagão na Venezuela, em 11 de março
Subestação La Ciudadela, em Caracas, ficou danificada após explosões | Foto: Yuri CORTEZ/AFP| Foto:

A falta de eletricidade por mais de 80 horas levou a saques e protestos no interior da Venezuela neste domingo (10) à noite. Falta comida, água potável e combustível, e, de acordo com a imprensa local, filas quilométricas se formam nos poucos estabelecimentos que ainda estão abertos.

No estado de Miranda algumas zonas estão sem energia elétrica desde quinta-feira (7) à tarde. No município de Baruta, onde um transformador da estatal de energia Corpoelec explodiu na madrugada desta segunda-feira (11), foram registrados saques coletivos e tentativas de roubos em pelo menos três mercados. Centenas de pessoas foram detidas pela polícia local, segundo relatos de jornalistas.

Situações semelhantes se repetiram em outras cidades, inclusive em uma zona da capital Caracas. Também houve protestos no decorrer do fim de semana. No estado de Nueva Esparta, por exemplo, moradores fecharam ruas, avenidas e queimaram pneus.

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O ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, disse que os militares estão realizando uma “patrulha ativa” e pediu calma para evitar a violência.

Em Caracas, o serviço vem sendo restabelecido desde domingo, mas algumas áreas ainda estão sem energia elétrica. Na noite de domingo houve uma explosão em uma subestação elétrica na região metropolitana, deixando vários moradores no escuro mais uma vez.

O metrô ainda está fechado devido à instabilidade no fornecimento de energia, fazendo lotar as demais alternativas de transporte público. No restante do país, dez estados ainda estão sem energia elétrica. Na noite de ontem, o vice-presidente de Comunicação do regime, Jorge Rodríguez, havia anunciado que aulas e trabalho estariam suspensos em todo o país nesta segunda-feira.

O regime do ditador Nicolás Maduro declarou também que deu início a um “sistema de reconhecimento aéreo” em todas as linhas de transmissão do país e que desde sábado (9) todas as instalações estratégicas estão ocupadas por militares para que eles possam “cuidá-las de qualquer outro ataque que possa estar sendo planejado”.

Versões para o apagão

O regime de Nicolás Maduro afirma que houve um ciberataque na hidroelétrica de Guri, responsável pela geração de 80% da energia elétrica no país. A “sabotagem” teria sido conduzida pelos Estados Unidos.

Mas a demora do restabelecimento do serviço é evidência de que a versão chavista não passa de retórica para esconder os problemas reais: pouco investimento no setor elétrico nacional, manutenção deficitária e falta de pessoal qualificado para operar nas hidrelétricas e subestações.

Tecnicamente, uma das versões que está sendo apresentada é de que houve um incêndio de vegetação próximo a linhas de transmissão entre Guri e as subestações de Malena e San Gerónimo B. Esta última é responsável pelo fornecimento de energia para 4 em cada 5 venezuelanos e está sem operar desde quinta-feira (7). Segundo funcionários da Corpoelec ouvidos pelo New York Times, não há previsão de que o trabalho lá seja retomado em breve.

Conforme o secretário executivo da Federação dos Trabalhadores na indústria Elétrica da Venezuela, Ali Briceño, o incêndio fez com que três linhas de transmissão parassem de funcionar – duas por superaquecimento e uma por sobrecarga. Como consequência, a subestação San Gerónimo B não estaria recebendo energia suficiente para distribuí-la ao país.

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Consultores externos presumem que antes do blecaute na quinta-feira foi feita uma tentativa de reconectar algumas destas linhas, gerando uma desestabilização que fez com que o Sistema de Controle de Turbinas de Guri parasse de funcionar.

"Podemos inferir desses atrasos e dos resultados da falha [de restabelecimento] que foi um problema nas linhas que saem de Guri, e não na própria estação", afirmou Miguel Lara, ex-presidente da estatal do sistema elétrico venezuelano.

Outras explicações para o apagão também estão emergindo na imprensa local e internacional. Uma delas considera que houve um problema dentro das turbinas da hidrelétrica de Guri, o que seria tão ou mais grave quanto a hipótese do incêndio. Um dos gerentes da Corpoelec contou ao New York Times, sob condição de anonimato, que um dos operadores técnicos em Guri disse a ele que “as turbinas estavam falhando”, sem fornecer detalhes.

“A maioria das pessoas com quem conversei disse que o problema tinha ocorrido dentro das próprias turbinas de Guri. E isso é algo assustador. Se elas estiverem danificadas, serão muito difíceis de substituir ou reparar. Nenhum dinheiro ou pessoas qualificadas”, concluiu o jornalista do New York Times Anatoly Kurmanev, que visitou a subestação San Gerónimo B neste domingo (10).

As termelétricas, que poderiam ajudar parcialmente no fornecimento de energia, também não funcionaram, segundo reportou o jornal venezuelano El Pitazo. Segundo o engenheiro e especialista em sistemas de geração de energia elétrica, José Aguilar, dos 19 mil megawatts instalados no país, apenas 2.500 estavam disponíveis.

Uma crise no setor elétrico venezuelano já vinha sendo anunciada há meses. A falta de energia é algo recorrente em várias cidades venezuelanas, especialmente no interior do país, mas um blecaute dessa magnitude jamais havia ocorrido. É mais um marco na profunda crise que assola os venezuelanos.

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