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O príncipe herdeiro e primeiro-ministro saudita, Mohammed bin Salman
O príncipe herdeiro e primeiro-ministro saudita, Mohammed bin Salman| Foto: EFE/Aitor Pereira

A Arábia Saudita é uma das ditaduras mais cruéis do mundo, já que promove execuções em massa, perseguição a opositores e homossexuais, discriminação contra mulheres e cristãos e outras violações de direitos humanos.

Uma nova frente de repressão se tornou mais conhecida em agosto, quando a ONG Human Rights Watch (HRW) divulgou um relatório que acusa guardas de fronteira sauditas de terem matado centenas de imigrantes e requerentes de asilo etíopes que tentaram cruzar a fronteira entre o Iêmen e a Arábia Saudita entre março de 2022 e junho deste ano.

Além das execuções já representarem em si uma violação de direitos humanos, muitas ocorreram com extrema crueldade, segundo a HRW: a investigação apontou o uso de armas explosivas, tiros à queima-roupa, execução de mulheres e crianças e “perguntas” às vítimas sobre em qual braço ou perna preferiam ser alvejadas.

“O gasto de bilhões de dólares em torneios de golfe profissional, clubes de futebol e grandes eventos de entretenimento para melhorar a imagem saudita não deve desviar a atenção destes crimes horrendos”, declarou Nadia Hardman, pesquisadora de direitos de refugiados e migrantes da HRW, numa referência à tática de sportswashing utilizada pela ditadura de Riad para esconder as repetidas violações a direitos humanos no país.

A HRW coletou informações sobre esses casos por meio de entrevistas com 42 pessoas (38 imigrantes e requerentes de asilo etíopes e quatro familiares ou amigos de pessoas que tentaram atravessar a fronteira entre o Iêmen e a Arábia Saudita), análise de mais de 350 vídeos e fotografias e imagens de satélite.

Membros do Grupo Independente de Peritos Forenses do Conselho Internacional de Reabilitação para Vítimas de Tortura colaboraram na análise de vídeos e fotografias e apontaram que os ferimentos registrados nas imagens apresentaram “padrões claros consistentes com explosão de munições com capacidade de produzir calor e fragmentação” ou “características consistentes com ferimentos de bala”.

“Dispararam contra a gente repetidamente. Vi pessoas sendo mortas de uma forma que nunca imaginei. Eu vi 30 pessoas mortas no local. Me escondi debaixo de uma rocha e dormi lá. Eu podia sentir pessoas dormindo ao meu redor, mas eram na verdade cadáveres. Acordei e estava sozinha”, disse uma adolescente etíope de 14 anos à HRW.

Em carta enviada ao governo saudita em outubro do ano passado, o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos já havia informado que havia recebido relatos sobre bombardeios de artilharia na fronteira e disparos de armas leves supostamente perpetrados pelas forças de segurança sauditas, que teriam causado a morte de 430 pessoas e ferido outras 650, incluindo refugiados e requerentes de asilo, nas províncias fronteiriças de Sa'dah, no Iêmen, e de Jizan, na Arábia Saudita, nos quatro primeiros meses de 2022.

Após a publicação do relatório da HRW, o governo da Etiópia informou no X que “investigará imediatamente o incidente em conjunto com as autoridades sauditas”, mas disse que “neste momento crítico, é altamente aconselhável exercer a máxima cautela e não fazer especulações desnecessárias até que a investigação seja concluída”.

Além da Etiópia salientar que tem “excelentes relações de longa data” com a Arábia Saudita, os dois países estão entre os novos membros dos Brics, anunciados em agosto.

Riad, por sua vez, negou as acusações do relatório da HRW e responsabilizou supostos “grupos armados” - os quais não identificou -, segundo a agência de notícias oficial saudita SPA.

Alemanha e EUA treinaram guardas de fronteira

O Ocidente, que há décadas ignora as violações de direitos humanos na Arábia Saudita, foi acusado de ter colaborado para a suposta violência perpetrada pelos guardas de fronteira.

Uma reportagem do jornal inglês The Guardian apontou que as forças fronteiriças sauditas acusadas desses crimes participaram de treinamentos ministrados pela Alemanha e pelos Estados Unidos.

O treinamento oferecido pelos EUA foi realizado entre 2008 e julho deste ano, e o alemão, entre 2009 e 2020, segundo o jornal.

Em nota enviada ao The New York Times, o Departamento de Estado americano informou que os Estados Unidos ajudaram a treinar as forças de fronteira sauditas entre 2015 e este ano, mas alegou que essa parceria se concentrava no treinamento aquático para guardas marítimos e não incluía guardas de fronteira em terra.

Ao Guardian, o Ministério do Interior alemão informou que a capacitação oferecida pelo país a guardas de fronteira sauditas não ocorreu na fronteira com o Iêmen e que foi “interrompida depois de relatos de possíveis violações massivas dos direitos humanos e, por precaução, já não está incluída no atual programa de formação [das forças de segurança sauditas]”. Entretanto, Berlim não informou exatamente quando recebeu esses primeiros relatos.

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