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Buenos Aires – Cerca de 3 mil bolivianos saíram em passeata pelas ruas de Buenos Aires, ontem, para protestar contra as medidas do governo municipal para combater o "trabalho escravo" de imigrantes ilegais. A manifestação coincidiu com o início de uma série de inspeções em oficinas têxteis da cidade, a principal fonte de trabalho dos bolivianos.

O objetivo é encontrar imigrantes ilegais submetidos a condições de trabalho desumanas. A operação foi realizada depois de seis pessoas, entre elas quatro crianças, morrerem no incêndio de uma fábrica de roupas, na quinta-feira passada. Cerca de 50 imigrantes ilegais colombianos viviam e trabalhavam no local.

"Somos vítimas das grandes empresas têxteis, que se aproveitam de nós porque é impossível regularizar nossa situação", disse uma mulher boliviana, que se identificou apenas como Norma. Depois de admitir sua condição de ilegal, Norma reivindicou "outra anistia" para os imigrantes na sua condição.

Segundo o ministro (secretário) de Produção de Buenos Aires, Enrique Rodríguez, estima-se que 11 mil bolivianos trabalhem em condições irregulares, e 4 mil deles desempenhem trabalho escravo. "Calculamos que, dos 1,6 mil postos de trabalho onde há mão-de-obra boliviana, 160 são fábricas têxteis clandestinas", disse Rodríguez.

Ele iniciou ontem um plano destinado a identificar as fábricas clandestinas que utilizam trabalho escravo de estrangeiros ilegais, e prometeu ajudá-los a regularizar a sua situação. "Depois da inspeção, os proprietários terão 15 dias para pôr tudo em ordem. Se não, serão fechadas", explicou.

Convocados por dez organizações de imigrantes bolivianos, os manifestantes se reuniram hoje em frente à sede do Governo de Buenos Aires para protestar contra os planos das autoridades. Os dirigentes se reuniram com o chefe do Governo municipal, Jorge Telerman. Eles reivindicaram que "não haja abusos nem uma caça às bruxas", disse um dos líderes da comunidade boliviana, Isaac Laura.

Ela argumentou que os bolivianos não podem regularizar sua residência na Argentina por causa de impedimentos, decisões judiciais burocráticas e o custo dos trâmites, cerca de US$ 200. "É uma soma muito alta para quem veio ganhar o seu pão", queixou-se. Os bolivianos, segundo Laura, exigem uma "anistia" porque os acordos de migrações da década passada são insuficientes, seja por "erros judiciais na documentação que tramita na Bolívia ou pelo labirinto burocrático" na Argentina.

"Não se trata de perseguir a comunidade boliviana, mas de acabar com o trabalho escravo, e nisso não vamos ceder", declarou a ministra (secretária) de Direitos Humanos de Buenos Aires, Gabriela Cerruti. José, um dos manifestantes, disse que a maioria dos imigrantes bolivianos é obrigada a trabalhar fora dos registros oficiais porque sua renda não é suficiente para se manter e pôr a documentação em dia.

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