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O judeu Gary Krupp é um dos principais defensores de Pio XII na atualidade. Ele deixou o ramo de equipamentos médicos para criar a fundação interreligiosa Pave the Way, da qual é presidente. Krupp recolheu depoimentos de sobreviventes do Holocausto e pessoas que conviveram com o Papa, e tem se empenhado em mostrar aos judeus as suas descobertas. Ele concedeu entrevista à Gazeta do Povo por e-mail.

Qual a sua opinião sobre a decisão de Bento XVI, que não visitará o Museu do Holocausto em Jerusalém?

Eu concordo plenamente que o texto sobre Pio XII seja criticado. Bento XVI honrará a memória dos 6 milhões de judeus vítimas do nazismo, como João Paulo II fez. Mas a legenda sob a foto de Pio XII é totalmente incorreta, e temos provas disso.

Nossa fundação tem se esforçado para quebrar a barreira do senso comum e combater essa visão errônea sobre Eugenio Pacelli (nome de batismo de Pio XII).

Alguns nos dizem "vamos esperar a abertura dos arquivos do Vaticano". Há dois anos Bento XVI ordenou a abertura dos arquivos até 1939, o que cobre a atuação de Pacelli como núncio e secretário de Estado. Ninguém foi consultá-los.

Como o Papa salvou esses judeus?

Ele agiu de forma mais direta por meio dos núncios apostólicos e seus amigos católicos para salvar judeus de várias formas. Um telegrama ao almirante Horthy, regente da Hungria, e sua intervenção na Eslováquia salvaram cerca de 250 mil judeus da deportação. Testemunhas nos contaram que Pio XII enviou mais de 12 mil judeus para os EUA, Canadá e México por meio da República Dominicana ao longo da guerra.

Pacelli interveio quando muitos países não aceitavam judeus. Ele emitiu, e ordenou a emissão de dezenas de milhares de certidões falsas de Batismo para que esses judeus pudessem viajar como se fossem católicos convertidos.

O Papa é criticado por ter silenciado sobre as atrocidades nazistas. Onde se traça a linha que divide cautela e omissão?

Há centenas de casos em que o Papa criticou o nazismo pelo L’Osservatore Romano, o Palestine Post e o New York Times.

Foram muitos discursos dele, de núncios e membros da Cúria Romana. Mas historiadores atuais se esquecem de que Pio XII e a Igreja também eram alvos dos nazistas, como no plano de sequestro revelado pelo general Wolff.

O senhor acha que o Papa poderia ter sido mais contundente?

De forma alguma. Muitos que viveram aquele horror de fato pediam ao Papa que não dissesse nada.

É fácil criticar décadas depois dos acontecimentos, mas é ingênuo achar que o Papa poderia falar o que bem entendesse, tendo diante de si a possibilidade da morte.

Como o caso holandês, em que Hitler intensificou a perseguição depois que os bispos protestaram abertamente contra as deportações, afetou a maneira como Pio XII lidou com o Holocausto?

O Papa dizia que, se Hitler matou 40 mil holandeses por causa das palavras dos bispos, quantos mais não seriam mortos se houvesse uma condenação papal explícita? Isso foi crucial para sua decisão de agir principalmente por baixo dos panos. (MAC)

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