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A eleição de domingo mudará nossas vidas – determinando não apenas se queremos continuar na zona do euro, mas também a natureza de nossa sociedade e o destino da democracia que foi restabelecida há apenas 38 anos. Estamos divididos entre aqueles que querem continuar com o processo de reforma e os que querem voltar ao passado. Nossos parceiros na União Europeia estão com medo das consequências da nossa eleição, mas, fora isso, parecem indiferentes ao nosso destino.

Num momento em que as escolhas parecem ser claras – entre a reforma e a estagnação, entre a Europa e o isolamento, entre o progresso doloroso e o conforto enganoso da rendição – os problemas se confundem por conta das falsas expectativas, falsas escolhas e pelo fracasso de uma classe política que não consegue propor soluções para os problemas do país, nem estabelecer um consenso nacional mínimo sobre o que está em jogo e o que precisa ser feito.

Estamos diante de uma escolha entre duas alternativas com falhas. Por um lado, há a Nova Democracia, um partido de centro-direita que teve grande responsabilidade em minar a reforma e a recuperação econômica nos últimos dois anos. No entanto, agora ele se apresenta como a força responsável que manterá a austeridade e a Grécia na zona do euro.

Do outro lado, há a Syriza, uma coligação belicosa esquerdista que declara que irá imediatamente anular o acordo de resgate e exigir que nossos parceiros continuem a nos emprestar dinheiro. Esse caminho poderá levar à saída rápida do país da zona do euro e a um futuro caótico.

Desde o último mês de outubro, após a primeira sugestão de que a Grécia poderia ser forçada a sair do euro, nós temos vivido uma incerteza desesperadora. Num país de menos de 11 milhões de habitantes, mais de um milhão está desempregado. Um estudo recente feito pela Universidade do Panteão em Atenas sugere que sete a cada dez gregos entre 18 e 24 anos esperam tentar a sorte em outros países.

A insegurança nos abala profundamente. Todos os dias nós nos perguntamos se fizemos a coisa certa, pondo nossas poupanças em risco por conta de uma declaração teimosa de confiança num país que, desde a sua fundação, já declarou falência várias vezes.

A escolha que os gregos enfrentarão no domingo pode parecer simples – entre apertar os cintos e permanecer no euro, ou sair dele e enfrentar um colapso econômico. Mas a política aqui nunca é simples. Nenhum dos partidos tem dado continuidade a uma agenda política séria para evitar o desastre. Aqueles que querem uma Grécia melhor precisam ir atrás da opção menos pior.

E esse sentimento de perda piora quando compreendemos que desperdiçamos a maior parte das últimas quatro décadas. A Grécia deu passos em conquistar os padrões de seus parceiros europeus, com projetos de infraestrutura e com os subsídios da União Europeia e mercados ajudando a criar uma economia crescente e uma nova classe média. Mas permitimos que o desenvolvimento se tornasse uma bolha.

Cerca de 80 bilhões de euros já foram sacados e que milhões estão sendo sacados todos os dias. Parte vai para pagar contas, enquanto o resto está sendo escondido ou levado para o estrangeiro. No entanto, no mês passado havia ainda cerca de 170 bilhões de euros nos bancos gregos, apesar do coro crescente de economistas que declaram que a Grécia irá sair do euro. Por quê? Talvez quando o vulcão estourar, quando os bandidos vierem atrás dos nossos vizinhos, quando uma sociedade desistir de sua luta pelo progresso, a familiaridade de nossas rotinas tenham nos anestesiado e nos deixado incapaz de sentir a poeira e o estrondo dos estouros por vir. Talvez nós não pensemos que coisas ruins possam nos acontecer.

O que eu quero me lembrar da Grécia em 2012 é como a preguiça e os anos de lassidão intelectual podem desperdiçar a dádiva da liberdade e deixar os portões da cidade escancarados – como nós permitimos que os nossos líderes nos aliciassem, até não termos mais ninguém capaz de nos guiar e ninguém ao nosso lado nas barricadas.

Tradução: Adriano Scandolara

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