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A formação de gangues na empobrecida América Central, como as “maras” de Honduras, é apontada pela jornalista italiana Loretta Napoleoni como subproduto da queda do Muro de Berlim | David de la Paz /Arquivo Efe
A formação de gangues na empobrecida América Central, como as “maras” de Honduras, é apontada pela jornalista italiana Loretta Napoleoni como subproduto da queda do Muro de Berlim| Foto: David de la Paz /Arquivo Efe

Um novo mundo surgiu após a derrocada do bloco soviético en­­tre 1989 e 1991, diferente, selvagem e em transição. Nele, a "economia bandida" passou a ocupar os espaços vazios deixados pelos governos, pelo declínio dos sindicatos e das estruturas das sociedades civis e pela entrada maciça da mão de obra informal nos mercados de trabalho, tanto do antigo bloco comunista quanto da Chi­­na e do Ocidente. É do caos que emergiu após 1991 que trata o li­­vro Econo­­mia Bandida (Rogue Economics) da jornalista italiana Loretta Napo­­leoni. Um caos que passa pela atuação das máfias, a proliferação do tráfico de drogas, degradação am­­biental acelerada, escravidão de milhões de se­­res humanos e fraudes no mercado financeiro.

O intuito do livro não é criticar a globalização, desmascarar uma publicidade agressiva que vende a eterna juventude e o bem-estar, muito menos propor a volta a um mundo que morreu no começo dos anos 1990. É simplesmente contar aos consumidores como funcionam as engrenagens que movimentam negócios legais e ilegais, da indústria ilegal da pesca à prostituição e à pornografia, passando pela in­­dústria alimentícia que vende co­­mo saudáveis produtos que provocam a obesidade, doença que já mata mais que o tabagismo nos EUA e em al­­guns países.

Mercadorias e serviços que, conta Loretta Napoleoni, são muitas vezes produzidas a milhares de quilômetros de distância de on­­de são consumidas, por pessoas que vivem num regime de escravidão ou semiescravidão.

"Hoje, o preço médio de um escravo é 10 vezes menor do que no Império Romano, época histórica em que a democracia viveu, quem sabe, o seu ponto mais baixo. Para os romanos, escravos eram mercadoria escassa e preciosa pela qual se cobravam altos pre­­ços; hoje, escravos são mercadoria abundante e descartável, um ‘custo’ como outro qualquer "nos negócios internacionais".

"Disseminou-se a democracia, e com ela a escravidão. No fim da década (de 1990), um nú­­mero de pessoas estimado em 27 milhões havia sido escravizado em vários países, inclusive da Europa Oci­­dental."

"A queda do Muro de Berlim gerou o caos político. Os vencedores foram os fora da lei e os ca­­fetões da globalização, os oligarcas russos, a N’drangheta (máfia calabresa) e a nomenklatura búlgara – pessoas que se adaptaram, elas próprias e suas redes, às novas, im­­previstas e excepcionais circunstâncias", escreve a autora.

Da pesca ilegal do atum no Mediterrâneo, ao tráfico de escravas eslavas dos países do extinto bloco soviético, à formação das gangues nas empobrecidas cidades da América Central, o cenário que a autora apresenta é de um mundo em transição rápida, sensação que o advento e a expansão da Internet – rede também usada para várias atividades fora da lei – apenas fizeram crescer.

A autora também aborda o pe­­sado endividamento das famílias de classe média no Ocidente, principalmente nos Estados Uni­­dos, feito sobre a ilusão do crédito fácil e do sonho americano.

Mas o livro de Loretta Napoleo­­ni não segue um tom pessimista. A autora indica que a civilização pode ser salva por um novo contrato social, em que haja uma separação bem mais ní­­tida entre cidadão e Es­­tado.

"O socialismo e o comunismo, como ideologias políticas, nasceram das primeiras lutas dos sindicatos de trabalhadores. As lutas pela igualdade travadas pelos partidos de esquerda incluíam a renegociação do contrato social. Um cenário semelhante prova­­velmen­­te surgirá quando a poeira gerada pela economia bandida finalmente se assentar", acredita a autora.

Serviço: Economia Bandida (Difel, 350 páginas, R$ 42) chega às livrarias brasileiras no começo de abril.

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