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A aeronave de asas longas que o Dr. Michael T. Graves estava pilotando tinha uma única hélice, que não estava em funcionamento. Em vez disso, ele optou por usar as colunas de ar quente, ou termais, para subir cada vez mais alto.

O médico de 64 anos é o único urologista que atende a uma grande área do Texas. Seu trabalho, além de sedentário, é estressante. Há dias em que passa horas na sala de cirurgia; então, para recuperar o equilíbrio e queimar energia, ele voa. Soaring é um esporte — e há torneios, com os competidores se superando para conquistarem maiores velocidades e altitudes. Entretanto, para muitos deles, o objetivo não é nem a emoção da vitória, mas sim a sensação mágica de flutuar no ar feito um pássaro, apenas com o barulho do vento à sua volta.

Os planadores são mais desajeitados e leves que os aviões comuns. Alguns, como o do Dr. Graves, têm motor para ajudá-los a taxiar na pista e alçar voo; outros precisam ser "rebocados" por uma aeronave para alcançar altura. No soaring, os pilotos dependem das forças da natureza para navegar, geralmente quicando de uma coluna termal a outra para permanecer no ar durante horas, sendo que os melhores conseguem percorrer até mil quilômetros. Ao contrário da asa delta, porém, os praticantes ficam protegidos na "bolha" da cabine.

"Talvez seja o esporte mais completo porque exige boa forma, atenção e bom senso", descreve o Dr. Graves — que garante que, ao voar, se sente sereno como se tivesse meditado por horas.

O terreno no Texas, tão vasto e plano, convida à prática do soaring. Há sempre um espaço aberto para o pouso. E os campos arados absorvem os raios solares com rapidez, tornando-se assim os melhores condutores das correntes de ar quente pelas quais os pilotos procuram – em círculos, feito falcões – para levá-los mais alto e mais longe.

"Com isso, dá para ir daqui até Nebraska", conta o médico que, em uma de suas aventuras saiu de Brownfield, no Texas, e conseguiu chegar a Ulysses, no Kansas, a cerca de 550 km ao norte.

Mas o soaring vai muito além dessas planícies, com os entusiastas voando — e competindo — ao redor do mundo. Os pilotos encontram as termais no deserto e até sobre o asfalto de um estacionamento na cidade. Os planadores também podem ser guiados por outras forças naturais, como as chamadas "ondas de montanha", criadas pelas ventanias que sopram perpendiculares às encostas.

A idade mínima para pilotar é 14 anos, mas o esporte tende a atrair os mais velhos, o que pode levar muita gente a pensar que é apenas um passatempo que pode desaparecer. A idade média dos praticantes é 60 anos, ou seja, quando a maioria tem tempo e dinheiro para uma atividade que exige muito de ambos. (Um planador usado, básico, não sai por menos de US$10 mil, com os novos e mais sofisticados chegando a US$250 mil.) "Os planadores estão para os aviões como o xadrez está para o jogo de damas", afirma Burt Compton, instrutor de voo de Marfa, no Texas, que aprendeu a voar com o pai.

Há pouco tempo, o Dr. Graves abriu as imensas portas de correr do hangar do aeroporto do Condado de Hale, onde estavam alguns mono e bimotores, além de seu planador — um brasileiro Super Ximango de 18 metros de envergadura. Ele começou limpando a estrutura e o para-brisa; preparando-se para decolar, conferiu as instruções da Administração Federal de Aviação e as condições atmosféricas.

O motor, fraquinho, parecia mais o cortador de grama do vizinho no fim da rua.

"Está vendo como essa belezinha demora a subir? Só tem 81 cavalos. É mais fraco que o motor da minha moto", comenta Graves. Porém, cumpriu sua função, permitindo que o planador fosse diminuindo em relação ao céu.

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