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João, Bento, Pio e, mais recentemente, Francisco foram alguns nomes escolhidos por pontífices ao longo da história da Igreja Católica.
O costume, que adentrou as portas da Igreja há séculos, não se baseia em mera formalidade, mas remonta ao começo do Cristianismo, quando Jesus substituiu o nome do apóstolo Simão para "Pedro", o primeiro papa.
O processo de escolha do nome ocorre ainda durante o conclave, a eleição papal que chegou ao fim nesta quinta-feira (8), com a escolha do cardeal americano Robert Francis Prevost. O processo foi acompanhado diretamente de Roma pela Gazeta do Povo. Com a morte de Francisco, um colégio de 133 cardeais ficou responsável por eleger o novo pontífice para a Igreja Católica, numa votação que durou apenas dois dias.
De acordo com o Vatican News, canal oficial do Vaticano, após ser eleito em votação válida, o escolhido deve responder a duas perguntas que precedem a vestimenta do novo bispo de Roma pela primeira vez com as vestes papais. São elas, Acceptasne electionem de te canonice factam in Summum Pontificem? (Você aceita sua eleição canônica como Sumo Pontífice?) e Quo nomine vis vocari? (Como queres ser chamado?).
Com todo o processo validado, o protodiácono da Igreja, atualmente o cardeal francês Dominique Mamberti, apresenta o novo pontífice da varanda da Basílica de São Pedro à multidão de fiéis presentes na praça, no Vaticano, com a seguinte frase em latim: "Nuntio vobis gaudium magnum: habemus papam! Eminentissimum et reverendissimum dominum ____________, qui sibi imposuit nomen ______________", em português, "Anuncio-vos com grande alegria: Temos um Papa: O eminentíssimo e reverendíssimo senhor [nome de batismo] que se impôs o nome de _____________".
A escolhe de um nome que marcará o pontificado teve como referência, ao longo da história, homenagens a santos e papas antecessores, o que também revela afinidades com o modelo de liderança. O nome de batismo, então, é substituído pelo nome pontifício, ritual semelhante a um "segundo nascimento" ao qual o Bispo de Roma é chamado após a eleição.
Ao contrário do que se imagina, esta não é uma obrigatoriedade do pontífice. Ele pode manter o nome "civil" ou de nascimento, no entanto, a tradição tem sido seguida há séculos e é vista como um gesto simbólico com ecos políticos, espirituais e históricos.
Os nomes mais usados ao longo da história
O falecido papa Francisco, Jorge Mario Bergoglio em seu documento civil, foi o primeiro líder da Igreja Católica a usar o nome em referência a São Francisco de Assis, que remete à simplicidade e compromisso com os mais pobres e com a paz.
A escolha de "Francisco" como nome do então pontífice contou com a influência de um cardeal brasileiro, Cláudio Hummes, segundo esclareceu o próprio papa em uma coletiva com a imprensa no Vaticano, logo após assumir o cargo. Caso outro papa ao longo da história escolha este nome, Bergoglio passará a ser lembrado como Francisco I, enquanto o novo será Francisco II.
Entre os nomes que se tornaram mais comuns entre os 266 papas que até agora governaram a Igreja estão João, Gregório, Bento, Pio, Inocêncio, Leão e Clemente.
João é o nome mais frequente entre os papas. Ao todo, 21 pontífices escolheram ser chamados como o apóstolo ao longo dos séculos (o número não leva em conta os antipapas que surgiram ao longo da história e são contabilizados na numeração da Igreja; por isso, Ângelo Roncalli ao ser eleito papa em 1958 escolheu para si o nome de João XXIII).
Gregório aparece em segundo lugar, com 16 usos; e Bento, em terceiro, com 15 (o número também difere por causa da antipapa Bento XIII, durante o Grande Cisma do Ocidente; por isso, o alemão Joseph Ratzinger escolheu o título Bento XVI ao ser eleito em 2005).
O nome Clemente foi escolhido 14 vezes, seguido de Inocêncio e Leão, ambos adotados por 13 papas. Já Pio foi o nome de 12 pontífices.
Ineditismo
Em 2013, logo depois de ser anunciado como novo papa, Francisco descreveu a representantes da imprensa como foi a escolha de seu nome pontifício. "Surgiu o nome no meu coração: Francisco de Assis. Para mim, é o homem da pobreza, o homem da paz, o homem que ama e preserva a criação".
Em 1979, o cardeal Albino Luciani, recém-eleito papa, trouxe um ineditismo para a Igreja Católica ao usar um duplo nome, referente a dois apóstolos. "Chamar-me-ei João Paulo", declarou na ocasião. Ele justificou que não tinha "a sabedoria de coração" do papa João, nem a preparação e a cultura do papa Paulo. "Estou, porém, no lugar deles e devo procurar servir a Igreja", disse. Seu curto pontificado, de apenas 33 dias, foi sucedido pelo polonês Karol Wojtyla, que adotou em sua homenagem o nome de João Paulo II.
Uma curiosidade é que nenhum pontífice escolheu novamente o nome Pedro, em respeito ao que representa o apóstolo de Cristo, primeiro papa da Igreja Católica.




