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Londres – Um enorme asteróide está se deslocando no espaço e vai devastar a Terra. Um evento similar ao que acredita-se ter aniquilado os dinossauros pode agora, de acordo com alguns especialistas, recair sobre a raça humana. É apenas uma questão de tempo. Uma força catastrófica da natureza da qual não há escapatória. Existe esperança?

Centenas de cientistas, desde astrônomos até engenheiros de armas nucleares, se reuniram em Washington nesta semana com o objetivo de elaborar um plano para proteger nosso planeta do asteróide. A Conferência de Defesa Planetária, organizada pela Corporação Aeroespacial Americana, analisou várias propostas para o desenvolvimento de tecnologia para monitorar e desviar objetos que estejam em rota de colisão com a Terra. Este encontro também levou em conta a política, muitas vezes delicada, de relações públicas.

"É melhor avisar a população de que o que estava ruim pode ficar pior? A colisão com um grande asteróide ou cometa, também conhecidos como NEO (sigla em inglês para Objeto Próximo à Terra), com a Terra trará conseqüências catastróficas ao planeta", descreveu Brent William Barbee, da empresa Emergent Space Technologies, em seu projeto apresentado no encontro.

Defesa

"Desastres como esse aconteceram no passado e certamente irão se repetir no futuro. Mas, pela primeira vez na história, o homem vai ter a tecnologia para combater essa ameaça", diz.

Milhares de objetos colidem com a órbita terrestre todos os dias mas não causam impacto maior do que um show de fogos de artifício, pois eles "queimam" ao entrar na atmosfera. Um NEO com mais de 1 km colide com o planeta a cada centenas de milhares de anos, já um NEO com mais de 6 km pode colidir com o planeta a cada 100 milhões de anos e é capaz de causar extinção em massa.

Os especialistas concordam que já faz tempo que não cai "um dos grandes". Todas as atenções no momento se voltam ao Apophis, um asteróide de 390 metros descoberto em 2004, que tem grandes chances de atingir a Terra em 2036. Se isso acontecer, o Apophis vai liberar a energia equivalente a 100.000 vezes a energia liberada pela bomba atômica de Hiroshima. Milhares de quilômetros quadrados seriam afetados pela explosão e a nuvem de poeira lançada pelo impacto cobriria o planeta. O céu ficaria negro por anos e as plantações ao redor do mundo seriam destruídas por falta de luz solar.

Barbee apresenta uma solução nuclear para o problema dos NEOs. Se detonada na posição correta, uma arma nuclear poderia "lascar" o revestimento do asteróide. "A explosão virtualmente instantânea de massa superaquecida confere um impulso ao NEO em direção contrária às coordenadas da detonação, fazendo com que a trajetória do asteróide sofra uma leve mudança capaz de evitar a colisão com a Terra". A vantagem desta idéia é usar tecnologia que já existe, apesar de ninguém ter feito isto antes.

Piet Hut, do Instituto de Estudos Avançados em Princeton, tem uma idéia um pouco menos arriscada – um rebocador robótico que poderia ser acoplado ao asteróide e o "rebocar" para fora da órbita terrestre.

"O uso de monitoramento terrestre e previsão de órbita nos preveniria 10 anos, ou mais, sobre a colisão em potencial. O desempenho deste rebocador dependeria do desenvolvimento de um sistema de propulsão elétrico de alta-performance chamado de motor de íons. Ao invés de usar a queima de combustíveis, esses motores promovem a propulsão da aeronave através do lançamento, em direção contrária, das partículas geradas. A força propulsora é minúscula – o equivalente à pressão causada por uma folha de papel à sua mão – mas o motor é muito mais eficiente e dura muito mais do que um propulsor de foguetes convencional", diz o cientista. O professor Hut calcula que este motor poderia desviar o NEO em até 800 metros.

Os motores de íons também serão cruciais para outro tipo de sonda, o "trator gravitacional". Ao invés de pousar, ele flutua próximo ao asteróide, usando a pequena atração gravitacional entre os dois corpos, alterando a rota do NEO.

Além de revelar novos planos de tecnologia, a conferência também recebeu psicólogos cheios de idéias em como anunciar uma catástrofe de uma colisão em potencial.

Harrison Davis, um psicólogo da Universidade da Califórnia, diz que a colisão de um NEO traria às autoridades um problema singular: haveria tempo significativo para alertar a população, o que, no entanto, não seria uma solução, mas sim um tempo suficiente para danos enormes devido ao pânico populacional, com quase a mesma intensidade que a colisão, resultando talvez em um ambiente pós-impacto praticamente irreparável".

Sigilo

A grande pergunta que os psicólogos estão se fazendo é se a possibilidade de uma colisão iminente deve ou não ser mantida em segredo. Por exemplo, em dezembro de 2004 os cientistas calcularam que o Apophis provavelmente atingiria a linha imaginária que corta a Europa, parte do Oriente Médio, o vale do rio Ganges (a área mais populosa do mundo) e as Filipinas. Na época, essa informação foi mantida em segredo e a maioria dos cientistas especializados em NEO concordaram que esta era a atitude correta.

Entretanto, o cientista Clark Chapman, do Instituto de Pesquisa Southwest, do Colorado, diz que esse ar de "mistério" contrariam as recomendações de muitos especialistas em gerenciamento de riscos. "Existem muitos mitos sobre os efeitos colaterais de se divulgar toda a informação, mas todos vão contra o que acreditam os especialistas em psicologia social", diz Chapman. Ele ainda afirma que a idéia de que a população entraria em pânico na iminência do impacto de um NEO não tem nenhuma base em estudos psicossociais. "Se a comunicação sobre os riscos for feita de maneira irresponsável, a sociedade vai se alarmar em vão e isso poderá gerar descrédito ou má- interpretação de comunicados oficiais, não reagindo mais a alertas importantes", alerta.

Tradução: Thiago Ferreira

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