• Carregando...

O governo da África do Sul continua sendo obtuso e negligente na sua estratégia contra a Aids, acusaram diplomatas e pesquisadores no encerramento da 16ª Conferência Internacional sobre Aids, no Canadá. Os principais oradores reservaram seus pronunciamentos finais, na sexta-feira, para uma longa e detalhada crítica ao governo de Thabo Mbeki, que inicialmente rejeitou as evidências científicas de que a Aids é causada pelo vírus HIV, e depois resistiu em fornecer medicamentos aos doentes.

Estima-se que um em cada nove sul-africanos seja soropositivo. São 5,5 milhões de pessoas ou quase 19% dos adultos, segundo o programa das Nações Unidas para a doença, o Unaids. O número absoluto de doentes é superado apenas pela Índia, o segundo país mais populoso do mundo, com 5,7 milhões de infectados.

A África do Sul queixou-se de ter sido hostilizada durante a conferência, que este ano destacou progressos no acesso global dos doentes ao tratamento. Mais de um milhão de portadores do HIV na África Subsaariana agora recebe medicamentos que os mantêm vivos. Mas 76% dos pacientes no mundo ainda não têm acesso ao tratamento indicado, segundo os oradores. Outros destaques da conferência foram o surgimento de métodos promissores de prevenção, como a circuncisão masculina, microbicidas para mulheres e o uso preventivo de medicamentos, mas que ainda precisam ser mais estudados e difundidos.

- É o único país da África, entre todos os que atravessamos nos últimos cinco anos, cujo governo ainda é obtuso, vagaroso e negligente em ampliar o tratamento - disse o representante especial da ONU para a Aids, Stephen Lewis. - É o único país da África cujo governo continua propondo teorias mais dignas de uma minoria lunática do que de um Estado preocupado e com compaixão.

O ministro da Saúde, Manto Tshabalalala-Msimang, é criticado por sugerir que ingredientes como alho, beterraba e limão podem curar a Aids.

Um dos organizadores da conferência, Mark Wainberg - diretor do Centro para Aids da Universidade McGill, de Montreal - disse que o mundo já passou tempo demais assistindo sentado a deterioração da África do Sul, com suas milhares de vítimas do HIV.

- Como um governo pode permanecer no poder apesar das evidências de que fracassou abissalmente em fornecer tudo o que é essencial à população é algo que não entendo - afirmou.

Apesar de a conferência ter dado boas notícias sobre o acesso ao tratamento, Stephen Lewis alertou para a falta de verbas para prevenção, pesquisa e tratamento. Segundo ele, já houve um grande salto em 2005, para US$ 8,3 bilhões. Mas isso não basta.

- Precisamos de US$ 15 bilhões neste ano, US$ 18 bilhões no próximo e US$ 22 bilhões em 2008 - afirmou. - Estamos bilhões e bilhões de dólares aquém dessas metas.

Outro problema é a carência de profissionais da saúde nos países mais atingidos pela epidemia. A Organização Mundial da Saúde estima que sejam necessários quatro milhões de médicos e técnicos no mundo para lidar com o HIV.

Vários estudos citados no evento demonstraram que até os pacientes mais pobres e com menos educação tomam os remédios contra a Aids se os recebem, permanecendo saudáveis.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]