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Seguidores do QAnon acreditam que Trump não é só um presidente, mas o líder em uma guerra contra um grupo secreto de pedófilos que comanda o mundo (Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)
Seguidores do QAnon acreditam que Trump não é só um presidente, mas o líder em uma guerra contra um grupo secreto de pedófilos que comanda o mundo (Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)| Foto: Tony Webster

Há muito a se dizer sobre as teorias da conspiração atuais. Muitos americanos tendem a acreditar em muita coisa estranha. Isso é verdade na esquerda, onde um grande número de pessoas nunca deixou de acreditar que o presidente Donald Trump participou de um conluio com a Rússia para roubar a Casa Branca de Hillary Clinton. Isso também é verdade na direita, pois muitos acreditam que Trump não é só um presidente, mas o líder em uma guerra contra um grupo secreto de pedófilos que comanda o mundo.

Nada disso é saudável.

A grande pergunta é: como chegamos nesse ponto? Você raramente vê essa questão sendo debatida. Como as pessoas perderam a fé em nossas instituições ao ponto de a confiança nelas atingir uma mínima histórica? Como chegamos ao ponto em que ninguém acredita em ninguém e que charlatões conseguem vender conspirações cada vez mais malucas para os cidadãos?

Para olhar esse problema - talvez o nosso maior como sociedade no momento -, precisamos olhar para o comportamento de nossas principais instituições.

Só na semana passada vimos duas histórias diferentes envolvendo comportamentos tão desprezíveis que teriam sido grandes escândalos há alguns anos. Hoje, temos algo assim toda semana. As pessoas estão anestesiadas. Elas não acreditam que nossos líderes tenham valores ou morais. Por isso, as pessoas não acreditam em nada que lhes é dito.

A primeira grande história, revelada pelo New York Times, mostra duas grandes companhias americanas e seu esforço lobista para "diluir" o que é, essencialmente, uma lei anti-escravidão em tramitação no Congresso.

O governo da China comunista tem tomado parte em uma enorme campanha de repressão contra a minoria muçulmana uigur. Como parte dessa campanha, muitos uigures foram colocados em campos de reeducação ou enviados para lugares da China para realizarem trabalhos forçados. Em resposta, o Congresso Americano está debatendo uma lei para proteger esses trabalhadores por meio da proibição da comercialização de bens produzidos por meio do trabalho forçado. Grandes marcas americanas, incluindo a Apple, a Nike e a Coca-Cola, têm, secretamente, feito lobby contra o projeto de lei, visto como uma ameaça às suas cadeias de produção na China.

A Apple programou a Siri para expressar apoio ao Black Lives Matter. A Coca-Cola fez uma propaganda brega chamada de “Together We Must”(“Juntos Devemos”, em tradução livre) sobre seu comprometimento com a justiça racial. Todo o aparato de marketing da Nike gira em torno do seu comprometimento com a justiça social e racial. São compromissos baratos. Permitir a disrupção de suas cadeias na China - mesmo que para parar a escravidão moderna - seria caro.

As pessoas estão começando a entender a piada.

A segunda história envolve uma enorme briga entre células locais do Black Lives Matter e a organização nacional do movimento. O grupo nacional, a Black Lives Matter Global Network Foundation, já levantou milhões de dólares em doações de indivíduos e corporações ao longo dos anos. Os números cresceram consideravelmente após o assassinato de George Floyd.

O Daily Caller foi o primeiro a reportar que, já há alguns anos, o escritório nacional do Black Lives Matter tem gastado deslavadamente com viagens e outras despesas supérfluas, com uma pequena fração dos fundos arrecadados chegando às células regionais, que fazem todo o trabalho.

Essa semana, a situação aparentemente se tornou insustentável. Os grupos locais foram a público manifestar seu descontentamento. Células de 10 grandes cidades - incluindo Chicago, Filadélfia e Washington - liberaram uma nota em um novo site em que batiam com força no grupo nacional. Acusações de falta de transparência com os milhões de dólares, além da falta de apoio a grupos locais, compõe a denúncia.

Tente citar um grupo que capturou mais a atenção pública que o Black Lives Matter. Eles têm cartazes em todos os lugares. Os melhores atletas do país usam a mensagem em seus uniformes. A frase está pintada na rua em frente à Casa Branca. Virtualmente, toda celebridade tem a hashtag em seu perfil no Twitter. Grandes empresas apoiaram e apoiam a causa em seus sites.

Tudo isso porque, presumidamente, essas pessoas se importam com vidas negras. Mas se você se importa com vidas negras, então, presumidamente, o fato de as verdadeiras organizações Black Lives Matter estarem sendo lesadas pelo escritório nacional deveria te incomodar.

Aparentemente não. A nota no site foi ao ar no dia 30 de novembro. Até o momento, a grande imprensa sequer tem relatado isso. Nenhuma empresa ou celebridade que apoia o movimento se manifestou. Como isso pode acontecer?

Não se trata de uma conspiração da imprensa conservadora. Estamos falando de ativistas locais sendo roubados. Eles foram a público. Você acharia que pessoas que se importam com a causa estariam irritadas com isso. E que pelo menos dariam uma olhada na situação.

Onde estão as "celebs"? Onde está toda a atenção? Você fica com a impressão de que talvez a imprensa, Hollywood e a empresas americanas não se importam tanto, no final das contas.

Não é bom ser excessivamente cínico atualmente, mas é difícil não ser. Hoje, nós temos um país repleto de cínicos. Eles foram treinados para ser cínicos. Todas as mentiras, campanhas baratas de marketing e hipocrisia cobram seu preço, e esse preço é que ninguém acredita em nada ou ninguém.

* Neil Patel é cofundador do The Daily Caller e da Fundação The Daily Caller, que capacita jornalistas, checa dados e produz reportagens investigativas.

©2020 Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.

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