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Uma mulher em quarentena caminha na frente de sua casa, em meio a uma nova rodada de bloqueios e casos de Covid-19, em Xangai, China, 11 de junho de 2022
Uma mulher em quarentena caminha na frente de sua casa, em meio a uma nova rodada de bloqueios e casos de Covid-19, em Xangai, China, 11 de junho de 2022| Foto: EFE/ Alex Plavevski

Apesar da ditadura chinesa tentar esconder, o país vive um cenário de grave crise econômica e bancária. Existe um forte conflito envolvendo bancos regionais, com dinheiro confiscado e tanques de guerra nas portas das agências, para impedir a entrada de manifestantes que há três meses pedem para retirar as economias das contas. Ao mesmo tempo, a China vive uma crise imobiliária sem precedentes, que reforça a instabilidade advinda da pandemia de Covid-19. 
 
Essa situação faz com que o país, que teve crescimento de 8,1% do PIB em 2021, tenha a previsão de um crescimento tímido de apenas 3% em 2022. Apesar de ainda ser um percentual positivo, a desaceleração da economia chinesa deverá fazer cair, por exemplo, as exportações brasileiras, porque afeta a dinâmica interna e diminui os investimentos chineses no exterior. 
 
"É como se essa bicicleta não apenas esteja parada, mas comece a andar para trás", explica Igor Lucena, economista e doutor em Relações Internacionais. "Esse, hoje, é o maior risco geoeconômico mundial que existe", completa.

Tanques nos bancos e depósitos bloqueados 

O governo chinês está posicionando tanques para proteger as agências bancárias de manifestantes indignados com o bloqueio de depósitos. Segundo vídeos e relatos publicados no Twitter, a medida foi adotada na província de Henan, onde protestos de correntistas na cidade de Zhengzhou foram violentamente reprimidos na semana passada.

Correntistas de quatro bancos regionais alegam que estão com suas economias bloqueadas desde abril. Esses valores estariam sendo transferidos para “produtos de investimento”, segundo informam autoridades chinesas.

A censura dificulta a interpretação do que leva a essa situação no país. "Aparentemente, vários bancos regionais estão envolvidos em operações de fraude e tornaram a liquidez desses bancos muito baixa. Então eles não estão conseguindo honrar esses depósitos", aponta Lucena. 
 
Ainda não se sabe, no entanto, se é o caso de esquema de pirâmide ou corrupção. No final de junho, a polícia chinesa anunciou prisões em massa: "O caso envolve crimes antigos, vários suspeitos e um cenário complexo", disse o comunicado da polícia de Henan. 
 
"O que assusta é que o Banco Central ainda não interveio", comentou Dan Wang, economista-chefe do Hong Kong Bank Hang Seng, ao jornal Le Monde. “Há um alto risco de contágio se as pessoas ficarem com medo e procurarem sacar dinheiro. Nove bancos já foram afetados. O sistema bancário é muito sensível a esse tipo de sentimento”, alertou o economista. 
 
Para frear as manifestações dos correntistas, o governo chinês ainda teria manipulado a plataforma de identificação da população, marcando-as como se tivessem testado positivo para a Covid-19 ou estado em contato com pessoas infectadas. Segundo denúncias feitas pelos manifestantes, dezenas deles estariam em "vermelho" no aplicativo utilizado no país, sendo impedidos de sair de casa.

Crise imobiliária 

Ao mesmo tempo, uma grave crise imobiliária compromete o setor que representa mais de 25% da economia do país, envolvendo entes subnacionais chineses, empreiteiras e veículos de investimentos. 
 
Na semana passada, a China pediu aos bancos que concedam maior crédito às incorporadoras que estão com dificuldades devido ao crescente número de proprietários que se recusam a pagar as mensalidades de obras atrasadas.

As pré-vendas na planta são a maneira mais comum de "vender" imóveis na China. O verbo está entre aspas, porque no país não existe uma real venda de casas ou apartamentos, e sim um aluguel por 70 anos de imóveis que pertencem às províncias.

Ao menos uma centena de empreendimentos imobiliários na China estão sem receber mensalidades, segundo dados do setor e analistas.  Essa greve mensal levanta temores de um risco de contágio ao sistema financeiro dessa crise imobiliária.

Para reduzir o endividamento do setor, Pequim reduziu as condições de acesso ao crédito para empreiteiras. Muitos grupos, portanto, encontram-se sem dinheiro, entre eles o número um do setor, Evergrande, que tem uma dívida bilionária (US$ 300 bilhões, R$1,65 trilhão na conversão atual). A empresa deixou de pagar seus títulos em dólares no ano passado e não esconde a possibilidade de dar um calote.

O setor imobiliário foi um dos pilares do crescimento na China, especialmente através dos bancos regionais. Também foi uma das apostas de segurança financeira da segunda maior economia do mundo diante da crise decorrente da Covid-19. No entanto, esse cenário desastroso compromete a economia do país e do mundo.

Em janeiro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou sobre o risco de "contágio da crise imobiliária chinesa para a economia e os mercados mundiais”. “Uma desaceleração mais acentuada do que o esperado no setor imobiliário pode ter uma ampla gama de efeitos negativos na demanda global”, ressaltou o órgão em relatório enviado à China no começo do ano. O real tamanho do problema ainda é desconhecido, devido à falta de transparência da ditadura de Xi Jinping.

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