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Defesa israelense na fronteira com o Líbano
Defesa israelense na fronteira com o Líbano| Foto: EFE/ Sara Gómez Armas

O massacre realizado pelos terroristas do Hamas contra civis israelenses levou a fortes retaliações contra a Faixa de Gaza, dominada pelo Hamas, que se localiza na fronteira sul de Israel. Há um outro grupo terrorista, significativamente maior que o Hamas: o Hezbollah, ponta de lança iraniano baseado no Líbano, fronteira norte de Israel. No intuito de desviar parte do esforço de guerra para fora da Faixa de Gaza, o Hezbollah iniciou uma série de ataques contra Israel, criando fortes escaramuças fronteiriças, o que obrigou Israel a reagir.

O resultado das crescentes escaramuças entre ambos está afetando bastante a economia libanesa. O grupo terrorista Hezbollah tem um braço político, representado no parlamento libanês. Seus parlamentares se aliaram ao partido Amal e, juntamente com aliados de partidos menores, dominam 50% das cadeiras. Por outro lado, com o massivo financiamento e os armamentos iranianos, o braço armado do Hezbollah se tornou mais forte e poderoso do que o exército libanês, tendo ocupado todo o sul do Líbano - exatamente a área fronteiriça com Israel.

As crescentes provocações do Hezbollah estão levando Israel a retaliar cada vez com maior intensidade - o que pode transformar as atuais escaramuças fronteiriças em mais um front de guerra.

O grande prejudicado é o Líbano e seus cidadãos. Os conflitos fronteiriços, que já causaram muitas mortes tanto no sul do Líbano como no norte de Israel levaram inúmeros países a advertir seus cidadãos que evitem viajar ao Líbano, pedindo que os que lá estão que abandonem o país imediatamente. O resultado pode ser visto em grandes centros turísticos, vazios. Em Byblos, cidade dependente do outrora forte turísmo, os restaurantes, cafés, hotéis e lojas de souvenirs estão às moscas.

Mona Mujahed, lojista de 60 anos, declarou ao portal libanês Naharnet que os souvenirs estão intocados em sua loja pois “os turistas desapareceram, não há trabalho nem dinheiro. A guerra arruinou tudo”. Some-se a isso o fato que os cidadãos locais, temerosos de uma guerra, reduziram despesas, o que afeta muito o comércio.

A crise libanesa não é nova. A explosão no porto de Beirute, a Covid-19 e a dramática situação da moeda libanesa, que passa pela maior crise desde 1850, levaram inúmeros cidadãos para baixo da linha de pobreza. Passados quatro anos, o país começava a dar mostra de alguma recuperação, mas as ações do Hezbollah cancelaram todas as boas expectativas.

A empresa aérea libanesa reduziu seus voos devido à acentuadíssima queda de passageiros e outras três empresas aéreas já suspenderam totalmente seus voos que têm o país como partida ou destino. Hotéis de Beirute, tal como ocorre em Byblos, veem centenas de cancelamentos e muitos já analisam fechar temporariamente devido à falta de hóspedes. A S&P estima que uma queda de 30% no turismo causará queda de 10% no PIB do Líbano e, caso o turismo caia 70% (não é improvável), o PIB cairá 23%. O turismo é importantíssimo para o país, e 26% da receita nacional em 2022 foram provenientes deste setor.

Caso fosse cumprida a resolução 1701 da ONU, de julho de 2006, após a guerra entre Israel e o Hezbollah, provavelmente o Líbano estaria em muito melhores condições. A resolução determinou a retirada do Hezbollah para o norte da Linha Azul [demarcação da fronteira entre Líbano e Israel], pedindo ainda o envio do exército libanês ao Sul do Líbano e o controle da UNIFIL [ Força Interina das Nações Unidas no Líbano] na zona fronteiriça. Mas o Hezbollah não aceitou e jamais cumpriu os termos. O Exército Libanês, muito mais fraco que as forças terroristas do Hezbollah, não consegue colocar a resolução em vigor - e o grande prejudicado é o povo libanês e sua economia.

Altas autoridades libanesas começam a mostrar inquietação com o Hezbollah. O Deputado oposicionista Ashraf Rifi aponta a fraqueza do Estado Libanês: “O tribunal militar está nas mãos do Hezbollah, e é o Líbano quem está pagando o preço”.

Samir Geagea, líder do Partido Forças Libanesas, principal partido Cristão no Líbano, enfatizou durante uma reunião na quarta-feira com Joanna Wronecka, a coordenadora Especial das Nações Unidas para o Líbano, que os conflitos fronteiriços em curso entre Israel e o Hezbollah são prejudiciais para todas as partes envolvidas, particularmente o Líbano e os seus cidadãos. Geagea reiterou seu apelo para a aplicação resolução 1701 da ONU. O cumprimento pelo Hezbollah pode contribuir para uma sensível redução de conflitos fronteiriços, beneficiando enormemente a população de ambos os lados da fronteira e, principalmente, ser a salvação do Líbano, que vive uma situação econômica, social e politica caótica.

Marcos L. Susskind é radialista e guia de turismo em Israel.

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