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A coordenadora jurídica operacional do CICV na Colômbia, Mariana Chacón Lozano
A coordenadora jurídica operacional do CICV na Colômbia, Mariana Chacón Lozano| Foto: EFE/Mauricio Dueñas Castañeda

Mais de 145 mil pessoas tiveram que ser deslocadas individualmente na Colômbia durante o ano de 2023 devido ao conflito armado, segundo o relatório anual do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), um número que representa um aumento de 18% em relação a 2022.

“A situação humanitária não melhorou em 2023, em alguns casos os indicadores nacionais diminuíram, mas subiram em muitos dos territórios regionais do país”, disse nesta quarta-feira (3), em entrevista coletiva, o chefe da delegação do CICV na Colômbia, Lorenzo Caraffi.

O número de deslocados está se intensificando em algumas regiões, como no sul do departamento de Bolívar, onde o número de registros quase duplicou, atingindo um aumento de 94%, ou em Cauca, onde cresceu 53%.

O CICV também advertiu que o número de pessoas que normalmente se declaram deslocadas tende a continuar aumentando este ano.

Oito conflitos ativos

A organização acrescentou que no ano passado confirmou oito conflitos armados ativos não internacionais na Colômbia, um a mais que em 2022, segundo a classificação jurídica do CICV.

O conflito adicional é entre os paramilitares das Autodefesas Gaitanistas da Colômbia (AGC), também chamadas de Clã do Golfo, e os dissidentes das antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que não aceitaram o acordo de paz de 2016, segundo explicou a coordenadora jurídica operacional do CICV na Colômbia, Mariana Chacón.

Este novo foco de conflito, que “agrava as cicatrizes da população civil”, aumenta a violência no norte do departamento de Antioquia e no sul de Bolívar, embora também tenham sido registradas ações no Norte de Santander e Arauca, esta última na fronteira com a Venezuela.

Apesar da suspensão do cessar-fogo bilateral entre o Governo e o Estado-Maior Central (EMC) – principal dissidência das antigas FARC – nos departamentos de Nariño, Cauca e Valle del Cauca, o CICV espera que os diálogos de paz “reforcem as proteções e confiança entre as partes para melhorar a vida das pessoas que sofrem as consequências desses conflitos, aquelas que não participam nas hostilidades".

“É a população civil que suporta as consequências dos confrontos armados; na Colômbia existem comunidades inteiras que não podem circular livremente pelo seu território devido ao medo e à ansiedade”, disse Caraffi.

Violações do direito internacional

Em 2023, o CICV registrou 444 supostas violações do Direito Internacional Humanitário (DIH) na Colômbia, casos relacionados à violência sexual, recrutamento e participação de crianças e adolescentes no conflito, uso de explosivos, privação de liberdade ou falta de precaução nas hostilidades.

“As consequências são muito mais amplas, embora sejam menos visíveis”, disse Caraffi, que acrescentou que nas comunidades rurais “há pessoas que estão confinadas e ficam em suas casas sem poder sair ou ter acesso a recursos”.

Segundo o relatório apresentado nesta quarta, 47 mil pessoas ficaram confinadas devido a ações armadas e à presença de artefatos explosivos.

“É marcante a situação no departamento de Chocó, onde se concentrava 44% da população afetada”, disse Caraffi.

Caraffi contou que há alguns meses visitou um acampamento indígena em Chocó onde a comunidade estava confinada, algo que justificaram dizendo que "eles sabiam que havia uma mina antipessoal no território, mas não sabiam se havia mais, assim as pessoas não se moviam".

As consequências da instalação destes explosivos não são apenas materiais, mas altamente psicológicas porque “muitas vezes é o desejo de controle de grupos armados e o medo das comunidades de se encontrarem no meio dos confrontos” que as impede de circular.

O CICV exigiu que o governo federal adotasse acordos especiais, com apelos à ação porque “o bom respeito pelo DIH cria condições mais férteis para alcançar reconciliações e a elaboração de acordos de paz”, segundo Caraffi.

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