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Corpos de sem-terra mortos no confronto com policiais em um centro de saúde de Curuguaty | Norberto Duarte/AFP
Corpos de sem-terra mortos no confronto com policiais em um centro de saúde de Curuguaty| Foto: Norberto Duarte/AFP

Herança da ditadura

Sem-terra alegam que propriedade é ilegal

Os membros da Liga Nacional Carperos, que reforçaram a ocupação da reserva natural no distrito de Curuguaty a cerca de dez dias, alegam que a propriedade das terras do empresário e ex-senador Blas Riquelme é irregular. Elas fariam parte de milhares de hectares distribuídos ilegalmente pelo ex-presidente Alfredo Stroessner aos seus aliados durante a ditadura.

Mote da campanha presidencial de Fernando Lugo, a reforma agrária tem sido um dos principais entraves do governo. Por todo o país – em especial nos estados de Canindeyú, Alto Paraná e Itapúa, que fazem fronteira com o Brasil – centenas de propriedades rurais, quase todas de brasileiros, estão ameaçadas. José Rodríguez, um dos sem-terra, disse que "Lugo não pode solucionar um problema social grave, que é a recuperação das terras do Estado, adquiridas há décadas por pessoas não sujeitas à reforma agrária, como Riquelme".

Grupo teria recebido treinamento e armas

Uma mulher detida ontem logo após o confronto contou à polícia que os sem-terra que atacaram os policiais tinham ordem para matá-los. Ainda de acordo com ela, eles teriam recebido treinamento e armas de pessoas que não pertencem ao grupo. As informações são do site do jornal ABC Color.

Apesar de o governo não confirmar, existem indícios de que a emboscada teria sido orquestrada pelo Exército do Povo Paraguaio (EPP), grupo de guerrilha armada que atua na região e teria ligações com narcotraficantes paraguaios e bolivianos.

As suspeitas foram reforçadas pela Associação Rural do Paraguai (ARP), que emitiu um comunicado em que condenou "energicamente" a morte dos policiais. Os ruralistas apontam que os responsáveis pelo violento ataque "não são simples sem-terra", mas grupos fortemente armados.

Explosivos

O documento reforça que­­ os ataques ocorreram de for­­ma rápida e disciplinada.­­ "Is­­to, mais o emprego de armas automáticas e de explo­­sivos, indicam algo muito ma­­ior que a ação de um simples grupo de sem-terra, algo executado por um grupo fortemente armado e organizado."

  • Corpo de policial paraguaio morto é carregado por colegas. Confronto entre sem-terra e polícia deixou 17 mortos
  • Militares paraguaios carregam os corpos
  • Feridos foram atendidos dentro de avião
  • Imprensa e exército acompanham o atendimento aos feridos
  • Corpos em fila enquanto aguardavam remoção
  • Muitas pessoas particaparam da operação
  • Militares também sofreram ferimentos nos confrontos
  • Jovem ferido observa a movimentação
  • Feridos chegavam a todo momento no pronto socorro
  • Cinegrafista capta momento de sofrimento
  • Saguão do Hospital ficou lotado
  • Polícia fortemente armados no confronto
  • Policiais no momento da ação contra os sem-terra
  • Vários policias foram atingidos
  • Além das viaturas, um helicóptero foi utilizado na operação
  • Rodovia paraguaia foi interditada durante a ação

No pior incidente envolvendo disputas por terras no Paraguai nas últimas duas décadas, pelo menos seis policiais e dez camponeses sem-terra foram mortos ontem durante o cumprimento de uma ordem de desocupação na região de Curuguaty, no Paraguai, a cerca de 280 quilômetros de Foz do Iguaçu, no Oeste do estado. O confronto também deixou mais de 80 feridos. Parte precisou ser retirada da área com a ajuda de um helicóptero.

Veja imagens do confronto no Paraguai

Ainda pela manhã, centenas de policiais cercaram a reserva natural de 2 mil hectares da fazenda do empresário Blas Riquelme à procura dos sem-terra, que atacaram a tiros os oficiais que se preparavam para iniciar a desocupação, por volta das 8 horas. Pouco antes do meio-dia, o presidente Fernando Lugo ordenou a intervenção das Forças Armadas. Ele garantiu que todos os órgãos de áreas estratégicas trabalharão para devolver a "calma e a segurança" ao país.

Durante o breve comunicado, Lugo também manifestou "seu apoio absoluto" às forças de ordem e apresentou suas condolências aos parentes das vítimas. O presidente convocou os ministros do Interior, da Defesa e o comandante das Forças Armadas para analisar a situação. Ao mesmo tempo, o Senado se reuniu em sessão extraordinária para debater a possível instauração de um estado de emergência na região.

Em entrevista à rádio 780­­­­ AM, um dos policiais que­­ participou do confronto dis­­se que a maioria dos tiros­­ acertou o pescoço e a cabeça dos oficiais mortos, entre eles o chefe de Ordem e Segurança do estado de Ca­­nindeyú, Miguel Anoni, e o comandante e o subcomandante do Grupo Especial de Operações (GEO), Erven Lovera e José Sánchez.

De acordo com o ministro do Interior, Carlos Filizzola, "houve disparos por parte deles [sem-terra] e a polícia teve que responder".

Massacre provoca queda de ministro e comandante da polícia

O confronto que resultou na morte de policiais e sem-terra provocou uma nova crise no governo para­­guaio. Diante da pressão do Senado e da Câmara de Deputados, o mi­­nistro do Interior, Carlos Filizzola, e o comandante da Polícia Nacional, Paulino Rojas, colocaram os cargos à disposição do presidente Fernando Lugo, que acabou acatando a decisão de ambos. Os novos nomes devem ser anunciados ainda hoje.

As destituições foram acordas durante reunião do presidente com o conselho dos ministros para discutir de que forma o governo deverá agir em relação aos ataques violentos e à ocupação de terras no estado de Canindeyú. Senadores, deputados e ministros da Corte Suprema de Justiça também se reuniram em sessões extraordinárias no início da noite para tratar do caso.

Ao anunciar sua saída, Filizzola disse que cabe ao presidente escolher aqueles que devem ocupar os cargos de ministro, os quais devem ser de sua inteira confiança. Afirmou ainda que continuará atuando como ativista político do oficialismo e apoiando as ações de Lugo. "Eu não renunciei. Coloquei a disposição meu cargo e o presidente da República aceitou, o mesmo aconteceu com o comandante da Polícia."Mais cedo, Filizzola havia afirmado que não tinha motivos para deixar o governo em meio à crise desencadeada pelo confronto.

87 mil famílias esperam receber terra do governo, segundo dados do movimento de sem-terra do Paraguai.

Confronto polícia x sem-terra

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