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 | Camila Martins
| Foto: Camila Martins

O acirramento de ânimos entre republicanos e democratas após a tragédia em Tucson tem raízes e motivações históricas. Em conversa por telefone com a equipe de reportagem da Gazeta do Povo, o professor Virgílio Arraes, da Universidade de Brasília (UnB), fez uma análise da atual situação política norte-americana.

Após o tiroteio ocorrido em Tucson, Arizona, como o senhor avalia o atual clima político nos Estados Unidos?

Em primeiro lugar há uma tradição nos EUA – que é uma tradição negativa, mas real – de atentado às autoridades. Esse é um fato inegável desde o assassinato de Abraham Lincoln, John Kennedy e outros. Mas depois da perda do mandato [presidencial] dos republicanos, os setores mais conservadores do Partido Republicano – até porque não são todos que estão no "Partido do Chá" – têm exacerbado o clima de tensão partidária nos EUA. Não se pode acusar que o site de Sarah Palin ou de outros neoconservadores republicanos tenha diretamente sido responsável pelo ataque, mas sem sombra de dúvida contribuíram.

As eleições de meio de mandato, no ano passado, foram marcadas pelo enrijecimento do discurso republicano. O senhor acredita que esse tipo de mensagem possa ser mais efetivo em sujeitos mais suscetíveis ou vulneráveis – como no caso de Jared Loughner?

Eu espero que tenha sido um ato isolado, fruto de uma pessoa mentalmente perturbada. O mundo digital, inclusive, facilita a propagação de teorias conspiratórias e visões extremadas que podem encontrar ressonância numa mente mais perturbada, mais fragilizada psiquicamente. Não há duvidas de que o assassino [Jared Loughner] é um desequilibrado mental.

Uma das emendas constitucionais garante ao cidadão norte-americano o direito ao porte de armas. De que forma esse direito constitucional pode influenciar ou tem influenciado as tragédias armadas envolvendo civis nas últimas décadas?

A facilidade de acesso às armas faz com que pensamentos irrefletidos se transformem, em alguns casos, em gestos irrefletidos. Se a legislação norte-americana fosse mais rigorosa no momento da aquisição da primeira arma ou no tempo de resposta entre a proposta de compra e o recebimento de uma arma poderia minimizar tragédias como essa. Por outro lado, como contraponto a essa facilidade na aquisição de armas, nós não podemos esquecer que a legislação penal americana é extremamente rigorosa para quem faz mal uso delas. Então, os americanos têm uma forma diferente de interpretar o acesso às armas. Se por um lado é menos difícil a aquisição, por outro lado o mau uso é fortemente punido.

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