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Curitiba – As eleições parlamentares no Japão, convocadas após o premier japonês Junichiro Koizumi ter dissolvido a Câmara Baixa em agosto, é vista pela imprensa internacional como um grande risco que o primeiro-ministro decidiu assumir depois de ter tido a sua proposta de privatização dos correios rejeitada pela maioria no Parlamento. A consulta popular, realizada hoje, ganhou caráter de referendo sobre a continuidade da política reformista que Koizumi, do Partido Liberal-Democrata (PLD), vem adotando desde 2001. O mandato do primeiro-ministro japonês termina em 2006, mas ele disse que renunciará caso sua coalizão não obtenha maioria nas eleições. Para o presidente da Associação Brasileira de Estudos Japoneses e pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), Alexandre Ratsuo Uehara, a estratégia de Koizumi foi "muito bem pensada", uma vez que a privatização é bastante popular entre os japoneses, e terá bons resultados nas urnas. O especialista, em entrevista à Gazeta do Povo por telefone, acredita que os japoneses tendem a apostar na manutenção na política de reformas propostas Koizumi como saída para o crescimento econômico.

Gazeta do Povo – Junichiro Koizumi é tido como um dos mais populares políticos dos últimos tempos no Japão por seu discurso direto e ar de reformador. A personalidade de Koizumi é um ponto positivo para a sua continuidade no poder?

Alexandre Ratsuo Uehara – Koizumi conquistou a popularidade quando assumiu o cargo de primeiro-ministro em 2001. Koizumi não tinha maioria no partido e foi eleito não tanto pela popularidade, mas pelo fato de que no Partido Liberal-Democrata (PLD) não havia outra pessoa que quisesse se arriscar a assumir o cargo, porque o país passava por um momento difícil. Inclusive em seu discurso de posse lançou uma perspectiva de reformas no Japão, em que disse que, apesar de ter sido eleito pelo PLD, iria reestruturar a economia e política no Japão.

O senhor considera radical a postura de Koizumi ao dissolver a Câmara Baixa do Parlamento em agosto, após propor a privatização do correios, ter sido rejeitada. Essa estratégia também pode levar a uma conquista triunfal?

Em termos de manutenção de poder político foi uma decisão importante e bem pensada. Koizumi vinha de um processo de perda de popularidade e, ao mesmo tempo, sabe que a privatização é muito popular no Japão. Foi um momento propício para a dissolução da Câmara Baixa e para reconquistar o apoio popular. Pesquisas apontam que Koizumi tem a aprovação de mais de 50% da opinião pública, assim como o PLD e o Novo Komeito, da coalizão, devem conseguir a maioria das cadeiras no Parlamento após o pleito.

As eleições de 11 de setembro podem ser consideradas como um referendo sobre a proposta de privatização dos correios?

Apesar da oposição ser contrária a esta questão, a eleição está nitidamente polarizada sobre a privatização ou não dos correios no Japão. O processo de melhoria da economia japonesa passou pela idéia de que era necessário privatizar para que as empresas ganhassem maior eficiência. No caso dos correios se critica muito que os investimentos feitos, pelo fato de ser um órgão público, não foram tão eficientes e rentáveis como poderiam ser. Como boa parte da população possui poupança nos correios japonês, existe a vontade coletiva que a empresa dê mais lucro. Além da necessidade da reforma do estado japonês para que a economia volte a crescer de maneira mais consistente. Os serviços postais tem cerca de US$ 3 trilhões em depósitos.

O que a continuidade de Koizumi no poder pode representar para a economia do Japão?

A perspectiva é positiva. As reformas na economia japonesa promovidas desde a década de 90 começaram a surtir efeitos positivos no momento em que Koizumi estava no poder. Somado a imagem de primeiro-ministro reformista, a percepção é que a economia deve se manter em melhoria.

Neste pleito, a oposição está mais representada na figura de Katsuya Okada, do Partido Democrático?

Okada centraliza a oposição. É praticamente um cenário de bipartidarismo. A oposição questiona a política externa de Koizumi, que fez críticas fortes a China e a Coréia. Eles acreditam que essa postura provoque insegurança no país e que o premier tem sido pouco hábil ao lidar com as questões asiáticas. O Japão tem hoje na China o seu principal parceiro econômico. Existe o temor de que uma deterioração da relacionamento venha a prejudicar tanto no aspecto de segurança, quanto econômico.

O senhor concorda com a crítica da pouca habilidade de Koizumi nas relações externas?

Desde os anos 80, o Japão se projetava para ser o parceiro mais importante dos EUA, mas com a crise econômica o país perdeu bastante espaço no cenário das relações internacionais. Em contrapartida, a China com seu crescimento econômico ascendente, em média 9% ao ano, pela própria política externa afirmativa, conquistou mais espaço regional e internacional. Os primeiro-ministros que antecederam Koizumi não tiveram ousadia em tentar conter a expansão da política externa chinesa. Koizumi confronta com essa questão, talvez até por uma necessidade. Ou o Japão se coloca de uma maneira um pouco mais afirmativa, inclusive enviando tropas para o Iraque, ou a China acabaria se sobrepondo a importância do Japão. Acredito que Koizumi tem sido hábil em reconquistar a posição internacional do Japão.

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