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Kim Jong-un
Kim Jong-un, ditador da Coreia do Norte| Foto:

A Coreia do Norte está considerando suspender as negociações de desnuclearização com os Estados Unidos, a menos que Washington mude de posição, depois do fim antecipado da cúpula de Hanói entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o ditador norte-coreano Kim Jong-un.

Kim deve divulgar em breve se vai continuar as conversas diplomáticas e manter suspensos o lançamento de mísseis e testes nucleares, segundo a vice-ministra das Relações Exteriores, Choe Son Hui.

A ameaça de suspender as conversações ocorre depois que surgiram evidências de que a Coreia do Norte reconstruiu uma plataforma de lançamento de satélite e em meio a especulações de que poderia estar preparando o lançamento de um foguete, um movimento que seria muito provocativo a Washington.

Choe disse que a Coreia do Norte está profundamente desapontada com o fracasso das negociações em Hanói e disse que os Estados Unidos perderam uma oportunidade de ouro, embora ela ainda tenha descrito as relações entre Trump e Kim como "misteriosamente maravilhosas".

Ela disse que Pyongyang agora não tem intenção de comprometer ou continuar as conversações, a menos que os Estados Unidos mudem seu "cálculo político" e tomem medidas compatíveis com os passos dados pela Coreia do Norte, como a moratória de 15 meses em lançamentos e testes

"Em nosso caminho de volta para a terra natal, nosso presidente da comissão de assuntos do estado disse: 'Por que motivo temos que fazer essa viagem de trem de novo?'", disse ela, referindo-se a Kim.

"Quero deixar claro que a posição de gângster dos EUA acabará por colocar a situação em perigo", acrescentou. "Não temos nem a intenção de nos comprometer com os EUA de nenhuma forma, nem muito menos o desejo ou plano de conduzir esse tipo de negociação."

Exigências irrealistas

Na cúpula, Kim ofereceu um desligamento parcial do Centro de Pesquisas Nucleares de Yongbyon, onde uma grande parte do material físsil da Coreia do Norte é produzida, em troca do fim de quase todas as sanções econômicas significativas contra seu país, segundo autoridades dos EUA.

Trump rejeitou esse acordo, alegando que isso permitiria que Pyongyang continuasse produzindo armas de destruição em massa, efetivamente financiadas pelo afrouxamento de sanções. Globalmente, houve amplo consenso de que a Coreia do Norte estava oferecendo muito pouco e exigindo demais.

Mas a contraproposta de Trump também foi amplamente vista como irrealista. Ele tentou convencer Kim a "dar um grande passo" e entregar todo o seu arsenal de armas nucleares, químicas e biológicas em troca de "um futuro brilhante" economicamente.

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Choe, que participou da cúpula de Hanói, disse que Kim estava intrigado com o que ela chamou de posição de negociação "excêntrica" ​​dos Estados Unidos, mas ela disse que o líder norte-coreano ainda mantinha um bom relacionamento com Trump.

"As relações pessoais entre os dois líderes supremos ainda são boas e a química é misteriosamente maravilhosa", disse ela, enquanto acusava o secretário de Estado Mike Pompeo e o conselheiro de segurança nacional John Bolton de criar uma atmosfera de "hostilidade e desconfiança".

Ela disse que, embora o povo norte-coreano, militares e funcionários da indústria de munições tenham enviado milhares de petições a Kim para nunca desistir do programa nuclear, ele foi a Hanói para construir confiança e cumprir compromissos mutuamente "passo a passo", segundo informou a Associated Press.

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"O que está claro é que os EUA jogaram fora uma oportunidade de ouro desta vez", disse Choe. "Desta vez, entendemos muito claramente que os Estados Unidos têm um cálculo muito diferente do nosso."

Reconstrução de plataforma

Imagens de satélite divulgadas na semana passada mostraram que a Coreia do Norte concluiu a reconstrução de uma plataforma de lançamento de foguetes na Estação de Lançamento de Satélites de Sohae. O trabalho na unidade começou antes da cúpula de Hanói, que ocorreu entre 27 e 28 de fevereiro.

Atividades também foram vistas em Sanumdong, nos arredores de Pyongyang, principal desenvolvedora de mísseis balísticos e lançadores espaciais da Coreia do Norte, levando alguns especialistas a concluir que o lançamento de um foguete espacial pode estar sendo planejado.

Marcha à ré

Trump disse na semana passada que estava "um pouco desapontado" com relatos do trabalho de reconstrução em Sohae, mas acrescentou que o tempo dirá se a diplomacia será bem-sucedida.

Muitos especialistas vêem sinais de um endurecimento da postura dos EUA após a cúpula de Hanói, com Bolton assumindo um papel de liderança na imprensa, descartando qualquer fim de sanções até que a Coreia do Norte se desnuclearize completamente e até mesmo ameaçando aumentar as sanções.

Opinião da Gazeta: Impasses nucleares (editorial de 28 de fevereiro)

O enviado norte-americano Stephen Biegun também descartou a possibilidade de desnuclearização "passo a passo", embora tenha insistido na segunda-feira (11) que a diplomacia "ainda está muito viva".

John Delury, especialista em East Asia na Universidade Yonsei, em Seul, disse que os comentários de Choe podem ser vistos como uma resposta à ameaça de Bolton de aumentar as sanções, e não significa que a porta para o diálogo tenha sido fechada.

"Isto é cada lado lembrando um ao outro o que está em jogo", disse ele.

Delury se entusiasmou com o fato de que não houve xingamentos ou insultos, enquanto notava que Choe também se esforçava para elogiar o relacionamento de Kim com Trump. "Muito disso é retórica ou postura, mas os dois lados têm tido o cuidado de não jogar lama nas negociações", disse ele.

Coreia do Sul

No entanto, a deterioração nas relações foi um grande golpe para o presidente sul-coreano Moon Jae-in, que apostou sua reputação em laços mais próximos com a Coreia do Norte. Seu gabinete, porém, disse que não está desanimado com a notícia desta sexta-feira.

"Em qualquer circunstância, nosso governo fará esforços para retomar as negociações entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos", disse Yoon Do-han, porta-voz da presidência, em comunicado.

Han Jung-woo, porta-voz do vice, disse que o governo estava observando os eventos de perto. "A situação atual não pode ser julgada apenas pelas observações da vice-ministra Choe", disse ele.

Saiba mais: Coreia do Sul é a principal vítima do fracasso da cúpula de Hanói

Moon Chung-in, conselheiro especial de segurança nacional de Moon, alertou nesta semana que os sinais de preparativos para o lançamento de um foguete poderiam ser imprudentes para a Coreia do Norte, se Kim tentar usá-los como alavanca para negociações.

"A Coreia do Norte deve evitar um efeito borboleta, no qual uma mudança trivial traz uma enorme catástrofe", disse ele em entrevista coletiva em Seul na terça-feira.

Em Pequim, falando antes da coletiva de imprensa norte-coreana, o premier chinês Li Keqiang pediu paciência e mais diálogo entre Pyongyang e Washington.

"Pode-se dizer que o problema da península é complicado e duradouro, e não pode ser resolvido da noite para o dia", disse Li em entrevista coletiva, observando que os dois lados indicaram que permaneceriam em contato depois de Hanói.

"Temos que ser pacientes e aproveitar as oportunidades", complementou.

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