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O epidemiologista Anders Tegnell, da Agência de Saúde Pública da Suécia| Foto: Jonathan NACKSTRAND/AFP

Anders Tegnell, epidemiologista de 64 anos, é responsável pela estratégia da Suécia contra o coronavírus. Enquanto muitos países decidiram por quarentenas rigorosas, Tegnell adotou uma estratégia suave: bares e restaurantes abertos, escolas funcionando e recomendações voluntárias de isolamento. Até esta quinta-feira, mais de 24 mil pessoas haviam sido infectadas pelo novo coronavírus, das quais 3.040 morreram.

Questionado se essas medidas são mais efetivas do que a de vizinhos, como Dinamarca e Noruega, onde há menos mortes, ele responde que a comparação não é essa. "Já temos algo como 25% por cento da população imune [em Estocolmo], o que significa que atravessamos boa parte do caminho", disse Tegnell, que nega, no entanto, que a imunidade de rebanho seja seu objetivo. A seguir, a entrevista do epidemiologista sueco ao Estadão.

Por que o senhor acredita que a estratégia da Suécia vem funcionando?

Sim, acreditamos que está funcionando razoavelmente bem, com uma taxa de sucesso bastante decente. Alemanha e Áustria tiveram algum sucesso, mas outros países com lockdowns mais restritos, como Holanda e Bélgica, nem tanto. Acredito que a Suécia está nesse meio termo. Conseguimos fazer isso sem medidas muito extremas e mantendo a sociedade funcionando, o que é muito bom para as pessoas. Nosso serviço de saúde está funcionando, não faltou camas para ninguém (cerca de um terço dos leitos de UTI ainda está disponível). A taxa de mortalidade está reduzindo (já foi de 100 mortes por dia e agora é próxima de 70) e a epidemia em Estocolmo, a região mais populosa, está desacelerando.

O número relativo de mortes é mais alto na Suécia do que em países vizinhos. Como o senhor responde a essa crítica?

Sim, é verdade quando você compara com Dinamarca ou Noruega. Mas quando compara com Bélgica e Holanda, é mais baixo. Não é fácil comparar. É preciso comparar quantas pessoas ficaram doentes na Suécia. Temos algo como 25% por cento da população já imune, o que significa que já atravessamos uma boa parte do caminho. Nossos vizinhos, como a Finlândia, têm 1% da população que já foi infectada, o que significa que eles têm um longo caminho pela frente. Estão apenas começando. Eles terão de colocar muitas medidas em prática por um longo tempo.

Como foi chegar a uma decisão diferente de outros países?

Todo mundo está tentando fazer a mesma coisa: reduzir a disseminação do vírus para não sobrecarregar o sistema de saúde. E manter a sociedade funcionando. Estamos dando a informação para as pessoas, conselhos, recomendações, já que há uma tradição muito forte de confiança entre os suecos e as agências governamentais. Isso sempre foi alto na Suécia. As recomendações têm sido respeitadas.

O senhor já comentou que as viagens reduziram nesse período também, certo?

Na Suécia, diminuiu muito o fluxo (de pessoas nas ruas) e nós estamos colhendo os efeitos disso. O trânsito em cidades como Estocolmo caiu muito. O fluxo de trens está bem abaixo do normal. Na Páscoa, quando muitos suecos viajam, neste ano apenas 10% viajaram. Muita gente está trabalhando de casa. Nós também recomendamos que é preciso ficar em casa quando a pessoa apresenta alguma sintoma de doença, mesmo que leve. Então, há muitas coisas que mostram que estamos tendo resultado com aquilo que colocamos em prática e existe uma grande confiança da população que essa é a coisa certa a fazer. Temos cerca de 80% de aprovação na forma como estamos trabalhando.

Quando a imunidade de rebanho será atingida?

Não temos esse alvo. Acreditamos que a imunidade vai nos ajudar a desacelerar o vírus. Acho que veremos isso nas próximas semanas. A disseminação do vírus vai ficar muito menor e isso tornará a situação mais sustentável para permitir o funcionamento de nossos serviços de saúde e garantir que as populações mais vulneráveis fiquem saudáveis.

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