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Nova Zelândia

Regras claras e disposição para segui-las tornou país da Oceania um lugar desburocratizado e agradável

A estudante paranaense Anne Della Costa, de 25 anos, não ficou surpresa ao ler o ranking de 2009 da ONG Transparência Internacional, que classificou a Nova Zelândia com o menor índice de percepção de corrupção. Vivendo há oito meses na maior cidade do país, Auckland, onde estuda negócios, a confiança e honestidade do local lhe agradam. "Aqui não é tão burocrático. Para abrir conta em banco, não pedem um monte de documentos. Não tenho necessidade de viver comprovando o que tenho", diz.

O presidente da prestadora de serviços de alimentação Exal, Roberto Costa de Oliveira, teve uma experiência parecida nas ilhas neozelandesas, que visitou em 2008 e onde trabalhou pela ONG Visão Mundial. "A exigência por transparência deles é muito grande. E isso torna mais fácil arrecadar dinheiro", conta.

Como membro da ONG, ele precisou entrar em contato com diversos doadores num trabalho de auditoria. "As pessoas se sentem livres para expressar a opinião e contam coisas em detalhes. Também buscam informações em primeira mão. Mas, se notam algo de errado, são os primeiros a protestar", diz Oliveira.

Nas coisas simples do dia a dia, Anne percebeu que a população da Nova Zelândia se orgulha da honestidade. Mas faz o dever de casa para se manter sempre no topo desse ranking: é difícil que alguém passe no sinal vermelho, algo tão corriqueiro no Brasil quanto pechinchar. Já a vigilância ostensiva nas ruas neozelandesas serve para garantir o cumprimento de uma lei levada muito a sério: é proibido beber nas ruas.

Conversando com colegas neozelandeses, Oliveira chegou a uma explicação para a cultura da honestidade estabelecida no país. As levas de missionários que chegaram junto com colonizadores trouxeram valores cristãos que não eram tão diferentes da cultura dos índios maori, população nativa das ilhas, muito familiar e gregária. Na população resultante, chamada kiwi, mais de 50% se de­­claram cristãos. A honestidade já valorizada pelas comunidades aborígenes foi reforçada por valores que prezam a verdade e a vida correta.

"Lá não existe o aspecto exploratório. Nunca senti que alguém tentou me tirar vantagem. Nem mesmo em locais muito turísticos", aprova Oliveira.

Um fator geográfico pode ter contribuído para a "cultura do bem". Assim como acontece com o arquipélago brasileiro de Fernando de Noronha, o país fica muito longe da costa mais próxima (2 mil quilômetros da Austrália), o que torna difícil cometer um delito e pretender fugir rapidamente para longe.

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Somália

Dizimados pela guerra civil desde 1991, somalis precisam seguir regras rígidas para sobreviver

Quando a população de um país é apenas estimada, os poucos negociantes imprimem seu próprio dinheiro e estrangeiros não vão a lugar nenhum sem no mí­­nimo cinco seguranças armados, fica difícil dizer que alguma coisa resta em pé. Apesar de estar imersa na anarquia e de aparecer no noticiário toda semana pelo sequestro de navios em suas costas e ataques na já arrasada capital Mogadiscio, a Somália tem um povo que segue, sim, regras muito claras.

"Se não houvesse, o povo não sobreviveria cotidianamente", diz a enfermeira Gil­­mara Lima Nascimento, que trabalhou no país com a ONG Médicos sem Fronteiras (MSF) em 2007.

Ela esteve também em outras nações africanas e se espanta com a classificação de país mais corrupto do mundo. "Acho difícil que qualquer estatística por lá seja precisa", concorda o professor de Direito do Centro Uni­­ver­­sitário Positivo Rui Carlo Dis­­senha.

O lugar de lanterninha está relacionado à instabilidade do governo, ameaçado por milícias islâmicas. "O governo de Moga­­discio não existe, exceto em uma área restrita no centro da cidade. Para fora, não há polícia, segurança, controle. Cada clã vive isolado em suas terras", conta o repórter francês Olivier Joulie, que esteve no fim do ano na So­­mália, país onde jornalistas e diplomatas não se arriscam a fi­­car mais que alguns dias.

A situação é assim desde que "senhores da guerra" derrubaram o ditador Mohamed Said Barre, em 1991. Hoje, as cidades são assoladas pela Al-Shabaab, milícia que seria aliada à Al-­Qaeda.

No interior das comunidades clânicas, a população sabe muito bem o que pode e o que não pode fazer.

"Nos movimentávamos em caminhonetes. Mesmo o centro de saúde estando a cerca de 500 metros de nosso acampamento, toda a equipe tinha de sair e re­­tornar no mesmo horário, todos juntos. Éramos proibidos de ir ao centro de saúde depois do anoitecer. Deveríamos estar sempre preparados para uma eventual necessidade de fuga, caso o nível de segurança se complicasse", conta Kelly Cardoso, enfermeira brasileira que também trabalhou com a MSF.

"As regras são muito claras e muito duras – são para ser cumpridas, cobradas no cotidiano", complementa Gilmara. Ordem em meio ao caos.

Uma única vez em que Kelly pôde ir ao mercado na Somália, comprou um vestido – daqueles bem coloridos – por US$ 1. Achou que tinha feito uma barganha, quando lhe contaram que um dólar era suficiente para comprar três deles. Voltou para reclamar, mas os comerciantes não voltaram atrás: para ela era mais caro, porque ela podia pa­­gar mais. Concordou. "Não creio que seja diferente de qualquer feira de artesanato do Brasil."

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