• Carregando...
Em Monterrey, o "Corruptour" pretende inspirar mudança política | Rodrigo Cruz/The New York Times
Em Monterrey, o "Corruptour" pretende inspirar mudança política| Foto: Rodrigo Cruz/The New York Times

Em um grande ônibus sem teto, um político corrupto discute pelos alto-falantes com um cidadão nervoso que conta aos passageiros sobre os milhões de pesos que se perderam em uma série de escândalos de corrupção.

Enquanto o diálogo gravado toca, três seguranças sentados em um banco observam o ônibus passar antes de dar uma gargalhada, apontando para a vistosa insígnia vermelha e amarela em sua lateral: o "Corruptour".

O letreiro inclui caricaturas do ex-governador do Estado e do atual. Ambos sorriem para os pedestres, atraindo olhares em cada um dos 11 "marcos da corrupção" que o passeio turístico pretende ressaltar, incluindo o cassino onde atiradores provocaram um incêndio que matou 52 pessoas.

"Nós não conseguimos colocar a questão da corrupção no centro do debate político", disse Miguel Treviaño, diretor do projeto Corruptour e membro fundador da Via Ciudadana, um dos muitos grupos locais que trabalham para elevar a consciência política e social aqui na cidade mais rica do México.

"Precisamos torná-la tangível e compreensível para as pessoas, explicar suas implicações diretas em nossas vidas cotidianas, para que elas queiram combatê-la."

A violência que até 2012 definia esta cidade industrial de 1,1 milhão de pessoas diminuiu. Uma nova força policial estadual, conhecida como Fuerza Civil, vem recrutando e treinando mais de 4.000 policiais que passaram por testes com detector de mentiras.

Mas permanece uma ampla corrupção no governo de Monterrey, e no México em geral.

Durante décadas, a corrupção e a impunidade inspiraram apatia e raiva, e ambas estiveram novamente visíveis nos últimos meses, quando o presidente Enrique Peña Nieto, durante uma entrevista na televisão, descreveu a corrupção como basicamente um "problema cultural".

Muitos interpretaram o comentário como uma frágil tentativa de desculpar os roubos públicos em vez de tentar contê-los.

Mas alguns discordam da inexorabilidade da corrupção.

Em uma tarde recente, a excursão começou pelo palácio do governo, um edifício de granito do século 20 onde fica o gabinete do governador do Estado de Nuevo León, Rodrigo Medina.

O guia do ônibus falou aos passageiros sobre a dívida pública do Estado, que subiu para quase 73,6 bilhões de pesos (cerca de R$ 13 bilhões), sendo a segunda maior do México.

Quando o ônibus passou pelas ruínas do Casino Royale —o centro de jogos incendiado em agosto de 2011—, um morador local que estava no ônibus, Edmundo Jiménez, ficou furioso.

Ele disse que sua mulher havia morrido naquele incêndio.

Na época, houve questionamentos sobre se a corrupção estava entre as causas.

O irmão do prefeito de Monterrey foi gravado em vídeo recebendo dinheiro de outro cassino. Ele foi detido, então seu advogado disse que o dinheiro era para comprar queijo de Oaxaca. Dois meses depois, ele foi libertado.

A investigação revelou que fiscais de segurança do governo suspeitos de receber propinas não tinham feito seu trabalho direito. No interior do prédio havia várias infrações ao código de obras, como saídas de emergência bloqueadas.

"Está na hora de acordar, ou o México vai naufragar", disse Jiménez.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]