• Carregando...
Faz frio na Times Square, em Nova York: profissionais da cidade usam criatividade contra desemprego | Lucas Jackson / Reuters
Faz frio na Times Square, em Nova York: profissionais da cidade usam criatividade contra desemprego| Foto: Lucas Jackson / Reuters

Para o mundo culinário de Nova York, com seu interminável apetite e suas cozinhas minúsculas, o prédio é impressionante. Dentro dele, existe uma operação ininterrupta construída sobre a necessidade, a ambição e a nostalgia. Marisa Angebranndt, que perdeu o emprego em um fundo de ações quando Wall Street entrou em colapso, hoje faz bolinhos ali. Shefalee Patel, que participou de um ambicioso projeto de construção no Oriente Médio, usa o espaço para preparar doces indianos.

Em um quarteirão do Queens, as duas, além de outros cozinheiros, pagam por turno para usar uma cozinha comercial equipada com misturadoras de 80 litros, caldeirões fritadores e fornos enormes, preparando comidas que são vendidas na internet, em mercados locais e lanchonetes. O espaço é alugado por turnos; o mais caro é entre 8 h e 16 h, que custa US$ 231 (cerca de R$ 389), e o mais barato é da 1 h às 7 h da manhã, por US$ 154 (R$ 259).

A cozinha, de 511 metros, é tanto um refúgio para sonhadores quanto um meio de ganhar a vida para os desempregados. "Há muitas pessoas aqui que trocaram de carreira, muitos gastrônomos casuais que canalizaram suas energias à cozinha como uma forma de fazer dinheiro", disse Meg LaBarbara, ex-consultora de viagens que faz molhos e se espalha pela cozinha, chamada de Espaço do Empreendedor.

Quando trabalhava no fundo de ações, Marisa Angebranndt, de 35 anos, organizava reuniões para executivos de alto nível. Depois que o fundo fechou, em 2008, ela investiu sua rescisão e economias nos bolinhos, adaptando a receita de biscoitos de sua avó e recheios próprios – sem marshmallow, mas com vários sabores de creme. "Percebi que tinha menos dinheiro, mas também menos estresse e mais diversão".

Shefalee Patel, de 32 anos, participou do desenvolvimento das ilhas artificiais na costa de Dubai, nos Emirados Árabes, até ser demitida no ano passado. A ideia de fabricar doces para vender lhe ocorreu pela primeira vez ainda em Dubai, onde ela percebeu que os chocolates eram empacotados e consumidos como artigos de luxo. Quando perdeu o emprego, colocou-a em ação.

Rede informal

A cozinha, rara em sua abordagem, resolve muitos problemas. Ela oferece um espaço que as pessoas não têm em casa, é totalmente equipada e em conformidade com o código de vigilância sanitária da cidade. O local também estimula uma rede informal, onde os cozinheiros combinam pedidos de compra para coisas como manteiga e azeite para economizar, ou usam uns aos outros como provadores.

Porém, como muitos de seus usuários, a cozinha sofreu com a queda da economia. Ela costumava funcionar como um local de treinamento para trabalhadores sindicalizados, disponível para aluguel por cozinheiros comerciais à noite e nos fins de semana. Quando as doações e financiamentos secaram, contudo, o Consórcio para Educação do Trabalhador – o grupo sindical sem fins lucrativos que financiava a iniciativa – não pôde mais arcar com o preço do espaço.

O local deveria ter fechado no final de agosto, mas sua gerente, Kathrine Gregory, pensou em um plano de sobrevivência e convocou os cozinheiros para ajudá-la.

Um fez patê vegetariano. Outro assou pães. Meg LaBarbara fez uma pasta de tomate seco, e Marisa Argebranndt, é claro, fez bolinhos recheados. A comida foi apresentada a um pequeno grupo de autoridades da cidade e grupos sem fins lucrativos, que haviam ido à cozinha para ouvir a proposta de Kathrine. Eles foram embora após combinar um pacote de apoio de mais de US$ 250 mil e um contrato de aluguel de US$ 1 por ano pelo equipamento.

Seth Bornstein, diretor executivo da Queens Economic Development Corp., que investiu US$ 100 mil na iniciativa, descreveu a cozinha como "um laboratório em assumir riscos". O fechamento da cozinha teria desalojado cem pequenas empresas, como a Wanna­HavaCookie, de Marisa, a Dinner’s Almost Finished, de Meg, e a Sweet Silk, de Shefalee.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]