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Políticos buscam refúgio no protecionismo

Uma reação aos efeitos da crise econômica que vem sendo ligada à xenofobia é o aumento do protecionismo comercial.

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      A escorregada diplomática do Brasil ao condenar precipitadamente a Suíça pela agressão que a pernambucana Paula Oliveira disse ter sofrido nas mãos de neonazistas, somada à reação feroz da opinião pública daquele país, mostra o quanto a xenofobia está em pauta no Velho Mundo.

      De um lado, cerca de 8 milhões de imigrantes ilegais pedem para ser regularizados. Para eles, a tese de que o ódio racial cresceu não deixa de ser conveniente. De outro, a União Europeia corre para homogeneizar as políticas de imigração de seus 27 países-membros, tarefa nada fácil que coloca o tema no noticiário e vem despertando críticas nos países de origem dos imigrantes. Além do endurecimento da legislação, parte da população europeia ainda identifica a presença de estrangeiros em seus países com a crise econômica.

      "A noção da sociedade é que a situação não decorre do próprio capitalismo e da especulação. Joga-se o sentimento de fracasso na figura do imigrante", diz a doutoranda em Direitos Humanos da Universidade Espanhola Pablo de Olavide, Gisele Ricobom.

      Esse sentimento estaria por trás de medidas como as patrulhas organizadas por italianos no norte da Itália para prevenir crimes cometidos por "extra-comunitários", como são chamados os estrangeiros no país.

      Na Suíça, campanhas do Partido do Povo Suíço (cuja sigla "SVP" Paula Oliveira teria gravado na própria pele para simular um ataque de skinheads) geraram polêmica pelo teor xenófobo, como cartazes retratando o imigrante como "ovelha negra". Mais de 20% da população suíça e 25% da força de trabalho do país não é naturalizada.

      Apesar de o partido de extrema direita ser o maior do país, é na Itália que mais avança a criminalização dos ilegais. Na semana passada, o tempo máximo que um imigrante ilegal pode ser detido antes de ser deportado passou de dois para seis meses, e o premier Silvio Berlusconi garantiu no Senado uma lei que permite a médicos delatarem pacientes ilegais.

      Mas o problema não é só relacionado à legalidade do imigrante. Escapa para o campo da xenofobia: prova disso é a situação dos romenos no país. Desde que a Romênia entrou para a União Europeia, em 2007, cerca de 1 milhão de romenos na Itália são considerados popularmente cidadãos europeus de "segunda classe". É a etnia, ao lado de marroquinos e albaneses, que mais sofre discriminação.

      Em âmbito comunitário, a União Europeia já aprovou regras mínimas relacionadas à deportação de ilegais, que serão implementadas até 2011, além de sanções a empregadores que contratarem ilegais.

      Nome aos bois

      Para a União Europeia, medidas protecionistas decorrentes da crise global e a reivindicação de empregos para cidadãos do país, como ocorreu nas últimas semanas no Reino Unido, não devem ser confundidas com xenofobia.

      "Para nós é importante a imigração, basta ver a situação demográfica. É uma sociedade cada vez mais velha e se quisermos manter a economia precisamos de jovens", diz o conselheiro político da delegação da Comissão Europeia no Brasil, Christian Burgsmüller.

      "Livrar-se dos estrangeiros, o que a oposição suspeita ser a verdadeira agenda do SVP, seria um desastre econômico", declarou o deputado social-democrata suíço Mario Fehr ao jornal The Independent.

      Por outro lado, Burgsmüller considera que há um descompasso entre as necessidades de trabalhadores e as multidões que tentam trabalho, vindas principalmente da África.

      "Será que os europeus seduzidos cada vez mais pelas novas direitas irão enxergar o que elas realmente são: nacionalistas que ameaçam a posição da Europa num mundo cada vez mais global?", questiona o deputado inglês Glyn Ford em artigo publicado pela ONU.

      Novo mundo

      Para a diretora de estudos culturais da Universidade de Houston, no Texas, Marie-Theresa Hernández, ao contrário de estimular a xenofobia, nos Estados Unidos a crise econômica desviou a atenção que antes estava fixada no ódio racial. No fim de 2008, dois equatorianos foram mortos em Long Island, no estado de Nova Iorque, por pessoas anti-hispânicas.

      Marie, filha de mexicanos, vê com mais frequência manifestações sutis de discriminação. "Estava passando pela alfândega quando o funcionário começou a me dizer que nasceu numa fazenda do Texas e que sua família está ali há dez gerações. É assim que a xenofobia se expressa: "Eu sou melhor que você porque estou aqui há mais tempo."

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