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Bandeiras cubanas diante da embaixada dos EUA em Havana. | Alexandre Meneghini/Reuters
Bandeiras cubanas diante da embaixada dos EUA em Havana.| Foto: Alexandre Meneghini/Reuters

Com a mudança do cenário econômico na América Latina – principalmente em seu maior parceiro na região, a Venezuela, que vive um de seus mais graves momentos de desemprego e inflação – e as recentes alternâncias políticas, Cuba precisará se readaptar para enfrentar os efeitos colaterais das crises de seus aliados.

Termina assim uma era favorável para a ilha, que começou com a chegada de Hugo Chávez ao poder na Venezuela, em 1999 – com sua ajuda, Havana superou o isolamento e a crise econômica na qual estava mergulhada desde a queda do regime soviético no início da década de 1990.

No último ano, a Argentina deixou para trás os tempos dos Kirchner, Evo Morales perdeu um referendo fundamental para ampliar seu mandato, o Brasil trocou interinamente de governo, e o Equador se prepara para a possível substituição de Rafael Correa. Com isso, em abril, o governo de Raúl Castro, que até pouco tempo contava com um horizonte favorável, denunciou “uma forte e articulada contraofensiva imperialista” que coincide com a desaceleração da economia latino-americana.

Além de ser seu principal parceiro comercial – com um intercâmbio que chegou a US$ 7,258 bilhões em 2014 – a Venezuela fornece a Cuba 95 mil barris de petróleo diários em condições de pagamento extremamente favoráveis. Analistas calculam que a perda dessas regalias representaria um impacto negativo para Cuba de aproximadamente US$ 1,3 bilhão anuais.

Mas, apesar dos números negativos, a socióloga cubana Marlene Azor Hernández vê o desafio como um fato positivo para acelerar reformas internas no país.

“A Venezuela continua sendo seu aliado mais forte e seu primeiro sócio comercial. Mas o governo cubano mantém, há cerca de cinco anos, uma estratégia de diversificar sua dependência externa com outros parceiros econômicos, como a Europa, principalmente a Espanha, por um lado, e os Estados Unidos, de outro, além de países na América Latina, como Brasil, Chile e Uruguai. Por isso, se a crise impactará Cuba, não a asfixiará totalmente’, afirma. “O cenário é difícil, cheio de desafios, mas também é uma possibilidade positiva para que o governo cubano aprofunde as reformas econômicas internamente.”

Andy Gomez, do Instituto para Estudos Cubanos e Cubano-americanos da Universidade de Miami, não é tão otimista. O especialista acredita que o país terá de enfrentar grandes desafios econômicos.

“Economicamente, Cuba continuará tentando seduzir turistas americanos para a ilha, bem como investidores estrangeiros ao redor do mundo. No entanto, até que o governo cubano mude sua maneira de fazer negócios, os riscos são maiores do que as oportunidades”, explica, de Miami. “A relação com os EUA continuará a se mover muito lentamente, já que questões importantes, tais como o embargo e [a base de] Guantánamo, não serão tratadas antes das eleições presidenciais americanas.

Michael Shifter, presidente do Inter-American Dialogue, concorda: “A mudança de cenário político da região é menos acolhedora do que anos atrás. A retórica de apoio ao governo cubano se reduzirá”, disse o presidente do centro de pesquisa com sede em Washington. “Para Cuba, muito mais grave do que as mudanças políticas é a crise econômica no Brasil e, particularmente, na Venezuela.

Para Jorge Duany, diretor do Instituto de Pesquisas Cubanas da Universidade da Flórida, Cuba já se antecipou ao cenário adverso.

“É possível interpretar a aproximação diplomática do governo de Raúl Castro com os Estados Unidos, em parte, como uma resposta preventiva à contínua deterioração econômica e política de Venezuela”, afirma.

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