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Cristãs presas em, Azamgarh, na província de Uttar Pradesh, na Índia, em 18 de agosto de 2022.
Cristãs presas em, Azamgarh, na província de Uttar Pradesh, na Índia, em 18 de agosto de 2022.| Foto: Portas Abertas

“Católicos doutrinam crianças em orfanatos, intoxicam as mentes dos alunos nas escolas, aproveitam-se da debilidade dos doentes nos hospitais e compram os corações dos mais pobres e camponeses”, dizem os ativistas do partido BJP, do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, para colocar hindus contra cristãos no país, em discursos oficiais e através das redes sociais.

Desde que Modi chegou ao poder na Índia, em 2014, a perseguição religiosa aos cristãos aumentou drasticamente no país, apesar do governo se autointitular “socialista e laico”. Uma das promessas de campanha do premiê era de que a Índia se tornaria um país 100% hindu até o fim deste ano.

Com o pretexto de proteger o hinduísmo, a lei anticonversão assinada em dezembro de 2021 aumentou a perseguição a outras religiões, em especial ao islamismo e ao cristianismo. O simples ato de falar sobre a fé cristã, por exemplo, pode ser considerado um crime grave. Também é proibido celebrar datas e festas cristãs, como o Natal.

Tendo radicais hindus no poder, cristãos estão sendo expulsos de suas casas, pessoas perdem a guarda dos filhos e empregos, são presas e espancadas. Durante os picos da pandemia de Covid-19, o governo indiano chegou a proibir doações a comunidades cristãs.

De acordo com a Missão Portas Abertas Brasil, a perseguição aos cristãos na Índia se dá, antes de tudo, pelo nacionalismo religioso. De acordo com esse conceito, os radicais definem que todo aquele que nasce no país pertence ao hinduísmo e que se converter para outra religião é uma traição.

O pastor Shekhar (cujo sobrenome é omitido por segurança), protegido pela organização cristã, estava em oração com colegas em uma igreja na cidade de Ambala, no norte do país, quando policiais chegaram e espancaram os religiosos.

O líder cristão levou golpes de bambu nas costas, nos pés e na cabeça, até estourarem os tímpanos dele. Após a sessão de tortura, os policiais determinaram que, se ele não saísse da cidade, seria preso. “Foi o maior desgosto da minha vida deixar minha igreja e todos os membros para trás”, disse Shekhar, conforme revelou à Portas Abertas.

“Chegam viaturas da polícia, te pegam à força e te deixam preso por horas. Eu vivi com muito medo após passar por isso várias vezes”, relatou Sudeep (com sobrenome omitido também por segurança), outro cristão perseguido, segundo a associação católica. Ele recebeu apoio jurídico, além de uma ajuda financeira da organização para montar um negócio de vendas de roupas durante a pandemia.

De acordo com o depoimento de Sudeep, policiais chegaram a ameaçar matá-lo caso não abandonasse o cristianismo, mas com apoio da comunidade cristã ele tem resistido no país. “Não estou fazendo nada de errado ao viver minha fé”, declarou.

“Lei anticonversão é uma paranoia ditatorial” 

“Toda a nação, governos e autoridades do país aplicam leis que tiram os direitos de membros de outras religiões, chegando à paranoia ditatorial”, destaca Mauro Cruz, secretário-geral da associação.

Como uma sociedade de castas, ainda existe o que Cruz define como uma “opressão de clã” e uma “hostilidade etnorreligiosa", através das quais os cristãos são colocados como uma categoria social inferior, o que os sujeita a perderem seus direitos e sofrerem violência.

A educação cristã como um todo está ameaçada. Na pequena cidade de Pandavapura, ao sul da Índia, a irmã Luisa, da ordem dos salesianos de Maria Imaculada, dirige a escola São José. No ano passado, como todos os anos, ela organizou uma festa para as crianças no Natal. “Havia uma centena de alunos, 80% deles hindus. Um homem foi vestido de Papai Noel e então uma dezena de pessoas se manifestaram em frente à escola nos acusando de converter as crianças”, disse Luisa ao jornal Le Figaro.

Depois disso, segundo a religiosa, surgiram ameaças de tomar o terreno dos salesianos e a escola gerida por eles.

Tendência de maior perseguição nos próximos anos 

Apesar das movimentações a favor dos perseguidos na Índia, a expectativa é que as agressões a cristãos se intensifiquem daqui para frente, seguindo a alta dos últimos anos no mundo. De 2015 a 2022, houve um aumento de mais de 30% no número de cristãos perseguidos no planeta. São mais de 360 milhões de pessoas.

“A paranoia ditatorial, com governos cada vez mais hinduístas e com propósito de eliminar o cristianismo no país, tende a ser uma realidade”, reforça Cruz.

O partido de Modi obteve maioria absoluta no parlamento em 2019, o que significa que o primeiro-ministro seguirá no poder por mais cinco anos. “Hindus linha-dura vão, portanto, continuar a atacar cristãos e muçulmanos impunemente e o nível de violência provavelmente continuará extremo”, conclui o secretário-geral da Portas Abertas.

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