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O pagode com Arlindo Cruz acontece na quinta | Reprodução www.tcvultura.com.br/bembrasil
O pagode com Arlindo Cruz acontece na quinta| Foto: Reprodução www.tcvultura.com.br/bembrasil

São Paulo – O padre Hani Adbel Ahad e cinco fiéis haviam acabado de sair da Igreja da Sabedoria Divina, em Bagdá, quando foram parados por um bando. Eram seqüestradores que os levaram. O crime ocorreu no dia 6, três dias após o assassinato em Mossul, no norte do Iraque, do padre Ragheed Ganni, de 31 anos, e de três de seus auxiliares, mortos pouco depois da missa na Igreja do Espírito Santo. A perseguição à minoria cristã no país é feita de seqüestros, atentados, execuções, extorsões, conversões forçadas e emigração de milhares de pessoas. Uma das mais antigas comunidades cristãs do mundo, ela reunia cerca de 750 mil membros (3% da população do país) antes da deposição de Saddam Hussein, em 2003.

"O que está ocorrendo no Iraque é um crime contra a humanidade", disse o monsenhor Philip Najim, procurador apostólico da Igreja Caldéia (católica) no Vaticano. "A situação de nossos irmãos no Iraque é trágica", disse o arcebispo greco-melquita de São Paulo, d. Fares Maakaroun. Como a Caldéia, a Greco-Melquita é uma das Igrejas Católicas orientais presentes no Iraque.

O Vaticano procura chamar a atenção do mundo para a perseguição religiosa empreendida por terroristas xiitas e sunitas. Em Bagdá os cristãos do bairro Dora estão sendo obrigados a pagar a jiza, antiga taxa islâmica imposta pelos sultões aos súditos infiéis. Quem não paga os US$ 150 ou US$ 200 anuais tem de converter-se ao Islã ou abandonar tudo, o bairro ou a cidade onde construiu sua vida. Com a fuga forçada dos cristãos, duas igrejas desapareceram em Dora. A de São João Batista foi destruída depois do assassinato de seus guardas e a de São Jacó foi transformada em mesquita. Esta já havia sido alvo de atentados em 2004. Em maio, depois de sua milícia ser acusada de tentar impor o véu às cristãs, o clérigo xiita Moqtada al-Sadr prometeu defender os cristãos em Dora. No dia 6, o governo também prometeu proteção à comunidade.

Antes da guerra, a comunidade cristã no Iraque, apesar de pequena, era rica. Seus integrantes eram comerciantes, engenheiros, médicos, professores, tradutores e jornalistas. No governo de Saddam era representada por Tareq Aziz, o vice-primeiro-ministro do regime. "Vivíamos melhor sob o regime de Saddam do que agora. Apesar da ditadura, havia um Estado", disse o monsenhor Najim, que nasceu em Bagdá e cresceu sob o regime de Saddam. "Hoje vemos extremistas, integristas, grupos e milícias que governam áreas do país. O Iraque caiu nas mãos dos terroristas."

Êxodo

Com isso, milhares de cristãos resolveram fugir. Quase metade dos cristãos de Bagdá e três quartos dos de Basra deixaram as duas cidades. Rumaram para a região curda, no norte, e para o exterior. Organizações cristãs calculam em 500 mil os que deixaram o Iraque, a maioria para a Síria. Só em Damasco, os cristãos iraquianos já são 40 mil. Há ainda quem escolheu a Jordânia, o Egito e a Turquia. De 1,5 milhão de refugiados iraquianos por causa da guerra, um terço é de cristãos.

Muitos cristãos acabam seqüestrados por extremistas, que cobram resgate de seus parentes. Assim também ocorre com os sacerdotes da outrora rica Igreja Caldéia. "Estamos enfraquecidos, pois tivemos de pagar muitos resgates para libertar sacerdotes seqüestrados", contou o monsenhor Najim.

"Os cristãos vivem em suas casas como se fossem prisões. Não se pode sair sem o risco de ser morto ou seqüestrado", disse o padre F. A., um sacerdote sírio-católico de Mossul. F. A. pediu que seu nome não fosse publicado, pois teme represálias Ele pertence à segunda maior comunidade católica iraquiana, a dos sírios. Somados, os católicos (sírios, caldeus, coptas, armênios e melquitas) são cerca de 600 mil fiéis, concentrados sobretudo em Bagdá e no norte do país.

Foi F. A. quem contou como foi a morte de Ragheed. "Ele havia acabado de rezar a missa. Estava com três assistentes litúrgicos e uma mulher. O grupo se havia distanciado algumas centenas de metros da igreja quando foi cercado por dezenas de muçulmanos – 60 a 70 homens. Eles bloquearam a rua, retiraram a mulher do grupo e assassinaram o padre e seus assistentes."

Para os cristãos, a situação piora a cada dia. Em entrevista à revista 30 Giorni, dirigida pelo ex-primeiro-ministro italiano Giulio Andreotti, uma freira que trabalha para a organização humanitária Caritas resumiu o problema. "Os sunitas seqüestram e matam xiitas, enquanto os xiitas seqüestram e matam os sunitas. Mas tanto os xiitas como os sunitas seqüestram e matam os cristãos."

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