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Miliciano Séléka descansa após caçada por antibalakas | Goran Tomasevic/Reuters
Miliciano Séléka descansa após caçada por antibalakas| Foto: Goran Tomasevic/Reuters

Fuga

Mulher se refugia em igreja depois de ter o marido assassinado

Ladi Soudi passa seus dias no interior da igreja cuidando de seus sete filhos depois que seu marido foi morto três meses atrás. Ela levanta sua echarpe lilás para mostrar onde foi atingida por um facão. Suas mãos trazem as cicatrizes de ferimentos de defesa da manhã na qual seis combatentes cristãos atacaram sua casa. Quando ela percebeu que seu marido, Mamadou, não sobreviveria, ela pegou as crianças e se embrenhou na floresta, com os ferimentos na cabeça e nos pulsos ainda sangrando. Agora, ela quer sair do país onde vive desde os 12 anos.

Milícia Antibalaka

São milícias cristãs que perseguem os islâmicos na República Centro-Africana. As milícias antibalaka nasceram em reação às agressões cometidas contra a população pelos combatentes Séléka – que são em sua maioria muçulmanos – desde que eles tomaram o poder, em março de 2013.

História

Governo interino não consegue conter violência entre grupos religiosos

A tensão entre cristãos e muçulmanos piorou depois de 24 de março de 2013, quando um golpe de Estado derrubou o presidente cristão François Bozizé, que estava no poder desde 2003. O país, de maioria cristã, passou então a ser comandado pelo muçulmano Michel Djotodia, integrante da milícia Séléka. Em janeiro de 2014, ele deixou o cargo sob forte pressão internacional, mas a renúncia não melhorou a questão da segurança. O país é governado hoje pela presidente Catherine Samba-Panza, eleita em 20 de janeiro de 2014 pelo Conselho Nacional de Transição da República Centro-Africana, e pelo primeiro-ministro André Nzapayeké. O governo interino, porém, não tem sido capaz de conter a violência. Os islâmicos são perseguidos principalmente por milícias cristãs, conhecidas como "antibalaka". E os muçulmanos na igreja de Carnot pouco sabem de seu futuro.

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Homens velhos cujos olhos estão nublados pela catarata; órfãos que testemunharam a morte de seus pais e ficaram sozinhos para procurar um local seguro; viúvas carregando sete ou mais crianças, sem qualquer certeza de como sobreviverão assim chegam as pessoas a uma igreja que se tornou um lugar de proteção da violência religiosa na República Centro-Africana.

O padre Justin Nary e seus colegas vêm cuidando de 900 muçulmanos na igreja católica de Carnot desde fevereiro, quando combatentes de uma milícia cristã atacaram a cidade. Nas semanas que se seguiram, centenas de outros muçulmanos caminharam até a igreja depois de ouvirem informações na floresta de que havia um reduto seguro.

Capacetes azuis camaroneses armados nos portões do complexo da igreja têm, até agora, mantido os milicianos cristãos a distância. Os que permanecem dormem durante a noite no interior da igreja ou em barracas armadas no complexo.

Combatentes cristãos na região já ameaçaram atear fogo à igreja e ameaçaram de morte os padres que trabalham lá. Um muçulmano que saiu recentemente da igreja foi gravemente ferido por milicianos cristãos na cidade, informou Nary.

O grupo humanitário francês Médicos Sem Fronteiras (MSF) dirige uma clínica médica no local. "Algumas pessoas vivem aqui, virtualmente fechadas, há mais de três meses. Elas têm comida, água e acesso à saúde, graças ao MSF, mas estão cansadas e envelhecendo prematuramente", escreveu Muriel Masse, coordenadora do grupo em Carnot, num recente despacho. "Não há nada que possamos fazer. Nós ouvimos, porque eles precisam falar. Quando podemos, tratamos de doenças crônicas e pequenos ferimentos, mas, embora eles estejam particularmente doentes, estão psicologicamente exauridos."

Os muçulmanos desalojados acordam logo cedo. Com o nascer do sol mercadores fazem fila na cerca onde os islâmicos podem comprar comida e outros bens dos cristãos, que estão do lado de fora. Soldados armados das forças de paz escoltam meninos quando eles levam para pastar o gado de outras famílias que vivem no local, informou uma equipe de reportagem da Associated Press que esteve na igreja em abril.

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