
Buenos Aires - A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, respondeu ontem às críticas ao "escândalo da pobreza no país com um plano bilionário para a geração de 100 mil empregos e um discurso irônico dirigido à oposição.
"Sempre nos exigem publicidade sobre os pobres e segredo sobre os ricos. Já observaram isso? É notável, disse Cristina, em discurso transmitido em cadeia nacional de tevê.
A expressão "escândalo da pobreza, aplicada à conjuntura social argentina, foi empregada neste mês pelo papa Bento 16 e rapidamente encampada pelos líderes ruralistas, que, em disputa com o governo, promoveram locaute em 2008.
Há divergência sobre a quantificação da pobreza no país. O Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), órgão federal sob suspeita de manipular índices, aponta 15,3% de pobres, considerados como indivíduos economicamente ativos cuja renda é insuficiente para pagar a cesta básica de alimentos e serviços.
Por outro lado, a Igreja Católica e fundações privadas estimam que a pobreza atinja aproximadamente 37% da população argentina.
"Sempre se faz censo dos pobres. Alguém deveria fazer um censo dos ricos na Argentina, para ver qual é a brecha real entre os que mais têm e os que menos têm, disse a presidente, falando de improviso.
Telhado de vidro
Nesse momento, Cristina pareceu ter-se dado conta de que abriu um flanco ao contra-ataque, já que o admitido aumento de 158% no patrimônio do casal Kirchner no último ano se tornou um trunfo da oposição e um tema insistente da imprensa argentina.
Ela fez então um adendo: "Alguém dirá que o censo [dos ricos] está na Afip [órgão homólogo da Receita Federal], [mas esse é o censo] dos que pagam os impostos, dos que não praticam evasão fiscal.
O plano de geração de empregos prevê investimento inicial de 1,5 bilhão de pesos (R$ 700 milhões), chegando a totais 9 bilhões de pesos (R$ 4,2 bilhões). A meta é distribuir 2.400 pesos (R$ 1,1 mil) por mês aos cadastrados, que deverão fazer trabalhos comunitários em sistema de cooperativa.
A presidente encerrou o anúncio com uma referência implícita à tensa relação de seu governo com a imprensa.
Citou o fuzilamento do governador Manuel Dorrego em 1828, para dizer: "Talvez não se repitam os fuzilamentos, que são da história do século 19 e do século 20. Ou talvez tenham surgido outros tipos de fuzilamento, como o midiático.



