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Bill Hayes viu recentemente uma menina num trem do metrô com destino a Manhattan e percebeu que ela estava lendo um livro com um título que dizia algo como "Tornando-se um Pensador Prático".

"Tive um impulso de rasgar o livro das mãos dela", escreveu Hayes no "The New York Times". "Não faça isso. A praticidade não a levará aonde você quer ir."

A experiência dele serve como exemplo. Hayes contou que, quando chegou a Nova York pela primeira vez, entrou num trem para Far Rockaway, o que, como sabe qualquer nova-iorquino, é o sentido oposto a Manhattan.

"Mas apanhar trens errados, encontrar atrasos inesperados e sofrer avarias mecânicas ocasionais é inevitável em qualquer viagem que realmente valha a pena fazer", escreveu Hayes.

Sua mudança de carreira aos 48 anos —chegando a Nova York para tentar a vida como escritor— revelou o seu lado nada prático. E quanto mais cultivou esse lado, disse ele, melhor se saiu.

"Todas as decisões que já tomei no sentido de mudar de vida pareceram, à primeira vista, equivocadas, mal calculadas ou simplesmente tolas", escreveu.

"E afinal se revelavam o contrário: cada pessoa aparentemente errada pela qual me apaixonei, cada grande viagem na qual esbanjei, cada ótimo apartamento onde morei sem ter realisticamente como pagar".

A noção de prático, em se tratando de algo simples como um almoço, depende de onde você está sentado. Ou de onde trabalha.

O setor de mídia em Nova York costuma fazer negócios durante almoços de trabalho em restaurantes do Midtown, como o Michael e o Four Seasons.

Mas, para novas empresas do setor, influenciadas pela cultura empresarial do Vale do Silício, um almoço em um restaurante parece formal demais.

Quando Kanyi Maqubela, sócio do Collaborative Fund, decidiu investir US$ 500 mil (R$ 1,28 milhão) em uma start-up educacional, ele encontrou o fundador da empresa junto a um "food truck" de pizza em San Francisco, depois caminharam e se sentaram numa praça ao ar livre.

Um almoço em um restaurante seria pouco prático, segundo Maqubela. "Fica mais difícil sacar um computador e mostrar uma apresentação para investidores e um 'slide show'", disse ele. A reunião inteira durou 45 minutos.

Para se deslocar em Nova York, dificilmente haveria algo menos prático que um Citroën, já que esses carros praticamente desapareceram da área.

Mas Brian Brandt, que é dono de uma gravadora de jazz e música erudita contemporânea, dirige Citroëns há 40 anos, desde que comprou um DS ano 1966 usado por US$ 300 (R$ 771), aos 17 anos.

Tempos atrás, Brandt resolveu aprender mecânica com Winsley Thomas, que trabalhou na fábrica da empresa em Englewood (Nova Jersey) entre 1968 e a sua desativação, em 1977.

Os donos de Citroëns da região levam seus carros à oficina deles, mas não é um negócio lucrativo.

"Acho que tenho dois negócios impraticáveis", disse Brandt ao "Times". "Há falta de retorno no setor fonográfico, mas eu ainda gosto de preparar sessões de gravação em salas de concerto."

Como muitos "baby boomers", Kevin Monko, 58, sonhou um dia em viver de música. Aspectos práticos —o trabalho, a esposa, os filhos e uma mudança para os subúrbios— interferiram nisso.

Mas, num fim de semana recente, ele tocava violão numa feira nos arredores de Filadélfia. Monko já gravou um CD e faz vários shows com um grupo de bandolinistas e trombonistas.

"Quando eu estou tocando, não tenho como ficar mais feliz", disse ele. "Tenho a sorte de ter gente tocando comigo em várias bandas, e tocamos em diferentes lugares, ganhamos um dinheirinho e nos divertimos muito."

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