• Carregando...
Policial vigia trator em Santa Rosa del Monday, a 100 km de Foz do Iguaçu. | Christian Rizzi/Gazeta do Povo
Policial vigia trator em Santa Rosa del Monday, a 100 km de Foz do Iguaçu.| Foto: Christian Rizzi/Gazeta do Povo

É sob a proteção de policiais fortemente armados que imigrantes brasileiros radicados no Paraguai conseguem plantar a soja nesta época do ano. Constantemente ameaçados por sem-terra, eles passaram a contar com a polícia para intimidar os invasores, evitando que as propriedades sejam ocupadas e o patrimônio depredado. A situação está tensa a ponto de os agricultores anunciarem um protesto. Nos dias 15 e 16 de dezembro, eles colocarão colheitadeiras e maquinários nas rodovias para o que chamam de o maior tratoraço já realizado no Paraguai, com adesão de pelo menos 400 mil produtores. Com o protesto, os agricultores pretendem sensibilizar o governo e obter garantias para o plantio no campo.

A custódia policial em propriedades rurais no Paraguai começou a ser adotada recentemente, com autorização do governo federal, após o recrudescimento da tensão no campo. Para cobrar a promessa de reforma agrária feita pelo presidente Fernando Lugo durante a campanha eleitoral, os sem-terra estabeleceram uma onda de invasões.

No mês passado, o governo autorizou o envio de 100 policiais para o estado de San Pedro, Norte do Paraguai, considerada a região mais conflituosa. Mas, nos demais estados paraguaios, policiais das delegacias locais também vigiam propriedades privadas com autorização da Justiça. Em Santa Rosa del Monday, a 100 quilômetros de Foz do Iguaçu, nove policiais protegem a fazenda de 1.667 hectares do brasileiro Miro Shuster, 63 anos. Há 34 anos no Paraguai, hoje ele passa por um dilema: continuar ou não vivendo no país. "Se o governo não resolver, nossa intenção é vender as propriedades e ir embora", lamenta. A fazenda de Shuster, que pertence ao Grupo Igra, foi invadida pela primeira vez em agosto. Após serem retirados pela polícia, os campesinos voltaram e reocuparam a propriedade por três vezes seguidas. Temendo uma invasão em plena época do plantio, Shuster conta com apoio da Polícia Nacional do Paraguai . Ele fornece alimentação e combustível para os agentes, que pernoitam na propriedade.

O inspetor e chefe dos agentes, Roberti Romero, diz que o grupo faz rondas pela fazenda. "Há rumores de que os sem-terra podem queimar tratores", diz. O temor de trabalhar partiu dos funcionários que alegam ter medo de serem atacados pelos campesinos. Há cerca de dois meses, os sem-terra atearam fogo em um trator de um proprietário brasileiro no estado de San Pedro.

Apesar das dificuldades, Shuster acredita no potencial do Paraguai. "Se o Paraguai conseguir cortar a corrupção, se tornará o melhor país da América do Sul, por ser pequeno e produtivo."

O problema em época de plantio não é exclusivo dos brasileiros. No estado de Alto Paraná, uma fazenda pertencente a imigrantes alemães, na localidade de Los Cedrales, e outra dirigida por descendentes de japoneses, em Iguazú, estão sob a guarda da polícia.

O presidente da União de Grêmios de Produção (UGP), Héctor Cristaldo, calcula que pelo menos 150 propriedades estejam enfrentando problemas com sem-terra e dificuldades para fazer o plantio da soja, o que pode comprometer o resultado da próxima safra.

A UGP reivindica que o governo faça um levantamento para saber quem são os campesinos e se todos se enquadram no perfil da reforma agrária. Os proprietários rurais do país suspeitam que entre os sem-terra há aproveitadores, alguns incentivados pelo partido de oposição, o Colorado, que estaria tentando desestabilizar o governo Lugo. Outra acusação dos ruralistas assenta-se em indícios de que narcotraficantes estejam incentivando as invasões para se apropriarem das áreas para plantar maconha.

Para proteger as fazendas, os policiais precisam ter autorização da Justiça. O governo paraguaio proíbe que os proprietários paguem os policiais para fazer o serviço.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]