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Vários veículos da imprensa estrangeira divulgaram antes da hora legal projeções de resultados do primeiro turno da eleição presidencial francesa deste domingo, o que levou a Agence France-Presse (AFP) a transmitir a seus clientes, e não ao grande público, as pesquisas de grandes institutos.

Após este descumprimento, o Ministério Público de Paris anunciou uma investigação contra a AFP, dois veículos belgas, outro suíço, um site sediado na Nova Zelândia e um jornalista belga que publicou as estimativas na rede social Twitter.

A lei francesa impede a publicação de pesquisas ou de projeções no mesmo dia da eleição antes das 18h00 GMT (15h00 de Brasília), horário de fechamento dos colégios eleitorais nas grandes cidades.

A denúncia ante o Ministério Público foi apresentada pela Comissão de Pesquisas, cujo secretário, Jean-François Pillon, denunciou "atos delituosos".

Neste domingo à tarde, antes do fechamento das urnas nas grandes cidades, vários sites de diferentes veículos belgas, suíços e canadenses (como a Radiotelevisão Belga Francófona pública (RTBT), o jornal Le Soir, a Radiotelevisão Suíça (RTS), o site suíço 20minutes.ch, ou Rádio Canadá divulgaram estimativas dos resultados da votação com base em pesquisas francesas.

A AFP, utilizando suas próprias fontes, decidiu então publicar suas projeções, enviando apenas a seus clientes, meios de comunicação, um primeiro alerta às 16h46 anunciando o segundo turno entre François Hollande e Nicolas Sarkozy.

"A AFP é internacional e francesa, como imaginar que nossos clientes recebam de nossos competidores internacionais informações sobre as eleições francesas antes de serem informados pela AFP?", questionou o presidente da agência, Emmanuel Hoog, que afirmou que "fazer outra coisa não teria sentido no jornalismo".

"Hipocrisia"

"Nós anunciamos nossas regras com dois dias de antecedência, não descumprimos o embargo, mas quando este foi rompido, fizemos nosso dever, respeitando escrupulosamente nossas regras, especialmente o rigor e a confiabilidade", completou Hoog.

"A AFP foi extremamente clara ao rejeitar toda a hipocrisia no debate sobre a divulgação das pesquisas", reiterou.

Em uma nota a seus clientes, a AFP advertiu neste domingo que "a difusão destas informações ao grande público era responsabilidade única dos clientes", completando que não divulgaria "nenhuma informação sobre estimativas ao público em geral através de seus serviços de internet antes das 18h00 GMT".

Diversos veículos estrangeiros receberam as informações da AFP, mas a maior parte dos sites franceses respeitaram o embargo das 18h00 GMT.

Algumas redações, ouvidas pela AFP, declararam-se "surpresas" com a decisão da agência.

Cumprimentando a decisão da AFP, France Soir afirmou que era "hora de acabar com as regras rasteiras, que não têm nenhum sentido porque já não são respeitadas".

"A AFP informa seus clientes, os franceses se informam na Suíça e na Bélgica: uma lei acaba de explodir", publicou no Twitter o jornalista Pierre Haski, fundador do site de informação política rue89.

Para o chefe do jornal Libération, Nicolas Demorand, a decisão foi clara: "prefiro pagar por reportagens do que pagar multas", disse à AFP. A publicação de pesquisas antes das 18h00 GMT pode ser sancionada com uma multa de até 375.000 euros (cerca de 494.000 dólares).

Na última quarta-feira, no entanto, Demorand afirmou em seu jornal que não duvidaria em violar o embargo caso tivesse fontes confiáveis.

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