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Se pensarmos em Winston Churchill é inevitável associarmos sua imagem à de um buldogue com espírito bravo e desafiador. Já Tony Blair, que recentemente saiu do cargo de primeiro-ministro para figurar o papel de enviado de paz no Oriente Médio, nos leva a uma comparação não tão lisonjeira: um poodle que faz o que pode para agradar e garantir que seu dono, George Bush, aparente ter mais credibilidade perante um mundo que questiona o uso da força no Iraque e Afeganistão.

Gordon Brown, o novo e muito inteligente primeiro-ministro inglês, deixa pairar muitas dúvidas no ar: seria ele capaz de fazer as coisas de maneira diferente? A política externa britânica continuará sendo manchada com o azul, vermelho e branco da bandeira americana? A Grã-Bretanha vai continuar como comparsa no novo paradigma estratégico, uma guerra mundial contra o terrorismo que dizimou milhares de vidas inocentes, transformou o Reino Unido numa sociedade em alerta de segurança totalmente paranóica e acabou espremendo as liberdades civis neste processo? Ou será que poderemos nos ver novamente como uma entidade independente capaz oferecer um exemplo sábio e honesto ao mundo através da manutenção de uma cultura liberal e tolerante internamente?

Na opinião deste que vos escreve, as respostas para estas perguntas não serão de forma alguma dadas pelo morador do número 10 da Downing Street*, mas sim por algo mais fundamental: a Grã-Bretanha é uma dependência estratégica dos EUA, uma extensão da vontade política deste país, um 51.° estado norte-americano em todos os aspectos menos no nome.

Na vésperas da segunda guerra com o Iraque, Blair enganou o parlamento com alegações de que o Iraque possuiria a capacidade de lançar mísseis das bases localizadas na ilha de Chipre, no Mediterrâneo. Estas alegações foram repetidas pelos EUA na ONU. Na época foi apenas uma alegação sem sentido, mas que hoje nos leva a um problema óbvio: os americanos detém um poder supressor sobre a liberdade de manobra britânica.

No final da Segunda Guerra Mundial, a Grã-Bretanha foi forçada a aceitar duas exigências americanas que causaram sua queda e grande perda do seu poderio mundial: a liberdade de mercado e a livre conversibilidade de moeda do velho império. Desta forma, os britânicos perderam a coligação insular na tentativa de escapar da falência enquanto o dólar americano substituía a libra esterlina como a moeda de reserva mundial.

A hegemonia norte-americana sobre a Europa foi consolidada em 1949, com a assinatura do Tratado do Atlântico Norte, e a fraqueza britânica tornou-se muito clara após o fracasso na tentativa de reaver o Canal de Suez, em 1956. Ao saber desta tentativa, os norte-americanos impuseram um embargo no petróleo e orquestraram um ataque ao preço da libra esterlina. Os britânicos, conseqüentemente, abandonaram os aliados franceses e israelenses, e o primeiro-ministro na época, Anthony Éden, renunciou logo em seguida. Os franceses concluíram que os americanos continuariam a impedir a ação militar unilateral européia e, sob o comando do presidente de Gaulle, retirou paulatinamente suas tropas das estruturas de comando da OTAN enquanto criavam suas próprias ogivas e mísseis nucleares. Os britânicos tiveram uma conclusão totalmente diferente. Em 1958, eles suspenderam os esforços de obter auto-suficiência nuclear e decidiram confiar na tecnologia norte-americana de mísseis nucleares.

Até hoje, o suposto independente dissuasor (submarino) britânico (Trident) é alugado dos EUA e requer manutenção e peças sobressalentes americanas. Os britânicos poderiam lançá-lo sem a permissão dos EUA? Muitos governos já se esquivaram desta pergunta.

Você não precisa ser um cientista da NASA, com o perdão da expressão, para perceber que se a estratégia de sobrevivência de uma nação depende da boa vontade de outra, isso certamente irá gerar um padrão de dependência.

Os britânicos certamente recebem recompensas generosas de seu patrono americano: acordos de defesa, seja nos EUA seja no Oriente Médio, investimento estrangeiro recíproco e, ocasionalmente, suporte militar secreto, como no caso do conflito das Malvinas quando os EUA forneceram às forças do império britânico equipamentos de visão noturna, mísseis Sidewinder e dados de satélite. Só não espere que Brown seja muito diferente de seus antecessores – como um ex-chanceler do tesouro, ele sabe muito bem que não pode se dar esse luxo.

Tim Birch, Ph.D. em Ciências Políticas, é britânico e atualmente mora em São José dos Pinhais (PR).

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